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O “Dia Mundial da Água” foi pela primeira vez, formalmente proposto, na Agenda 21 da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992, realizada no Rio de Janeiro. Em Dezembro desse ano, a Assembleia Geral das Nações Unidas adoptou a resolução A/RES/47/193, pela qual 22 de março de cada ano foi declarado Dia Mundial da Água. O documento, considerado como “Declaração Universal dos Direitos da Água”, apresentava medidas, sugestões e informações para despertar a consciência ecológica da população e dos governantes.

O primeiro “Dia Mundial da Água” ocorreu em 1993. Desde então, a cada ano, muitos países o comemoram em todo o mundo, com uma grande variedade de eventos. Trata-se, pois, de um dia de observância anual da ONU, que destaca a enormíssima importância da água.
A “UN-Water” é o organizador do “Dia Mundial da Água”. Seleciona um tema para a comemoração de cada ano, em consonância com as diversas entidades da ONU, colocando o seu interesse num determinado foco. Como exemplos das temáticas de anos anteriores, todos eles de extrema importância e continuada actualidade, citamos: a relação da água com a Natureza, as mudanças climáticas, a energia, o desenvolvimento sustentável, o emprego, o desperdício hídrico, a segurança alimentar, a água para as cidades (respondendo ao desafio urbano), as águas transfronteiriças, o acesso universal à água limpa, saneamento e higiene, água e Cultura, água para a Saúde. Em 30 anos de celebração foram, assim, muitos e diversificados os focos de campanha, com uma relevante acção de educação e comunicação. Existe um arquivo de websites das campanhas anteriores do Dia Mundial da Água, que todos os interessados poderão consultar.

Nesta três décadas muitas foram as mensagens difundidas, procurando sensibilizar toda a população mundial através da divulgação de números e estatísticas absolutamente impressionantes. Recordemos algumas das mais impactantes:

– 70% da água doce é utilizada na agricultura

– 80% dos eflúvios não são tratados

– Somente 1% da água do nosso planeta é potável de fácil acesso

– Uma em cada 6 pessoas não tem acesso a água potável

– 187 crianças morrem em cada hora por falta de acesso a água potável

– Em 2025, 1,8 mil milhões de pessoas habitarão zonas de escassez hídrica

– Em 2030 a procura para o consumo de água potável crescerá cerca de 50%

Calcula-se que 97,5% da água da Terra é salgada, não sendo adequada ao nosso consumo directo. Dos 2,5% de água doce, a maior parte (69%) é de difícil acesso, estando concentrada nos glaciares; 30% são águas subterrâneas (armazenadas em aquíferos) e 1% está nos rios.
Há precisamente 25 anos (1998) a ONU consagrou o Dia Mundial da água à “Água Subterrânea – O Recurso Invisível”. A ONU identificou lacunas na gestão de águas subterrâneas que têm enormes implicações para o desenvolvimento sustentável.

A Sociedade Portuguesa de Hidrologia Médica (SPHM), fundada em 1952, dedica especial atenção a estas águas subterrâneas, particularmente as que são classificadas como “águas minerais naturais”. São águas de circulação profunda, de constituição físico-química muito estável (praticamente constante), que demonstram efeitos benéficos para a Saúde.

Estes efeitos, primitivamente verificados pelo uso empírico destas águas em locais de emergência ou captação, nomeadamente nas estâncias e estabelecimentos termais, são hoje já baseados em estudos científicos de qualidade, que explicam os seus mecanismos de actuação. A SPHM tem por objectivo promover o conhecimento científico das propriedades da água, tendo em vista a sua aplicação médica. Para tal procura desenvolver a investigação científica e clínica nesta área e divulgar todo o conhecimento adquirido, através da realização de congressos e reuniões científicas, acções pedagógicas (nomeadamente através de cooperação com Universidades, Institutos Politécnicos e outras entidades de Ensino), publicações, divulgações nos media.

Tem igualmente funções de consultoria junto de entidades públicas, destacando-se a sua participação, estabelecida pelo Dec. Lei nº 142/2004, na Comissão de Avaliação Técnica da Direcção Geral de Saúde, constituída para este sector.
Para além dos aspectos científicos e organizativos institucionais, desde há vários anos que a SPHM vem desenvolvendo igualmente acções de sensibilização da população, particularmente aquando da realização dos seus congressos, em colaboração com outras entidades, de que se destaca a Associação das Termas de Portugal e os concessionários, entre os quais se contam muitas autarquias.

Portugal é um país com mais de 400 pontos de emergência de água mineral identificados. Possui uma grande riqueza e variedade em águas minerais naturais. Tem estâncias termais de grande qualidade. Alia á sua tradição termal uma actualidade de renovação desta actividade. Novas abordagens, sustentadas em maior base científica, permitiram uma maior consciencialização da importância e valor da Medicina Termal.

No Dia Mundial da Água a SPHM transmite a mesma mensagem da ONU, convidando as pessoas a repensarem todas as suas atitudes em relação ao uso e consumo de água, assumindo o compromisso de mudanças na sua utilização. Lembra também o enorme interesse para a Saúde das termas portuguesas, que urge defender e valorizar.

Pedro Cantista – Médico, Professor Universitário, Presidente da Sociedade Portuguesa de Hidrologia Médica (SPHM)