Falar várias línguas foi sempre olhado como uma mais-valia para quem de-senvolvera essa competência e para quem, não o podendo fazer, compreendia o seu valor. Por isso, desde cedo a aprendizagem de línguas estrangeiras foi introduzida como componente dos curricula. Isso não é uma novidade. O que mudou então? Desde logo multiplicaram-se as interações entre povos das mais diversas partes do mundo e uma parte muito significativa da nossa economia passou a basear-se na informação, logo, no uso de uma língua ou pelo menos de uma linguagem. Durante algum tempo, criou-se a ideia de que, então, bastaria que todos falassem uma língua comum e assim nos entenderíamos e não me refiro ao Esperanto, mas sim àquela língua que se tornou omnipresente e da qual (declaração de interesses) sou professor. Tecnicamente seria possível, mas como seria empobrecedor e redutor para toda a Humanidade. A globalização trouxe também a necessidade de falarmos várias línguas. E claro, mudou a forma como olhamos para as línguas. Não é mais aceitável que se imponham as línguas dos mais poderosos e que desapareçam as línguas dos mais frágeis. Finalmente, compreendemos como isso nos reduz a todas e a todos.
Nós vemos o mundo através da língua, ou melhor dizendo, das línguas que falamos. Quando pensamos, quando falamos, quando escrevemos, estamos a usar uma língua. Se vemos o mundo de acordo com a língua que falamos, só pode haver vantagem em falar várias línguas e ver o mundo de várias formas .No âmbito das funções que desempenho, tenho-me deslocado a vários países onde existem escolas portuguesas ou ensino do Português. Que emoção ver em Timor-Leste milhares de crianças e jovens a aprender Português e em Português, num país que luta por manter a nossa língua comum como uma das duas línguas oficiais, quando lhe seria talvez mais fácil optar por outra. E ainda por ocasião das comemorações do 10 de Junho, o prazer de conversar com alunas e alunos que, em Genebra, no fim de uma semana de aulas, ficam na escola mais duas horas a aprender Português. Elas/es falam Francês, Alemão e Inglês, mas querem, verdadeiramente, querem também falar bem Português. Elas/es compreendem o valor de falar várias línguas e se o peso da herança cultural é, e ainda bem, muito importante nessa escolha, não é só essa a razão. Sabem que aprender mais uma língua é mais uma oportunidade. Oportunidade de trabalho, seguramente, mas oportunidade cultural de acederem a mais conhecimento. Essa é a lição das crianças e dos jovens timorenses e também daqueles jovens luso-descendentes. Saibamos aprender com elas/es, ensinando Português, apoiando mais o Mirandês, ensinando línguas estrangeiras e, sobretudo, demonstrando que as línguas nos permitem ver a realidade da forma multifacetada que realmente é.
António Leite,
Secretário de Estado da Educação