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Os herdeiros de Manuel Ferreira Patrício, destacado intelectual português e antigo Reitor da Universidade de Évora, doaram o espólio documental e bibliográfico do professor à Universidade de Évora. Representados por Maria da Conceição Ferreira Patrício Félix, os herdeiros reconheceram a importância do legado do Professor e manifestaram o desejo de tornar as suas coleções acessíveis ao maior número de pessoas possível. A cerimónia de assinatura do protocolo de doação realizou-se esta quinta-feira, dia 12 de setembro, na Sala dos Docentes do Colégio do Espírito Santo.

Segundo a Reitora da Universidade de Évora, Hermínia Vasconcelos Vilar, este é um passo importante para preservar a memória de um professor e intelectual que influenciou muitas gerações de estudantes e colegas “A doação deste espólio é uma forma de garantir que o legado do Professor Patrício continue vivo. O facto de tantas pessoas ainda se lembrarem dele e dizerem ‘Eu fui aluno do professor Patrício’ é um dos maiores elogios que um professor pode receber”, afirmou a Reitora. Hermínia Vasconcelos Vilar destacou, ainda, que este acervo permitirá não só preservar a memória do professor, mas também manter vivo o seu pensamento, contribuindo para a formação de futuras gerações de estudantes.

José Luís Patrício, também presente na cerimónia, recordou personalidades como Eduardo Lourenço e Vítor Trindade, contemporâneos de Manuel Ferreira Patrício, que também tiveram papel relevante na refundação da Universidade de Évora no século XX. Segundo José Luís Patrício, o professor Manuel Ferreira Patrício sempre foi uma figura que refletia sobre o passado e o futuro da instituição, estabelecendo paralelos entre diferentes pensamentos e métodos pedagógicos.

Luís Sebastião, professor da Universidade de Évora e diretor do Centro de Investigação em Educação e Psicologia que tem a responsabilidade de tratar documentalmente o acervo, recordou ser ex-aluno de Manuel Ferreira Patrício, mencionando a satisfação que o professor teria com a doação do seu espólio. O professor e diretor lembrou, emocionado, um episódio em que Patrício, em Montargil, adaptou um espaço de serração para uma biblioteca, descrevendo-a como um “paraíso”. Para Luís Sebastião, a biblioteca é um símbolo da vida intelectual do professor, caracterizada pela reflexão e pelo pensamento português e ibérico.

Ao encerrar a cerimónia a Reitora  destacou que “as instituições são feitas da memória de quem as construiu, e enquanto nos lembrarmos do que o professor Manuel Ferreira Patrício fez e representou, ele continuará a existir através das suas obras e ideias” e assegurou que “a Universidade de Évora se compromete a zelar pelo espólio do professor, garantindo que será utilizado e estudado pelas gerações vindouras”.

A doação marca um momento significativo para a Universidade de Évora, que ganha um valioso recurso para aprofundar o estudo e a memória de um dos seus mais respeitados intelectuais. O espólio inclui livros, separatas, brochuras, revistas científicas, teses e outros trabalhos de grande relevância para o pensamento filosófico e pedagógico, em especial no contexto português. A doação visa preservar e disseminar o conhecimento deixado por Manuel Ferreira Patrício, contribuindo para o enriquecimento do património intelectual da Universidade de Évora e da sociedade em geral.

Esta iniciativa reforça o compromisso da Universidade de Évora com a preservação e valorização do legado de uma das suas figuras mais emblemáticas, promovendo o acesso ao conhecimento e incentivando novas gerações de estudiosos a continuar o trabalho de investigação nas áreas de filosofia e pedagogia.

Manuel Ferreira Patrício, nascido em Montargil a 23 de setembro de 1938 e falecido em Elvas a 11 de setembro de 2021, foi uma figura central na história recente da Universidade de Évora, onde desempenhou um papel fundamental desde a refundação da instituição até à sua aposentação como Reitor. A sua carreira académica e o seu pensamento filosófico e pedagógico deixaram uma marca profunda na educação e na filosofia portuguesa.

Licenciado em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1966), doutorado em Ciências da Educação, especialidade Filosofia da Educação (1984) e agregado em Teoria da Educação e em Axiologia Educacional pela Universidade de Évora (1992), Manuel Ferreira Patrício foi Reitor da Universidade de Évora entre 2002 e 2006, instituição onde foi docente entre 1976 e 2006, foi presidente do Conselho do Departamento de Pedagogia e Educação (1976-1993), do Conselho Pedagógico (1990-1993) e do Conselho Diretivo (área Departamental de Ciências Humanas e Sociais, entre 1991 e 1993), coordenador da secção de Filosofia e Pedagogia e diretor da comissão do Curso de Filosofia (1996-2002).

O pedagogo foi, ainda, diretor-geral do Departamento do Ensino Superior do Ministério da Educação (1993-1996), presidente da Comissão de Planeamento da Região Sul (1978-1979), do Instituto de Inovação Educacional do Ministério da Educação (1987-1989) e do   Conselho Científico da Escola Superior da Educação de Beja (1990-1993). Da extensa galeria de distinções que reconheceram o mérito do seu trabalho, constam a outorga do Doutoramento Honoris Causa pela Universidade do Porto, em 2002, a Medalha de Mérito Municipal, Classe de Ouro, pela Câmara Municipal de Évora (2006) e a Grã-cruz da Ordem do Infante D. Henrique, em 2012.

É autor de vasta obra nas áreas da Pedagogia, da Filosofia, da Filosofia da Educação, da Cultura e da Música. Fundou e dirigiu as revistas “Inovação” (1988-1999), “Escola Cultural” (1992-1994), e “Revué” (2004-2005) e dirigiu as revistas “Noesis” e “Educação e Liberdade” (1989-1990). 

Em abril de 1983, com um conjunto de estudantes da universidade, fundou o CORUÉ – Coro da Universidade de Évora. Foi seu diretor artístico/maestro até janeiro de 1987, altura em que foi nomeado para presidir ao Instituto de Inovação Educacional (Lisboa).