: 26 de Setembro, 2025 Redação:: Comentários: 0

O setor imobiliário em Portugal envolve uma complexa teia de questões jurídicas, que vão desde a regularização de registos prediais e contratos até disputas sobre propriedade e licenciamento. Neste cenário, o papel do advogado revela-se essencial não apenas para garantir a segurança de transações como compra e venda de imóveis, mas também para prevenir litígios e assegurar o cumprimento da lei, protegendo os direitos dos clientes e contribuindo para a estabilidade do mercado, tal como conta à Mais Magazine a advogada Claudete Teixeira.

O setor imobiliário apresenta inúmeras situações jurídicas que exigem acompanhamento especializado. Quais são, na sua experiência, os maiores desafios e as questões mais delicadas que surgem nessa área?

O setor imobiliário exige atenção a detalhes jurídicos específicos e uma estratégia preventiva, pois muitas vezes pequenas irregularidades podem gerar conflitos complexos ou prejuízos significativos. Muitas propriedades têm o registo de titularidade omisso ou desatualizado, ou existem discrepâncias no registo predial, que é necessário regularizar. Nos contratos de arrendamento e de promessa de compra e venda é fundamental garantir que todos os termos sejam claros e conformes à legislação, evitando cláusulas abusivas ou ambiguidades que possam gerar litígios futuros. Como é importante garantir que o imóvel não possui ónus que possam colocar em causa o cumprimento do contrato. São também frequentes as divergências sobre limites de propriedades e servidões de passagem, muitas vezes exigindo perícias e ações judiciais para se definirem os direitos e deveres dos envolvidos. E, por fim, as questões de licenciamento exigem também particular atenção, pois podem gerar multas avultadas ou até a demolição da obra. Outra questão relevante é a da regularização de licenças ambientais ou adequação às normas de segurança, que podem impactar projetos imobiliários, exigindo atenção a legislação específica.

A compra e venda de um imóvel envolve exigências legais e procedimentos burocráticos que podem ser complexos para o público em geral. Na sua opinião, qual é o papel fundamental do advogado nessas transações e como o seu escritório atua para facilitar esse processo?

A compra e venda de um imóvel constitui uma das operações mais importantes e de maior impacto financeiro na vida de particulares e empresas. Numa transação desse tipo é fundamental o acompanhamento do advogado, que atuará como consultor e defensor do cliente, garantindo que tudo seja feito de forma segura, eficiente e em conformidade com a legislação vigente. O papel do advogado nessas transações começa com a assessoria no processo de due diligence, com a verificação da situação registral, do imóvel, verificando licenças urbanísticas, ambientais ou outras e dando orientação quanto às obrigações fiscais. E continua depois com a assistência na realização de contratos, escrituras e registos e ainda e, muito importante, identificando e resolvendo potenciais problemas que possam vir a gerar litígios. O nosso escritório tem uma vasta experiência nesta área e tratamos de todo o processo, inclusive a realização do contrato final de compra e venda e a realização dos registos, acompanhando todo o procedimento junto das conservatórias. Nós priorizamos o atendimento personalizado do cliente, esclarecendo todas as dúvidas e assegurando que a compra ou venda de um imóvel seja conduzida, evitando riscos jurídicos e contribuindo para decisões informadas e acertadas. Em Portugal é frequente as pessoas assinarem contratos promessa, contratos de arrendamento ou escrituras sem previamente consultarem um advogado, o que é um erro e não raras vezes as pessoas veem-se envolvidas em problemas jurídicos que eram perfeitamente evitáveis, caso tivessem tido aconselhamento jurídico prévio.

Claudete Teixeira, advogada

Além das transações de imóveis, os advogados desempenham papel decisivo em heranças que envolvem propriedades e também na venda de imóveis para estrangeiros. Como a Claudete Teixeira tem atuado nessas situações específicas?

No caso das partilhas que envolvem imóveis, é necessário todo o trabalho que referi anteriormente, mas com a especificidade de que nestes casos nem sempre há acordo acerca do destino a dar aos imóveis e a nossa atuação nestas áreas tanto poderá passar por negociações, tendo em vista a realização de uma partilha por acordo, como pela condução de um processo judicial de inventário defendendo os direitos do herdeiro. A orientação dos herdeiros quanto aos aspetos fiscais e sucessórios é também muito importante. No que diz respeito à venda de imóveis a estrangeiros, apoiamos também os clientes na compreensão das implicações fiscais e jurídicas de adquirir imóveis em Portugal e, em geral, damos assessoria em tudo o que for necessário, incluindo na obtenção de Número de Contribuinte, essencial para a aquisição de imóveis em Portugal.

Olhando para além do direito imobiliário, por que acredita que a figura do advogado é essencial para o bom funcionamento de uma sociedade democrática atual?

O advogado é mais do que um especialista em Direito que defende, aconselha e representa clientes em diversas questões legais. Os advogados são os garantes dos direitos, liberdades e garantias de todos, sem exceção. E são também os garantes da democracia, da liberdade e da igualdade. Considerar que estes pilares da nossa sociedade atual são dados adquiridos é um erro. Não sejamos ingénuos nem vivamos distraídos, a vida em democracia e em condições de igualdade não é do interesse de todos, e a sua manutenção continua a exigir esforço. Uma grande parte de nós não viveu durante a ditadura, não tem real noção do que isso significa, portanto, todos aqueles que identificam o perigo e os ataques à democracia devem mobilizar-se. Têm a obrigação de o fazer. O advogado principalmente. Nós somos os guardiões dos direitos, os primeiros a entrar no “campo de batalha”. Um advogado não deve ter medo, não se deve calar perante injustiças, perante a agressão, especialmente aos mais fracos, e perante ameaças à vida em liberdade e democracia. O advogado tem a obrigação de promover a educação sobre direitos humanos e inclusão para ajudar a desmantelar preconceitos e estereótipos que muitas vezes alimentam ódios e geram problemas sociais complexos. Os valores democráticos, como respeito, solidariedade e igualdade, não são negociáveis e não são questões de esquerda ou direita. Se cada um de nós fizer o que está ao seu alcance, com certeza ajudaremos a tornar o nosso mundo melhor.