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A freguesia de Aradas, localizada no distrito de Aveiro, destaca-se no panorama nacional pela sua veia empreendera e pela sua capacidade de dinamizar projetos singulares muito pertinentes para a comunidade. Em entrevista à Mais Magazine, Catarina Barreto, Presidente da Junta de Freguesia de Aradas, falou sobre os projetos que tem levado a cabo na freguesia.

Desde que assumiu o cargo de presidente de junta de Aradas, quais os principais objetivos e ambições para Aradas?

Em 2017, quando fui eleita, a Freguesia de Aradas apresentava graves e sérias deficiências, quer ao nível das infraestruturas de saúde, escolares, culturais, bem como uma rede viária em muito mau estado e a necessitar de uma intervenção profunda. Assim, os principais objetivos foram a requalificação da Unidade e Saúde Familiar, o primeiro a ser concretizado, das Escolas Básicas, dotando-as de excelentes condições quer a níveis estruturais, quer a níveis tecnológicos, processo ainda em curso, simultaneamente como um longo trabalho desenvolvido na requalificação na rede viária da Freguesia. Aradas, apresentava ainda uma enorme carência na oferta cultural, no apoio ao movimento associativo, na disponibilização de serviços de proximidade e de bem-estar de apoio à nossa população.

Foi então, que em março de 2018, iniciamos os Projetos ARADAS +, que englobam valências tão vastas e tão necessárias ao bem-estar da Comunidade, como é o caso do Projeto ARA-DAS + Saudável, que contempla aulas de fisioterapia e ginástica gratuitas, bem como o essencial cuidado à saúde mental, com a realização frequente de workshops e debates a apelar a temas sensíveis, assim como consultas de psicologia gratuitas a toda a comunidade Aradense, colmatando a falta de resposta do SNS. Os Projetos ARADAS + contemplam ainda atividades intergeracionais, visando promover o convívio salutar entre as gerações, como é exemplo os passeios intergeracionais. Não posso deixar de salientar a componente solidária, no âmbito dos Projetos ARADAS +. O Projeto ARADAS + Solidária, é de tal forma vasto e denso, que abarca atividades tão diferentes que vão desde a comparticipação de despesas de farmácia, o apoio às Famílias mais carenciadas da Freguesia, a disponibilização de transporte gratuito para consultas e /ou tratamentos médicos, até ao apoio à Ucrânia, integrando a primeira Caravana Humanitária, disponibilizando uma carrinha de nove lugares para fazer chegar medicamento à fronteira da Ucrânia, em finais de fevereiro de 2022, ou a recolha de sangue para o Instituto Português de Sangue e Transplantação, a parceria com a Liga Portuguesa contra o Cancro, com a Cruz Vermelha Portuguesa, com o apoio à integração da comunidade imigrante e muitas outras iniciativas que vamos desenvolvendo. A freguesia de Aradas destaca-se em Portugal pela sua capacidade empreendedora de realizar um vasto leque de iniciativas de enorme relevo social e cultural. Exemplo disso mesmo, é a recente iniciativa de recolha de brinquedos usados para distribuir pelas cadeias da região para que os presos possam ter algo para oferecer aos seus filhos neste natal. Neste sentido, fale-nos sobre este projeto pioneiro em Portugal e a sua importância para a comunidade. Este projeto pioneiro em Portugal que estamos a desenvolver com o Estabelecimento Prisional de Aveiro, denominado “Cuidar pelo Amor”, irá garantir a todos os Reclusos do Estabelecimento, que nas visitas natalícias, possuam uma prenda para entregar aos seus filhos (crianças até aos 12 anos de idade).

É nosso entendimento que, reforçando este laço de Amor, poderemos ajudar na reintegração dos pais, na definição de objetivos positivos por parte dos reclusos, bem como no cuidado das crianças e jovens, muitas vezes já vítimas do estigma social, proporcionando-lhes um momento especial e um reforço dos laços afetivos. O projeto contemplará ainda a atribuição a cada Recluso de uma pequena lembrança de Natal, que será efetuada pessoalmente de cela em cela, visando humanizar os que muitas vezes são esquecidos pela sociedade e que maioritariamente são vítimas deles próprios, promovendo assim o princípio da dignidade da pessoa humana e acreditando que todos merecem um Natal mais feliz.

