Estivemos com Bruno Carvalho, diretor da D-Orbit Portugal – uma empresa com um pé no futuro e outro no espaço. A D-Orbit está na vanguarda da inovação e, ao mesmo tempo, preocupa-se com a sustentabilidade do ambiente espacial.
Fundada em 2011, na Itália, a D-Orbit é líder de mercado no setor da logística espacial e serviços de transporte com um histórico de tecnologias comprovadas no espaço e missões bem-sucedidas. Fale-nos um pouco mais deste projeto.
É necessário colocar infraestrutura no espaço e é necessário fazê-lo de forma sustentável. Tal como abrimos a torneira e esperamos que saia água, ou ligamos o interruptor e esperamos que a luz se acenda, também usamos infraestrutura espacial de uma forma natural, assumindo serviços como garantidos. Veja-se, como exemplo, como funcionam as aplicações de serviço de entrega de comida, sem telecomunicações, sem serviços de navegação, sem satélites seria impossível. Hoje é possível aceder a dados de observação da Terra de altíssima qualidade, que possibilitam aplicações que há uma década não julgávamos possíveis. Tudo graças aos satélites e a toda a infraestrutura que é colocada no espaço. A D-Orbit tem como principal objetivo ser o operador logístico que possibilita que todo este potencial seja desenvolvido. A D-Orbit foi a primeira empresa mundial a realizar o serviço de “táxi” de pequenos satélites, tendo lançado a sua primeira missão em setembro de 2020, a bordo de um lançador Vega, e o seu quinto veículo no início de abril de 2022, a bordo de um Falcon 9 da SpaceX.
A D-Orbit desenvolve sistemas de propulsão, especialmente focados para a remoção de satélites de órbita. Fale-nos um pouco mais sobre estes dispositivos e de que forma a D-Orbit está a contribuir para a redução do lixo espacial, protegendo todo o equipamento operacional em órbita?
O sistema de propulsão que refere preenche um vazio que existia em 2011 e que advém da necessidade de utilizarmos o Espaço de forma sustentável, enquanto nos permitiu afinar os componentes básicos que foram, entretanto, enquadrados nos nossos veículos de transporte espacial (e.g sistemas de controlo e navegação, sistema de propulsão, etc.). Claro que estes dispositivos continuam a ser necessários, estamos inclusivamente a trabalhar para entregar versões adaptadas a equipamentos institucionais (e.g. da Agência Espacial Europeia). Estes dispositivos continuam a ter um plano de negócios viável por si só, pois mais cedo do que mais tarde será necessário regular a utilização do espaço e forçar a limpeza das órbitas, e esta é uma solução muito eficiente.
Em Portugal, a D-Orbit está presente desde 2014, dedicando-se ao desenvolvimento de todo o software necessário para as suas missões e ao desenvolvimento de soluções. Para fazer face ao mercado emergente e altamente exigente. Fale-nos um pouco mais sobre o trabalho realizado pela D-Orbit Portugal e quais as soluções já desenvolvidas?
A D-Orbit em Portugal desenvolveu um sistema de controlo distribuído, que corre na nuvem, e que nos permite operar os nossos satélites a partir de qualquer ponto do globo com acesso à Internet. Podemos operar os nossos veículos espaciais através de quaisquer dispositivos que corram um browser. Isto permitiu minimizar os investimentos necessários à nossa operação e permitiu que as equipas se concentrassem no valor acrescentado que estamos a desenvolver, nas missões e nas operações. Este sistema está disponível para terceiros que o queiram utilizar, num modelo de subscrição. Já conseguimos garantir uma cobertura global de comunicações com satélites, através de parceiros. Além de desenvolvermos o software, também temos operadores de satélite em Portugal, integrados nas nossas equipas internacionais, que garantem a operação da nossa frota em permanência. Estamos aliás a recrutar para a equipa de desenvolvimento e de operação. Também estamos a desenvolver componentes e aplicações específicas para melhorar a nossa eficiência e sustentar o crescimento da nossa frota.
Sendo a D-Orbit uma empresa de base tecnológica, a aposta nas mais recentes inovações é imprescindível. De que forma a D-Orbit tem procurado manter-se na vanguarda da inovação, apresentando ao mercado uma reposta eficaz aos desafios da indústria?
Este é o trabalho mais importante de qualquer empresa que quer evoluir, ser líder no seu sector. Para a D-Orbit, como operador logístico, são importantes os serviços que poderão ser prestados à infraestrutura espacial. Serviços de manutenção ou reparação, de abastecimento de combustível, serviços de “desempanagem” ou “reboque”, serviços de limpeza. O que acontece hoje no espaço, quando um satélite se avaria, é equivalente a deixamos um carro avariado na faixa da esquerda de uma autoestrada. A D-Orbit está a trabalhar para ajudar os satélites a encostar à berma ou a sair da autoestrada sozinhos, e a desenvolver veículos de reboque que façam reparações e outros serviços. Estamos em crer que o paradigma do fabrico de equipamento em Terra para ser lançado no espaço irá mudar depressa. Estamos a trabalhar para a economia circular do espaço. A D-Orbit tem uma visão clara do que é operar no espaço e dos benefícios que o espaço oferece à Terra.
Quais as bandeiras que continuarão a guiar a D-Orbit no futuro? Quais os objetivos/projetos em cima da mesa?
A D-Orbit foi a primeira empresa mundial dedicada ao sector espacial que recebeu a certificação B-Corp, confirmando o nosso compromisso na promoção de modelos de negócio lucrativos, mas sustentáveis, amigos do ambiente e com comprovados benefícios sociais. Desta “bandeira” a D-Orbit não abdicará, pois, sem cuidar do meio ambiente e da comunidade em que se enquadra e desenvolve a sua atividade, dificilmente será uma empresa sustentável daqui a trinta anos. Somos pioneiros na economia circular no espaço! Ainda durante esta década estaremos a trabalhar para os desafios logísticos na criação e manutenção de infraestrutura em órbita lunar, seguindo-se nas décadas seguintes o suporte a asteróides e a Marte.