
É comumente aceite que, nos últimos 30 anos, Portugal conseguiu superar uma prova essencial ao desenvolvimento no setor da água, por via da construção e gestão de novos sistemas de abastecimento de água e de saneamento de águas residuais, desafio que obrigou a investimentos de grande dimensão e complexidade, e à aprendizagem da sua gestão de modo eficiente. A partir do desenvolvimento e implementação de uma abordagem integrada e coordenada na gestão das disponibilidades hídricas, foi possível contribuir para a otimização dos processos operacionais e para a redução de gastos, garantindo uma maior eficiência na prestação desses serviços públicos essenciais e possibilitando o acesso a serviços de abastecimento de água e de saneamento de qualidade, promovendo, em simultâneo, a sustentabilidade e a atratividade das regiões e dos respetivos territórios.
Esse período de grande investimento induziu no setor um conjunto relevante de transformações, reflexo das mudanças sociais e ambientais em que todos fomos protagonistas. Destacam-se as concessões ao setor privado, a criação de entidades gestoras intermunicipais, a prestação de serviços com métricas de eficiência, a constituição de parcerias Estado-autarquias, a regulação setorial, a inovação tecnológica e a gestão de ativos, bem como a sustentabilidade ambiental, económica e social do setor, que o fez crescer em outros domínios igualmente importantes e essenciais. Contudo, apesar das metas superadas, o país, as regiões e o setor, enfrentam hoje desafios importantes. As mudanças nos padrões de precipitação, o aumento da frequência e dimensão dos eventos climáticos extremos e a escassez de água, representam obstáculos que vão aumentar a complexidade da gestão hídrica, sobretudo, se desejarmos assegurar uma distribuição sustentável da água pelos diferentes usos. E esses desafios obrigam a uma abordagem abrangente e colaborativa.
O desenvolvimento de parcerias de cooperação robustas, com todas as partes interessadas e os diferentes setores, a definição de estratégias flexíveis e inteligentes para a gestão do recurso, os investimentos em inovação, em tecnologia, na capacitação de técnicos e em novas infraestruturas mais eficientes, resilientes e resistentes ao impacto climático, a consciencialização pública dos cidadãos para a promoção do uso mais eficiente do bem e para a preservação dos recursos hídricos, assim como a adequada e pacífica partilha da água com outros setores económicos, são os elementos que considero cruciais para que possamos controlar o caldeirão que se aproxima e que, se bem potenciados, nos podem permitir alavancar e cimentar um processo de transformação harmonioso, inclusivo e sem sobressaltos. Apesar das enormes ambições que as entidades gestoras têm em curso ou planearam, onde se destacam os investimentos para a redução significativa das perdas e das afluências/ infiltrações indevidas nas redes de abastecimento e de saneamento, respetivamente, o reforço da utilização de água para reutilização e a avaliação do impacto com as novas imposições previstas na nova Diretiva das Águas Residuais são ainda manifestamente insuficientes para acorrer às transformações que se perspetivam. Das entidades gestoras que tiveram um papel relevante na transformação do setor da água no nosso país, esperam-se novos e exequíveis exemplos de dedicação e superação, de agregação de esforços e capacidades, para vencermos os imensos desafios que se vão colocar ao longo dos próximos 30 anos.
E, só assim, seremos capazes de garantir a continuidade do acesso a uma água às gerações futuras.21 de março é o Dia Mundial da Água.
Celebremo-lo juntos e para sempre!
José Martins Soares, Presidente da APDA (Associação Portuguesa de Distribuição e Drenagem de Águas)
