Começou com a criação de gado, mas hoje é conhecida pela produção de vinhos de elevada qualidade. Na Herdade Papa Leite, tudo é pensado ao pormenor, desde as vinhas até ao engarrafamento.
Filipe Barreiros esteve ligado ao setor bancário durante muitos anos, mas, a certa altura, apercebeu-se de uma paixão que já estava enraizada na sua família: os vinhos. Além de os seus pais terem sido proprietários de uma quinta na zona do Dão, quando era jovem também costu-mava visitar amigos com herdades no Alentejo. O seu interesse pela indústria vitivinícola foi crescendo gradualmente e, em 2000, surgiu a oportunidade de adquirir uma propriedade no Alentejo – a Herdade Papa Leite.
Tudo começou com a criação da já existente, ainda que limitada, raça de vacas alentejanas, tendo depois introduzido a raça Aberdeen-Angus. Mais tarde, Filipe Barreiros decidiu apostar na produção de vinhos. “Eu sou um grande apreciador de vinhos brancos e comecei a perceber que, em Portugal, não existia nenhum branco que eu adorasse”, conta. Por isso, começou por fazer vinhos brancos e, posteriormente, avançou para os tintos.
Após a plantação das vinhas, o primeiro grande avanço da propriedade foi a construção de uma adega própria, visto que não fazia sentido cultivar uvas sem dispor de uma estrutura adequada para o processo de vinificação. Filipe Barreiros considera esse um passo fundamental, pois “sem uma adega é impossível controlar totalmente a qualidade e o momento ideal da vindima”. Como ele próprio explica, utilizar adegas de terceiros implica enfrentar atrasos ou limitações de disponibilidade, o que pode comprometer a maturação perfeita das uvas. Além disso, ter uma adega permite, por exemplo, realizar análises durante a fermentação e controlar as barricas onde estagiam os vinhos, o que assegura o acompanhamento de todo o processo com precisão, garantindo maior controlo e flexibilidade.
Atualmente, a herdade, que se estende por 12 hectares de vinha divididos entre seis castas brancas e seis castas tintas, é reconhecida pela produção de vinhos de elevada qualidade, resultado de uma criteriosa seleção. Para os vinhos brancos, as castas predominantes são Chenin Blanc, Viognier e Moscatel. Já nos tintos, destacam-se Merlot, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Syrah e, claro, a típica alentejana Alicante Bouschet. Esta escolha foi fortemente influenciada pelas viagens de Filipe Barreiros, onde adquiriu um vasto conhecimento sobre o que se faz além-fronteiras. “O conjunto das nossas castas faz com que os nossos vinhos sejam bastante diferentes dos demais que são produzidos em Portugal”, afirma.
Outro fator distintivo são os rótulos, até porque “quando olhamos para a prateleira de uma garrafeira, a primeira coisa em que reparamos são os rótulos”. Inspirado por ideias que viu durante as suas viagens aos Estados Unidos, e com o apoio da sua esposa, começou a pensar em rótulos que realmente chamassem a atenção e contassem histórias. Esse foi o seu principal objetivo. Para concretizá-lo, contou com a ajuda de um artista alterense.
Mais recentemente, decidiu começar a apostar no enoturismo, oferecendo um pequeno alojamento local situado no centro da vila de Alter do Chão. Lá, os visitantes podem não só pernoitar, mas também passear pelas vinhas, visitar a adega, conhecer a gastronomia local, entre outras experiências.
Reconhecendo a importância das pessoas, valoriza o empenho da sua equipa ao longo dos anos. “São pessoas qualificadas e, acima de tudo, muito dedicadas”, revela, sublinhando a importância da formação contínua para garantir uma constante evolução.
Quanto ao futuro, a aposta será no aprimoramento da qualidade e não na quantidade. Além disso, alerta para a necessidade de eventualmente começar a aumentar os preços, de acordo com a elevada qualidade dos produtos vinícolas portugueses.