: 23 de Maio, 2025 Redação:: Comentários: 0

Há uns anos, numa comunicação do Dia do Advogado, falei dos ‘mitos’ dos Advogados, uma lição de ‘mitologia’ que visava chamar a atenção para a (má) perceção que o Cidadão tem da profissão, ao contrário do que acontecia há umas dezenas de anos.

Os ‘sete mitos’ que apontei sobre aquilo em que as pessoas acreditam sobre Advogados é que (i) “são sempre caros”, (ii) “são todos mentirosos e manipuladores”, (iii) “são todos ricos”, (iv) “só querem saber de casos que dão dinheiro e publicidade”, (v) “aproveitam-se das tragédias para ganhar dinheiro”, (vi) “inventam ‘esquemas’ para prolongar os processos” e (vii) “não são de confiança”.

Bem sabemos que a Justiça e os seus agentes são uma das áreas em que os Cidadãos menos confiam. O Advogado é um deles e há sobre o seu papel uma contradição: já todos ouvimos alguém elogiar o seu Advogado pessoal ou um Advogado amigo, mas dizer que não acredita na bondade da profissão. Se juntarmos a esta desconfiança um Sistema de Justiça de funcionamento complexo e linguagem incompreensível, temos todos os elementos para uma ‘tempestade perfeita’.

Não foi sempre assim, no passado. Tempos houve em que as pessoas sabiam que era importante ter um Advogado ao seu lado, nos negócios, mas também na vida privada. Hoje, a profissão nunca teve tanta exposição mediática e tão fraca reputação – também por descuido e exagero de alguns, que se colocam em situações que desprestigiam e descredibilizam a profissão, na busca dos seus 15 minutos de fama.

É urgente provar que o Advogado faz a diferença em todos os momentos importantes da vida dos Cidadãos e empresas: tal como o médico de família, todos devíamos ter um Advogado de família que nos acompanhasse ao longo da vida. Para mudar essa visão é também preciso capacitar a opinião pública para reconhecer a importância do conselho e acompanhamento jurídicos, promover a desmistificação da linguagem jurídica e dinamizar um modelo de comunicação pública da Justiça mais assertivo e acessível.

A má comunicação do sistema judicial revela-se também na forma como as decisões judiciais surgem nos Media: o que o Cidadão acaba a entender da Advocacia é apenas a parte má – os atrasos, as ‘manobras’, as decisões incompreensíveis. A parte boa fica ‘soterrada’ debaixo da ‘avalanche’ de casos mediáticos em que o malfeitor parece sempre ganhar à vítima.

Nestas condições, o Cidadão continuará a considerar que um Advogado não acrescenta nada de útil e que o aconselhamento jurídico e o recurso à Justiça, além de caro, é inútil e contraproducente. Mas a verdade é que o Advogado faz a diferença em todos os momentos importantes da vida: na regulação das relações familiares, como o casamento e o divórcio, na criação de um negócio, na constituição de empresa, na compra de uma casa, nas parcerias empresariais, etc.

Acredito que defender o papel e a importância do Advogado é também participar ativamente na reafirmação dos direitos sociais e cívicos dos Cidadãos, das empresas e das instituições e uma forma de contribuir para a boa e plena administração da Justiça.

João Massano, Bastonário da Ordem dos Advogados