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Arlindo Cunha, Presidente da Comissão Vitivinícola Regional do Dão (CVR Dão), explica os fatores que distinguem os vinhos da Região Demarcada do Dão, destacando a influência do terroir, o rigor nos métodos de certificação e as práticas de viticultura sustentável.

Pedia-lhe que nos começasse por dizer que fatores distinguem os vinhos da Região Demarcada do Dão.

O nosso terroir tem uma grande influência nos nossos Vinhos do Dão, com a geografia, o solo, as condições atmosféricas habituais, e depois todo o expertise dos nossos enólogos, permite que os Vinhos do Dão se destaquem pelo seu carácter e elegância. Com isto, falamos de vinhos frescos e com um bom equilíbrio de complexidade, vinhos gastronómicos que tanto acompanham pratos como cabrito ou bacalhau, bem como gastronomias internacionais como sushi, entre outras, vinhos tintos, brancos, rosés, espumantes com uvas que pertencem à região, como é o caso da Touriga Nacional e do Encruzado onde encontram no Dão o seu berço.

De que forma a CVR Dão trabalha para garantir a qualidade e a autenticidade dos vinhos do Dão? Quais são os métodos de controlo e de certificação utilizados?

Além do controlo que é feito no terreno om técnicos especializados da CVR Dão, isto é, garantir que as vinhas e todo o processo de produção cumpre o nosso protocolo, também contamos com um laboratório que trata análises não só do Dão como de outras regiões, e a nossa Câmara de Provadores que de forma totalmente anónima avalia as amostras de vinhos, garantindo que todos os requisitos são cumpridos na íntegra. Com isto, conseguimos ter no mercado vinho do Dão e Lafões assegurando a sua qualidade e garantindo ao consumidor que qualquer que seja o produto, este cumpre todos os requisitos e poderá desfrutá-lo de maneira segura. Uma dica muito fácil para saber se o vinho foi ou não certificado: no contrarrótulo, basta verificar se conta com o selo CVR Dão. Se assim for, é porque aquele vinho é realmente da região do Dão!

A vossa produção de vinho segue princípios de viticultura sustentável? Se sim, pode detalhar as práticas implementadas?

Sim, uma grande parte dos vitivinicultores encontram-se em regime de Produção Integrada. Atualmente, a CVR Dão está a preparar um projeto conjunto com as CVR da Bairrada, Beira Interior, Lisboa e Tejo para ajudar produtores, empresas e cooperativas a adaptarem-se, para poderem ser certificados como empresas vitivinícolas sustentáveis, no quadro do referencial nacional da sustentabilidade, gerido pela ViniPortugal.

Existem projetos específicos de in-vestigação e inovação em curso na região do Dão, com o apoio da CVR Dão?

Em 2016, no âmbito do PO Centro 2020 (Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro – CCDRc), a CVRD foi uma das cinco comissões vitivinícolas que integrou o Projeto Estratégico de Apoio à Fileira do Vinho na Região Centro, que teve como objetivo incentivar a promoção dos vinhos das regiões vitivinícolas que integram a Região Centro (Dão, Bairrada, Beira Interior, Lisboa e Tejo), apostando também no desenvolvimento de atividades de I&D para valorizar os vinhos aqui produzidos. Foi realizada a caracterização do comportamento agronómico de duas castas de elevado potencial para a região do Dão – Encruzado e Touriga Nacional – em várias parcelas da região, em conjunto com o Instituto Politécnico de Viseu (IPV). Este projeto encontra-se agora num terceiro ciclo, através do programa PROVERE – “Estratégia para a Valorização da Fileira dos Vinhos”, onde se pretende continuar esta caracterização, bem como desenvolver outras linhas de I&D aplicada à fileira.

Em 2021, a CVRD definiu uma Agenda de Investigação, Desenvolvimento e Inovação para a Região do Dão, para dar resposta às necessidades de base científica que o setor necessita responder para melhorar a sua competitividade. Assim, em 2022, foi estabelecida a implementação do Polo do Dão do CoLAB Vines & Wines, financiado pela Missão Interface, da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). O CoLAB Vines & Wines tem um carácter nacional e encontra-se sedeado na Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense (ADVID). O Polo do Dão, resulta da parceria entre quatro instituições: a CVRD, a ADVID, a CCDRc e o IPV. No âmbito do PRR – Agenda Mobilizadora Vine & Wine.PT, a CVRD é um dos parceiros do projeto Biogrape Sustain – Use of grapevine and microbiome diversity for sustainable production, que tem como objetivo caracterizar variedades autóctones com elevado potencial para a qualidade e autenticidade dos vinhos do Dão, tendo iniciado este projeto em 2022. Esta iniciativa tem como líder o IPV.

Que iniciativas estão a ser desenvolvidas para promover os vinhos do Dão nos mercados nacionais e internacionais?

A CVR Dão continua a desenvolver um papel ativo na promoção dos Vinhos do Dão a nível nacional e internacional. Além da participação em eventos de vinhos, temos alargado a nossa presença a feiras, visitas inversas (em que contamos com a presença de sommeliers, distribuidores, jornalistas, entre outros) à nossa região, estamos também a trabalhar continuamente com parceiros de diferentes áreas que se complementam com os vinhos, garantindo desta forma que reforçamos o nosso posicionamento e um papel de destaque para os nossos agentes económicos.

E relativamente ao enoturismo, que ações estão a ser tomadas para incentivar a prática desta atividade na região do Dão?

A CVR Dão tem vindo a desenvolver várias atividades relacionadas com a Rota dos Vinhos do Dão, que conta neste momento com cerca de 50 aderentes em toda a região. A promoção da mesma, além das diversas plataformas digitais, tem vindo a ser feita também através da presença em feiras nacionais e internacionais especializadas em Turismo e Enoturismo, com as agências de viagens e outras entidades do género a mostrarem-se muito interessadas em dar a conhecer o Dão ao público. Além do mais, é importante dar uma palavra aos nossos agentes económicos que têm vindo a apostar no Enoturismo, com uma oferta variada e de qualidade, ajudando desta forma a promover o que de melhor se faz na nossa região.