Foi fundada em 1836 no centro histórico da cidade de Lisboa, no Chiado, sendo por isso conhecida como a escola superior de ensino artístico mais antiga de Portugal. Vincula-se à arte e ao design contemporâneo, não esquecendo as necessidades atuais e a tradição do ensino. Atualmente disponibiliza uma oferta formativa diversificada com sete licenciaturas, 14 mestrados, doutoramentos e para o próximo ano-letivo, “no quadro das pós-graduações não conferentes de grau, apresentará 17 novos cursos especializados em diferentes áreas”.
“MMA”, em outro contexto, poderia induzir o leitor a cair no início de uma história da modalidade de desporto de combate ou artes marciais, todavia estamos a dar a largada para falarmos da Faculdade Belas-Artes da Universidade de Lisboa. A sigla inglesa que define uma prática desportiva foi a caraterização dada por Fernando António Baptista Pereira à instituição de ensino à qual preside, distinguindo-a como a “maior, melhor e a mais antiga faculdade do país”. Aliado a isso, o mesmo adiantou que, ao longo do tempo, a “responsabilidade e o comprometimento com a qualidade não se alterou, integrando assim a missão” desta Escola. Atualmente, com muita história e experiência nas costas, a FBAUL pauta-se por “proporcionar um ambiente que combina experimentação e reflexão teórica, distinguindo-se pela qualificação artística e científica do corpo docente e pela aposta em métodos de ensino inovadores, que conciliam conhecimento e competências tecnológicas”. Fernando António Baptista Pereira acrescenta que prova disso são “a excelência das coleções artísticas e da produção artística dos alunos, com constantes prémios alcançados”.
Anualmente, ao nível das licenciaturas, concorrem dois mil candidatos, dos quais apenas cerca de 300 entram. Dados que espelham os “cursos de excelência” ministrados neste estabelecimento de ensino, formando, na globalidade, “artistas, designers e curadores, que são, acima de tudo, cidadãos empenhados na transformação da sociedade”. Passada a vivência de tormenta dos últimos dois anos letivos, devido aos confinamentos e restrições, em resultado da pandemia, onde houve um enorme esforço para ensinar Arte à distância, chegou a hora de largar os entraves ao arrojo e liberdade criativa. Assim, com o objetivo de melhor informar os jovens estudantes acerca da opção formativa disponível, a FBAUL lançou recentemente o seu primeiro podcast, com vários episódios dedicados às pós-graduações, uma vez que, também há pouco tempo, desenvolveram várias “direcionadas para a especialização e atualização dos profissionais, acabados de licenciar ou menos jovens, que já estão integrados no mercado de trabalho, visando a formação continuada, o aprofundamento ou a aquisição de técnicas e de conhecimentos em áreas profissionalizantes”. Estes 17 novos cursos não conferentes de grau para o próximo ano-letivo têm as inscrições abertas até ao próximo dia 30 de setembro e são especializados em diversas áreas. Os planos de estudos pormenorizados já estão disponíveis no website da Faculdade.
À teoria deste ensino artístico acresce o privilégio da aprendizagem prática, “baseada e estimulada em laboratórios equipados com tecnologia de ponta – como por exemplo o Project Lab, ou o Heritage Lab – e que para Fernando António Baptista Pereira são lugares “de experimentação, de ousadia até, onde se procura encontrar e desbravar novos modelos e métodos de execução”. O Presidente da FBAUL refere que “a investigação no seio da mesma processa-se, de acordo com a ligação institucional entre o Ensino Superior e a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT)” e que nesta simbiose “entre a docência e a investigação, foi criado o CIEBA – Centro de Investigação e Estudos em Belas-Artes”. A maioria dos docentes desta instituição “são investigadores no CIEBA, alguns no VICARTE – Centro de investigação comum à FBAUL e à FCT da NOVA – e outros nos Centros da ULisboa”. Relativamente ao CIEBA, Fernando António Baptista Pereira descreve-o como “um produtor e disseminador de discurso científico e criativo nos vários campos das artes visuais, do design e dos estudos do património, contribuindo com práticas, aquisições de conheci-mentos e pesquisas que se inserem em disciplinas diversas como as Artes e o Design, a História da Arte e a Estética, a Cultura Visual, as Práticas Curatoriais, Museológicas e de Conservação e Restauro, assim como a Crítica ou a Teoria da Imagem”. Para além disso, acrescenta que se trata de uma infraestrutura que serve como centro de “reflexão sobre as possibilidades da criação artística, de intervenção, educação e ensino, formal ou informal, geral ou vocacional, procurando, acima de tudo, formar artistas, designers e curadores, que produzam igualmente reflexão teórica sobre as respetivas práticas e sobre a sua incidência e papel na sociedade”.
Formar Arte cá dentro e lá fora
Na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa a mobilidade internacional é um programa que “não se reduz à escala local ou regional”, por isso visa uma clara dimensão nacional e internacional. “Prova disso é a vasta e diversa comunidade estudantil que acolhem em todos os Ciclos de Estudos”. A par disso, a FBAUL também forma “igualmente muitos dos quadros docentes e de investigação de outras escolas de arte de todo o país”, sendo também convidada por academias congéneres em Itália e na Noruega para ajudar no processo de lançamento dos programas doutorais”, devido ao grande número de alunos e à sua diversidade de oferta formativa e científica.
“Esta dinâmica cria uma rede de interação e de trabalho que perdura em parcerias e colaborações e que acaba por influenciar os participantes. E é através desta inovação no âmbito dos campos expandidos da Arte, do Design, da Educação Artística e dos Estudos do Património, que esta Escola procura dar resposta às necessidades que vão emergindo na vida cultural e artística da sociedade portuguesa e internacional”.