Catarina Barreto, Presidente da Junta de Freguesia de Aradas

Paralelamente, no âmbito das mulheres oncológicas, Aradas tem prestado uma ajuda primordial para que estas mulheres possam enfrentar a doença. Que projetos têm sido desenvolvidos neste âmbito?

No âmbito da nossa parceria com a Liga Portuguesa contra o Cancro – Região Centro e Núcleo de Aveiro, temos procurado colmatar as dificuldades que sobretudo as mulheres, vítimas de cancro da mama enfrentam. Durante todos os meses de outubro, aderimos à campanha do outubro Rosa e juntamente com o nosso Grupo de Voluntárias, produzimos adereços de apoio oncológico, privilegiando a reutilização de materiais usados, adaptando-os sempre que possível a uma nova vida No ano passado, entregamos na Liga Portuguesa contra o Cancro – Região Centro, 1500 “Almofadas Coração” que se destinam a proporcionar conforto às mulheres e auxiliar na recuperação de uma Cirurgia de Mastectomia. Este ano, a opção foi a produção de sacos de transporte de drenos e de turbantes oncológicos, visando contribuir para o bem-estar e reforço da autoestima das mulheres vítimas da doença. Paralelamente a estas grandes iniciativas, promovemos anualmente uma caminhada solidária.

Durante o ano passado, Aradas teve um notável crescimento, o que demonstra não apenas o sucesso das medidas implantadas pelo seu executivo, como também é um excelente indicar da boa qualidade de vida dos seus habitantes. Na sua ótica, por que razão Aradas é um bom local para viver e trabalhar?

Aradas assume-se como uma Freguesia apelativa para viver e trabalhar, desde logo pela sua localização geográfica estratégica, inserida na malha urbana de Aveiro, mas com grande possibilidade de crescimento sustentável e organizado. Fatores também determinantes para a escolha da Freguesia atualmente, prende-se com o referido no início da entrevista, a profunda requalificação da rede viária, a unidade e saúde familiar, as nossas escolas e toda a oferta de ensino que a comunidade consegue atualmente proporcionar, com as respostas de qualidade na área de formação musical, desportiva e cultural, certamente fator também distintivo. Acresce a tudo isto, uma vasta e completa panóplia de serviços públicos de proximidade, que permite assegurar uma boa qualidade de vida e tornar-nos ainda mais apelativos, o que naturalmente se reflete nos índices de crescimento que a Freguesia tem apresentado, e que os censos 2021 refletem.

O crescimento sustentável registado em Aradas, tem permitido atrair investimento estrangeiro de qualidade. Qual a importância a entrada do capital estrangeiro em Aradas e de que forma pode contribuir para promoção e valorização do território?

A Freguesia de Aradas tem possuído a capacidade de atrair investimento privado que tem contribuído de forma significativa para a promoção e valorização do nosso Território. Salientamos que, foi a Freguesia escolhida para a realização de um dos maiores investimentos privados na área de comércio, possibilitando que o maior Centro Comercial da Região de Aveiro, se fixasse em Aradas.

Fomos ainda a Freguesia escolhida para a implantação de um projeto de edifícios multifamiliares a custos controlados, com a edificação de 280 apartamentos, que assumem uma importância crucial na dinâmica da cidade, atento à falta de oferta de habitação a custos acessíveis, realçando que este projeto lançado em 2021, foi o primeiro em Portugal a ser realizado, depois de um interregno de dez anos.

Desde que chegou a presidência de junta de Aradas que se tem assumido como uma defensora dos direitos das mulheres e da lei da paridade. Ainda assim, são poucas as mulheres que ocupam cargos de relevo, tanto em Juntas de Freguesia, como em Câmaras Municipais em Portugal, sendo que em vários municípios nunca houve uma mulher na presidência. O que consideras que falta ser feito para que seja reconhecida à mulher os mesmo direitos que o homem, no seu quotidiano e, consequentemente, na política?

