A capacidade demonstrada pelas empresas que representam o Aftermarket em Portugal, num período de grandes transformações em todo o setor automóvel, teve particular importância por proporcionar equilíbrios funcionais e de forma transversal aos agentes que operam na área da manutenção e reparação automóvel, tornando-se, pelo facto, determinante para o êxito verificado no pós-venda em Portugal nos últimos anos.
Não obstante, se tomarmos como base a evolução a que se assistiu no segmento do pós-venda, há que ter em conta tendências que deverão acentuar-se de forma significativa nos próximos anos e que seguramente terão forte impacto em todo o modelo de negócio nesta vertente do setor automóvel. Desde logo o tema da Digitalização – Este movimento irá cada vez mais se evidenciar num setor tradicionalmente envelhecido. Prevendo-se o crescimento de novas plata-formas comerciais em ambiente digital, seja no modelo Marketplace; em novas lojas on-line para venda de peças ou ainda na massi-ficação do conceito de “oficina digital” para experiências na comercialização de novos modelos ou nos serviços de manutenção. A este propósito convém dizer que temos, cada vez mais, “Consumidores Digitais e Digitalizados”.
O acelerado processo em curso da Eletrificação – A vaga de modelos eletrificados irá continuar o seu caminho de chegada ao setor pós-venda, quer seja na abertura de concessionários especializados em viaturas usadas eletrificadas, quer na sua entrada cada vez mais frequente nas oficinas, para manutenção e reparação. Aquilo que é hoje um nicho de negócio para o pós-venda independente, tenderá a ser incontornável para os seus operadores nos próximos 10 ou 15 anos .A Urgente Requalificação Profissional de Competências – O nível de complexidade e sofisticação dos veículos eletrificados, bem como toda a evolução natural da própria indústria tecnológica centrada na eletrónica automóvel, vai exigir cada vez mais uma requalificação de competências técnicas dos profissionais do setor, assim como ao nível da gestão oficinal com ferramentas tecnológicas adequadas. Novos movimentos de concentração – O setor irá continuar a assistir a movimentos de concentração nas mais diversas circunstâncias: O desaparecimento de barreiras entre os canais OE e IAM; a consolidação do segmento dos distribuidores de peças e a entrada dos fabricantes no próprio negócio pós-venda das peças. Também num outro plano, mas nem por isso menos impactante, com a cada vez maior concentração em grandes operadores, como são o caso das gestoras ou dos novos grandes operadores de mobilidade.
Por último, o Fenómeno das “Viaturas Conectadas” – Este fenómeno tenderá a mudar de forma absolutamente radical alguns dos atuais conceitos de manutenção e reparação. A possibilidade de, tanto os fabricantes, como os reparadores (Oficias e Independentes), terem acesso às viaturas de forma remota e efetuarem operações de reparação e manutenção (Reparações Over-the-air), que são hoje já uma realidade, desafiam toda a forma como encaramos o negócio do Pós–Venda. Este é um Fenómeno que está hoje em curso, tendendo a crescer de forma exponencial num futuro muito próximo. Acredito que face a tendências absolutamente incontornáveis, a grande maioria dos agentes envolvidos no processo, terão a capacidade, a agilidade e inteligência, de se adaptar às circunstâncias do mercado.
Alexandre Ferreira, Presidente da ANECRA