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Percorrer as ruas da cidade de Guimarães significa caminhar por estradas e locais que respiram história, nomeadamente os primórdios da História de Portugal. É conhecida pela Cidade Berço de Portugal e associada desde sempre a Dom Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal e personalidade que simboliza os valores de toda uma cidade. Esta riqueza patrimonial elevou o Centro Histórico de Guimarães a Património Mundial da UNESCO, havendo a expectativa de juntar a Zona de Couros a este estatuto.

Se existe localidade em Portugal que conta muito dos primeiros tempos de Portugal enquanto nação, essa cidade é Guimarães. As suas ruas, os seus monumentos, os seus locais e até os próprios habitantes, os vimaranenses, são o espelho daquilo que representa o que é Portugal. As caraterísticas vincadamente medievais das ruelas e edifícios de Guimarães não deixam margem para dúvida sobre a idade da cidade e a quantidade de artefactos históricos que se podem encontrar num espaço tão reduzido é de uma beleza única. Para além das vielas, praças, largos, conventos, ruas e igrejas que contém em si uma histórica única e apresentam uma marca de grande relevo na História de Portugal, destacam-se ainda as muralhas da cidade e o Castelo de Guimarães. É o símbolo da cidade e, porventura, um dos principais símbolos de todo o país. Para além de todo o cenário medieval criado pela materialidade da cidade, a combinação de técnicas de construção dos próprios edifícios e ruas, resultam numa beleza arquitetónica que só em Guimarães se pode encontrar e que, por isso mesmo, ajuda a construir a identidade da cidade. São exemplo disso mesmo as taipas de rodízio e de fasquio, à base de madeira e de matérias-primas locais, como o granito, que é um aspeto altamente valorizado e diferenciador em Guimarães, embora de menor visibilidade face aos monumentos e cenários pitorescos que o centro histórico oferece a cada esquina. A juntar à materialidade pela qual a cidade berço é identificada, realça ainda aos olhos de quem visita a região, a autenticidade de toda a urbe que respira vida, fruto de toda a sua atividade habitacional, comercial e institucional.

Trabalhos de recuperação do Centro Histórico de Guimarães

O reconhecimento do Centro Histórico de Guimarães pela UNESCO abriu portas a novas oportunidades e é relevante em inúmeros aspetos, a começar logo pelo setor do turismo, onde a distinção da UNESCO funciona como uma alavanca importante para atrair mais turistas, muito pela inclusão em roteiros que ligam vários locais de relevo patrimonial. O facto desta região ser Património da UNESCO ganha ainda mais destaque se se pensar no grande trabalho de recuperação que foi realizado desde os anos 80. Evitando demolições e preservando o estilo arquitetónico dos edifícios, tendo em vista manter o valor patrimonial da região, o município levou a cabo uma operação com o objetivo de recuperar e preservar o que de maior valor Guimarães apresenta. De todos os trabalhos realizados destaca-se o do arquiteto Távora, responsável, entre outros trabalhos, pela “Casa da Rua Nova”, onde se instalou a equipa municipal responsável pelo centro histórico, entre 1985 e 2007, sendo reconhecida pela primeira intervenção de recuperação de edifícios levada a cabo nesta megaoperação do município e mencionada no Prémio Europa Nostra 1985. Ainda assim, o foco na preservação do património histórico não invalidou a realização de alguns trabalhos de melhoria de alguns espaços públicos, como são exemplos o trabalho da DGEMN, no Largo da Oliveira, e do Arquiteto Fernando Távora, nas Praças de Santiago, Largo da Câmara, Largo da Misericórdia e Largo Condessa do Juncal. Uma grande linha orientadora desta operação de recuperação da cidade era a preocupação pela população vimaranense, sempre vista não só como parte essencial de toda a cidade, mas também sendo envolvida nos trabalhos de recuperação e agente relevante na manutenção desses mesmos espaços. A manutenção do valor histórico da cidade está, atualmente, entregue a uma equipa específica que é responsável por essa tarefa. Manter a distinção significa manter o rigor, o sentido crítico e a responsabilidade pela salvaguarda e valorização da cidade.

Candidatura da Zona de Couros a Património da UNESCO

Em 2022 foi apresentada a candidatura para que a Zona de Couros também seja reconhecida pela UNESCO como Património Cultural Material da Humanidade. No entanto, a ambição de obter esta classificação é bem mais antiga, remontando aos anos 70, quando um grupo de vimaranenses tentou convencer o Estado português a classificar as antigas fábricas de curtumes como conjunto de interesse arqueológico-industrial, ideia pioneira na época. A Zona de Couros apresenta também ela um valor patrimonial de grande valor, a começar, por exemplo, pela própria relação muito direta que é estabelecida com o Centro Histórico de Guimarães, através da água e das matérias-primas trabalhadas nas manufaturas, mas também pela integridade dos tanques, que geometrizam quadrículas por entre a sinuosidade do rio de Couros. É precisamente aqui que se pode comprovar o elevado valor histórico que a Zona de Couros contem em si, visto que o Rio de Couros é antecedente à criação de Guimarães, o que significa que mesmo antes de existir a cidade, já havia esse mesmo rio, outrora utilizado por curtidores e sapateiros. A candidatura da Zona de Couros a Património da UNESCO pode não só fazer com que Guimarães tenha duas regiões com esta distinção, mas também, pela sua posição geográfica, que aos 19 hectares do Centro Histórico de Guimarães já classificados, se junte mais 21 hectares referentes à Zona de Couros, perfazendo uma zona classificada pela UNESCO de 40 hectares. Trata-se de algo pioneiro em Portugal, muito raro a nível mundial e que, sobretudo, ajudará a espalhar por Portugal e pelo mundo toda a riqueza cultural e histórica que a cidade tem para oferecer.