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Em entrevista à Mais Magazine, Rui Paiva, Diretor da Academia de Música de Santa Cecília (AMSC), fala-nos sobre o projeto que tem quase 60 anos e em que “poucos acreditavam”.

A Senhora Embaixatriz Vera Franco Nogueira foi uma mulher visionária, culta e amante da música, que “concebeu uma escola capaz de assegurar uma sólida formação académica a futuros músicos ou, em alternativa, a vivência da cultura musical a alunos destinados a outros percursos profissionais”. Fez-se então acompanhar de pessoas “competentes e bem informadas”, como foi o caso da Professora e pianista, Gilberta Paiva, em 1964, dando corpo a um projeto em que poucos acreditavam.


Após várias décadas, o próprio Ministério da Educação veio a reconhecer a importância das escolas de ensino integrado da música, e vários conservatórios de música públicos passaram a adotar este regime. Para além das vantagens que hoje se reconhecem na simultaneidade de formações (ensino geral obrigatório e ensino da música especializado), a AMSC está organizada de modo que os alunos que não demostrem aptidão ou vontade para continuar o ensino especializado da música, possam frequentar apenas o currículo do ensino geral, em qualquer momento do seu percurso escolar.

Os alunos da AMSC, tal como os de muitas outras escolas de música particulares, beneficiam, desde 1988, de um apoio financeiro do Ministério da Educação para a componente musical do seu ensino. Com este apoio e a implícita gratuitidade dos estudos musicais, mais alunos com aptidão artística têm vindo a frequentar o ensino especializado da música.


A AMSC tem alunos dos três anos de idade até ao 12º ano de escolaridade. A maioria faz todo este caminho, apesar de alguns serem admitidos a meio do percurso. Ao longo do pré-escolar e do primeiro ciclo todos os alunos aprendem música, num modelo que inclui o estudo de um instrumento a partir dos seis anos de idade.


A partir do 5º ano de escolaridade há dois percursos formativos, por um lado a aprendizagem da música numa vertente especializada em regime integrado ou, em alternativa, uma abordagem de caráter mais generalista, que não implica o estudo de um instrumento, “mas que dá muita importância à música de conjunto, sobretudo na prática coral”. Em ambos os percursos, os alunos frequentam todas as disciplinas do currículo geral. No ensino secundário, para além dos cursos gerais científico-humanísticos, os alunos podem optar pela continuidade de estudos musicais em exclusividade (regime integrado) ou pela frequência de um curso de música em regime supletivo a par de um curso científico-humanístico.
Qualquer destas opções permite o acesso ao ensino superior.

A posição que a AMSC tem ocupado nos rankings nacionais das escolas, sobretudo no ensino secundário, “pode conduzir a uma visão enganadora sobre o que a escola pretende”. Embora estes resultados constituam “uma grande satisfação para todos os colaboradores, o trabalho no dia a dia é perspetivado para cada um dos alunos, cada qual com as suas capacidades e dificuldades diferenciadas”.

O ideário educativo da AMSC “é exigente, não apenas no que respeita à formação académica e à formação musical, mas também no âmbito da formação humana, suportada por valores cristãos”. Deste modo, a atenção dada a cada aluno real não resulta apenas da vontade avulsa de cada um dos professores, mas de uma exigência do próprio ideário. É nessa perspetiva que os valores da solidariedade, da cidadania, da inclusão, ressoam no trabalho dos coros ou das orquestras, em permanente atividade, segundo Rui Paiva.

Do ponto de vista formal, o ensino integrado “parece não acrescentar nada à formação geral ou musical dos alunos”. Mas o que se tem constatado nas poucas escolas de ensino integrado de música é que “estas duas áreas se potenciam, conduzindo a um resultado final que supera a soma das partes”. Apesar de, nesta escola, a formação na área da música ser claramente assumida nos seus aspetos técnicos, artísticos e culturais, é incontornável o seu significativo contributo na formação dos seus jovens, em competências como sejam a capacidade de
trabalho, o trabalho colaborativo, o rigor, a concentração, a autonomia, a criatividade, o sentido crítico, e muitos outros. Estas competências tão necessárias no mundo de hoje, têm vindo a ganhar relevo no âmbito escolar em geral, onde são desenvolvidas com pedagogias consideradas inovadoras. Na AMSC, “fazemo-lo de forma simples, há mais de cinquenta anos, recorrendo à competência dos docentes que reunimos, e à abordagem intensa e séria de uma arte milenar, a música”. Para Rui Paiva, “esta é a fonte de inovação da escola”. Além disso, os alunos participam em projetos científicos, humanísticos e sociais, em campanhas de solidariedade, dinamizam as atividades da associação de estudantes e, naturalmente, participam em inúmeros concertos organizados pela AMSC.

O objetivo para o futuro é concluir o projeto das novas instalações iniciado há cerca de dez anos. A AMSC pretende “continuar a trabalhar no sentido de manter sempre atuais as grandes linhas do nosso ideário educativo, ou seja, um bom ensino académico e musical e uma boa formação humana, assente em valores cristãos”. A Academia de Música de Santa Cecília, quer continuar o trabalho dos últimos anos, “os nossos alunos devem continuar a ser admitidos com facilidade nos cursos superiores da sua escolha, em Portugal ou no estrangeiro, onde fazem percursos de sucesso facilitado pela formação aqui recebida”.