Para muitas dessas parcerias celebradas no âmbito do programa da mobilidade internacional, a organização funciona como “motor de dinamização cultural”, estimula a concretização de outras parcerias e protocolos com instituições do setor cultural, criativo e empresarial e até “fundações, organismos do Estado e autarquias de todo o país, tais como Cantanhede, Abrantes, Castelo de Vide, Grândola, Oeiras, Lisboa, Cascais, Lourinhã”, entre outras. Em todas estas co-laborações, a intervenção da entidade “implica a interferência artística qualificada no espaço público, a conceção e dinamização de museus, galerias de Arte e outros espaços expositivos, ou o estudo e conservação do Património”.
A montra de Arte digital
Durante e depois do período pandémico, a relação dos estudantes com os serviços académicos era realizada no mundo digital, o que levou a Presidência da Faculdade a equacionar uma solução que possibilitasse a comunicação e o acesso global e alargado ao serviço que a mesma possui, tanto para a comunidade escolar, como para o “público exterior”. Foi desta necessidade que surgiu a loja online da FBAUL. Um espaço aberto a todos onde se podem adquirir “livros elaborados pelos professores, entre outras publicações, revistas, catálogos de exposições, teses universitárias e uma linha de merchandising”.
Fazer Arte a pensar na sustentabilidade
De modo a enraizar nos alunos a consciencialização e a prática de comportamentos sustentáveis também no mundo artístico, a Faculdade de Belas-Artes dispõe de um mestrado “em Design para a Sustentabilidade, em associação com a Faculdade de Ciências, o Instituto de Ciências Sociais, o Instituto Superior de Economia e Gestão e a Faculdade de Arquitetura”. Fernando António Baptista Ferreira conta-nos que este curso “promove a reflexão e o debate das questões específicas relativas a esta temática, proporcionando ainda o desenvolvimento e a implementação de projetos à escala local, regional e global, enquadrados nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que foram definidos pelas Nações Unidas em 2015”. A acrescentar a isso, incrementa também “projetos de design em contexto real, em conjunto com entidades públicas e privadas, no âmbito da sustentabilidade ambiental, social e económica”. Todavia, o mestrado não é a única oferta a pensar no meio-ambiente, visto que a instituição ainda oferece “duas pós-graduações orientadas para a sustentabilidade, são elas a pós-graduação de design circular: modos culturais, sistémicos e materiais e a pós-graduação de design de serviços para negócios sustentáveis”. A primeira assenta “numa visão holística ancorada na associação entre economia circular e cultura do design, no sentido de serem exploradas “novas atitudes e realizações materiais, propondo-se um caminho que favoreça a transição para o modelo económico-industrial circular”. Já a segunda, visa apostar em “modelos de negócios centrados nas pessoas, com recurso à inovação e às ferramentas de design”.
O brinde do ícone da Arte aos estudantes da FBAUL
No meio da conversa, o enredo artístico levou-nos a falar, em tom saudoso, da grande artista Paula Rego, falecida este ano, e do seu legado para todos os amantes desta área. Neste ponto, estava dada a oportunidade adequada para o Presidente da FBAUL contar aos leitores e possíveis futuros estudantes que a instituição, há alguns anos, foi eleita pela artista “para acolher e organizar, em parceria com a Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais, a Exposição e o Prémio Paula Rego”. Este último, “nasceu da vida e da obra” da pintura, “das suas histórias íntimas e das suas deslumbrantes ficções visuais, mas, sobretudo, da suavontade de encorajar jovens artistas a desenvolverem projetos artísticos, em que pudessem contar uma história, através do desenho, tal como a “Exposição de Verão da Slade a incentivou e a encorajou a enveredar por este mundo”. Esse contributo no valor de mil euros era atribuído a “uma obra integrante da exposição organizada pela Faculda-de, emcolaboração com a Casa das Histórias Paula Rego”, que mais tarde passava a integrar a coleção pessoal da mesma.
A esperança para o ensino artístico
Antes de pincelarmos o fecho da conversa, houve tempo para abordar o panorama atual do ensino artístico em Portugal. Neste aspeto, Fernando António Baptista Ferreira, ao passo do que tem feito o Reitor da Universidade de Lisboa, retorquiu e alertou para a necessidade de se fazer cumprir com “o Contrato de Legislatura, no que respeita ao financiamento de todo o Ensino Superior”. A FBAUL aguarda com urgência “o início das obras de recuperação dos Novos Espaços, absolutamente indispensáveis para o prosseguimento da sua missão e para a necessária acomodação de todas as suas valências e laboratórios”. Após a finalização desta, também diz que “outras serão necessárias no edifício do velho Convento de S. Francisco, de forma a adaptar os espaços às exigências tecnoló-gicas de uma escola artística do século XXI”. Na opinião do Presidente da Belas-Artes de Lisboa, a luz ao fundo do túnel para a valorização, coesão e “revitalização do ensino superior artístico, bem como para a vida artística em Portugal” poderá estar na “integração das escolas artísticas do Instituto Politécnico de Lisboa, na Universidade de Lisboa”.
Relativamente ao futuro, o responsável pela FBAUL destacou que no próximo ano-letivo a oferta formativa, “por via dos três ciclos de ensino universitário, das pós-graduações e da possibilidade de frequência de unidades curriculares isoladas – nas licenciaturas e nos mestrados – juntamente com a ampla participação da Escola em redes e projetos de investigação internacionais, concorrerá para a concretização de todas as metas do PRR.