A questão da Paridade, é um tema que tenho acompanhado e no qual me tenho empenhado na expectativa de assistir a alterações profundas neste caminho, que ainda é muito longo. A atual Lei já consagra uma percentagem de 40% de elementos de cada género, bem como a necessidade de respeito da lei da paridade nos órgãos executivos das Freguesias. Contudo, é meu entendimento, que será necessário adotar medidas de sensibilização dos eleitos locais, bem como dos decisores políticos, no sentido da valorização do papel da mulher e com o intuito de fomentar o interesse e o envolvimento de mais mulheres na vida política local. Considero ainda que todos os atores da política local, deveríamos equacionar a adoção de medidas que permitissem a conciliação entre a vida política e a vida familiar, como, por exemplo, a redefinição dos horários das reuniões e das assembleias, permitindo uma perfeita articulação entre a vida política e a vida familiar. Acresce a tudo isto, como grande fator dissuasor, o grau de exposição pública que um cargo de liderança acarreta, bastando atentar no conteúdo das críticas que vulgarmente proliferam nas redes sociais às lideranças femininas, tendencialmente focadas em aspetos físicos ou de indumentária, o que não se verifica nas críticas às lideranças masculinas. Há estudos científicos, que indicam como uma das causas em Portugal para esta situação, é que o “voto de confiança” ainda continua a ser concedido por parte da “elite masculina” e bem como, que no interior dos partidos políticos existem círculos e rituais informais, vulgarmente denominados por “lóbis” que continuam a ser maioritariamente dominados por homens e de difícil acesso às mulheres. Estou certa, que a grande maioria dos portugueses não gostaria que, em 2025, os números de liderança no feminino se mantivessem como temos atualmente. Falamos de apenas 11% de Juntas presididas por mulheres e 9% de Câmaras presididas por mulheres.

Em Portugal, nas 3091 freguesas mais de 2000 que nunca tiveram liderança feminina, de igual forma nos 308 municípios do País, mais de duzentos nunca em momento algum tiveram uma Mulher como Presidente de Câmara. Penso, que poderemos todos dar um primeiro passo simples e imediato, que é refletir se a freguesia a que pertence alguma vez foi presidida por uma Mu-her. Serão as mulheres menos capazes? Claro que não! Tal como na vida, é uma questão de criarmos oportunidade para acontecer e o paradigma político português, sobretudo na liderança das autarquias locais, começar a inverter-se.

A agenda cultural tem sido uma prioridade no seu executivo, garantindo um crescimento também cultu-ralmente. Quais os principais projetos culturais que Aradas irá acolher?

Aradas tem conhecido um desenvolvimento notável do ponto de vista cultural. Foi uma aposta do executivo em 2017, do apoio ao movimento associativo e a criação do Festival ARADAS +. O Festival constitui o expoente máximo da mostra do trabalho associativo desenvolvido durante o ano, envolvendo aproximadamente 1500 pessoas que durante quatro dias asseguram toda a programação e animação do evento, realizado exclusivamente com as Associações e Instituições relacionadas com a Freguesia, acolhe no certame um festival de Tunas Universitárias, um festival de Rancho folclórico, um festival de bandas filarmónicas, um desfile de marchas populares, de scooters e motas antigas, entre tantas e tantas outras atividades com diferentes dinâmicas que preenchem o cartaz e que envolvem toda a comunidade. No âmbito cultural, realço que uma das maiores batalhas que travámos foi a requalificação do Centro Cívico de Aradas, que se encontrava encerrado há mais de 10 anos, por muitos vaticinada a sua demolição e com o empenho e a persistência da Junta de Freguesia e da Câmara Municipal, irá brevemente ser inaugurado, dotado de condições estruturais e técnicas que permitirão acolher no edifício uma panóplia diversificada de espetáculos e eventos, que criará sinergias com as instalações do antigo colégio Dr. Alberto Souto, cuja requalificação se prevê a médio prazo, destinando-se o mesmo a acolher entre outras valências, um polo de inovação cultural.

Por último e não menos importante, refiro que a cidade de Aveiro, será em 2024 a primeira Capital Portuguesa da Cultura e no desenvolvimento da cooperação entre a Câmara Municipal de Aveiro, a Junta de Freguesia, as Associações e Coletividades, iremos durante o próximo ano, apresentar um vasto e rico programa cultural.