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A “Casa da Inquisição – Uma Experiência Sensorial”, inaugurada a 16 de março do corrente ano, surge na necessidade de complementar a oferta turística no concelho de Castelo de Vide, neste que é um mercado forte no que diz respeito à herança judaica. A autenticidade de uma Sinagoga do século XIV, juntamente com uma Judiaria Medieval que tem como ponto de desenvolvimento urbanístico a quinhentista Fonte da Vila, carecia de uma explicação sobre a ausência de judeus nesta localidade, bem como no resto do país. A Casa da Inquisição vem de uma forma bastante realista retratar este período sombrio da História de Portugal, que durou 285 anos.

Este espaço museológico encontra–se instalado num antigo palacete do século XVII na Rua Nova, numa das ruas de confluência da Fonte da Vila, e recria as dependências de um tribunal do Santo Ofício, sendo que em Portu-gal existiram três: Lisboa, Coimbra e Évora; mais tarde surgiu o de Goa, na Índia. As cerca de 30 divisões deste fa-buloso imóvel, que pertenceu a uma fa-mília de cristãos-novos, distribuem-se pelos seus três pisos, e, neste projeto inovador é possível perceber todos os passos da Inquisição em Portugal, des-de o cárcere até ao auto de fé.

O edifício mantém a traça original, sendo que as salas se encontram cenografadas com objetos de época, com peças resultantes de escavações arqueológicas e também com figuras hiper-realistas construídas a partir da fisionomia de pessoas de Castelo de Vide, resultado dos trabalhos das empresas Origami e Passado Vivo. As telas do século XVIII da Anunciação e Assunção de Nossa Senhora, bem como o “Armário” de culto judaico, foram conservados e restaurados por Alexandre Maniés, tendo a abóbada da capela ficado a cargo de “Mural da História”. Os painéis com a informação museológica são bilingues, em português e inglês, sendo que os treze marcadores com a aplicação de realidade aumentada permitem complementaridade de informação.

A Casa da Inquisição apresenta conteúdos museológicos e museográficos dos séculos XVI e XIX, com cenários repletos de peças arqueológicas e objetos de época, contudo as novas tecnologias são sem dúvida uma mais valia para este espaço. O guião do projeto de museologia é da autoria do conceituado investigador Jorge Martins, tendo sido a museografia desenvolvida pela empresa “P06 Studio”.

Quem chega à entrada da Casa do Morgado, como é vulgarmente conhecido o edifício que alberga o espaço museológico da Casa da Inquisição, não espera certamente encontrar um local tão grandioso com conteúdos desta natureza. Esta casa labiríntica e misteriosa conta a história da Inquisição Portuguesa, que funcionava com vários regimentos que regulamentavam a sua atuação; a criação dos conteúdos das salas retrata um Palácio do Santo Ofício baseado no Regimento de 1640. Em Castelo de Vide mais de duzentas pessoas foram presas por este tribunal eclesiástico, sendo que doze delas acabaram por ser queimadas na fogueira, todas por judaísmo. Para melhor contar esta história, temos a anfitriã Guiomar Mendes, uma das doze castelo-videnses condenadas à fogueira. Guiomar Mendes nasceu em Castelo de Vide, mais tarde foi viver para Lisboa, onde foi presa a 28 de novembro de 1662, recebeu o castigo máximo no auto de fé de 17 de agosto de 1664, tendo sido queimada na fogueira no Terreiro do Paço.

Visitar a Casa da Inquisição é uma experiência única, tendo sido já contabilizadas cerca de 6000 entradas em apenas quatro meses. Os visitantes que confessaram o sentimento de uma experiência verdadeiramente marcante. Este projeto contou com o financiamento do Turismo de Portugal, do Programa Regional Alentejo 2020, bem como do apoio da Embaixada de Israel, em Portugal, afirmando-se com um espaço único na Península Ibérica.