: 21 de Fevereiro, 2025 Redação:: Comentários: 0

A estratégia cultural de Castelo Branco, Cidade Criativa da UNESCO na categoria Artesanato e Artes Populares, baseia-se em pilares como a promoção das indústrias criativas, a qualidade da oferta cultural e a valorização das artes tradicionais e contemporâneas.

O Bordado de Castelo Branco, considerado como um dos elementos do património do concelho com maior importância e maior peso cultural ancorou a candidatura de Castelo Branco à rede de Cidades Criativas da UNESCO.

Esta arte, autêntico símbolo identitário da capital da Beira Baixa, reúne características que a tornam única e distinta entre os vários bordados, como a utilização de matérias-primas nobres: a seda e o linho artesanal.

Atualmente, o Bordado de Castelo Branco é reconhecido internacionalmente e a sua presença no Museu Victoria & Albert Museum, em Londres, assim como na Catedral de Manchester, atestam a excelência desta arte.

Os seus desenhos apresentam uma simbologia própria: a árvore da vida, os pássaros, os cravos, as rosas, os lírios, as romãs ou os corações. Os motivos que caracterizam o Bordado de Castelo Branco refletem-se noutras áreas, como os desenhos na calçada portuguesa ou os símbolos que ornamentam as fachadas de prédios na cidade.

A Câmara Municipal de Castelo Branco tem feito um caminho estratégico no sentido da criatividade e da inovação. Em termos de equipamentos relacionados com as artes, o Município oferece uma rede significativa, destacando-se 4 infraestruturas pela sua promoção das indústrias culturais criativas:

O Centro de Interpretação do Bordado visa contribuir para a revalorização, recuperação, inovação e relançamento da arte de bordar. Além do espaço museológico e da loja, acolhe também uma oficina de Bordado de Castelo Branco que reúne algumas das mais aptas bordadoras.

A Fábrica da Criatividade nasceu com o objetivo de implementar um laboratório de criatividade, dando resposta às especificidades de áreas artísticas e performativas. Tem uma utilização polivalente de abertura à comunidade, através da cedência de espaços e oficinas, realização de eventos ou exposições.

O Museu da Seda, tutelado pela APPACDM de Castelo Branco, dá a conhecer a história da produção da seda em Portugal, o ciclo de vida do bicho da seda e as aplicações convencionais e de tecnologia de ponta – da Biologia e da Medicina – que se podem fazer a partir da utilização deste produto. Dispõe da maior produção nacional sericícola: produz anualmente 15kgs de seda de qualidade extra e 15kgs de seda selvagem.

O Museu Francisco Tavares Proença Júnior contempla a investigação, recolha, documentação, conservação, interpretação, exposição e divulgação do património cultural que integra o seu acervo, com especial relevo para as coleções de arqueologia e de têxteis.

As indústrias culturais e criativas têm sido alavancadas, nos últimos 4 anos, com uma série de iniciativas de impacto profundo e duradouro, que procuram preservar e dinamizar o património imaterial.

Entre as ações implementadas no âmbito da Candidatura de Castelo Branco à Rede de Cidades Criativas da UNESCO, encontra-se a realização de exposições, simpósios, jornadas, concursos, lançamento de livros e cursos, destacando-se:

•Lançamento da Rota Turística do Bordado: dá a conhecer todas as fases de produção dos materiais e da execução do Bordado.

•Concurso “O Bordado de Castelo Branco na Moda”: realizado anualmente, promove a aplicação criativa do Bordado de Castelo Branco em vestuário e calçado por estudantes do Ensino Superior e diplomados em Design Moda.

•Produção de vestido de gala pelo designer Dino Alves: usado por Valéria Carvalho no Festival da Canção, edição 2021. A peça encontra-se exposta no Centro de Interpretação do Bordado.

•Produção do Caderno de Especificações do Bordado de Castelo Branco

•Simpósio “A Rede de Cidades Criativas da UNESCO”: foi um marco importante no arranque da candidatura, tendo-se assinado a Carta de Princípios

•Candidatura do Município de Castelo Branco à Inscrição no Inventário do Património Cultural Imaterial do Património Cultural, I.P.: aguarda decisão

•Lançamento do livro infantil e jogo pedagógico “À Descoberta do Bordado de Castelo Branco”

•Exposição Fotográfica “Do Bicho-da-Seda ao Bordado de Castelo Branco”

•Criação da peça de arte “Árvore da Vida” da autoria de Diana Meneses Cunha: representação do Bordado de Castelo Branco, do Burel da Covilhã e da Tape-çaria de Portalegre

•Exposição da A. Certifica “Produtos Tradicionais Certificados”: o Bordado de Castelo Branco e a Viola Beiroa marcaram presença nesta exposição no Palácio de São Bento

•Jornadas “Os Bordados Tradicionais – Criatividade & Inovação”

•I Encontro Internacional de Cidades Criativas e Desenvolvimento Sustentável

•Lançamento do livro “Cidades Criativas e Desenvolvimento Sustentável”

•Lançamento do vídeo promocional “O Bordado de Castelo Branco”

•Criação de Curso de Formação Profissional, na área do Bordado de Castelo Branco, em parceria com o IEFP, com estágio no Centro de Interpretação

•Curso de Pós-Graduação em Indústrias Criativas e Inovação e Microcredenciação em Conservação e Restauro Têxtil, parceria entre o Município de Castelo Branco e o IPCB

•Laboratórios de Intervenção Territorial: conjunto de palestras e workshops

•Implementação da Estrutura de Governança “Castelo Branco, Cidade Criativa da UNESCO”

•Presença da colcha bordada a ponto de Castelo Branco na Biennale des Metiers

•D’Art “Le Gest et le Territoire”, em novembro 2023, no Luxemburgo

•Oficinas Rotativas em Artes e Ofícios Tradicionais

•Preparação do processo de inscrição da Viola Beiroa e dos Cascoréis de São Sebastião ao Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial

Apesar do Bordado de Castelo Branco constituir um dos principais elementos identitários da região, existe um conjunto muito significativo de outras artes e ofícios que potenciam a cidade e o Município de Castelo Branco, tais como: a olaria, a cantaria e a construção da viola beiroa.

Viola Beiroa

A Associação Recreativa e Cultural Viola Beiroa, criada em 2013, tem desempenhado um papel fundamental na recuperação, revitalização e divulgação deste instrumento tradicional.

A sua sede, cedida pela Câmara Municipal, situa-se no Centro Histórico da cidade e funciona como sala de ensaios da Orquestra Viola Beiroa, composta por 15 elementos, e é também uma Escola, onde os alunos apren-dem a tocar o instrumento e, posteriormente, integram a Orquestra.

As solicitações para concertos chegam de todo o país, permitindo não só divulgar a Viola Beiroa, mas também o repertório da música da Beira Baixa.

Foi elaborado um Método de Ensino específico para este instrumento, concebido pelo Professor Doutor Miguel Carvalhinho e, no âmbito da divulgação musical, foi gravado o álbum “Viola Beiroa” e a Associação marcou presença num Encontro de Violas de Arame, realizado na cidade.

O Município de Castelo Branco está a preparar o processo de inscrição da Viola Beiroa ao Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial. A inscrição é plena de sentido e oportunidade, já que se trata de uma tradição viva, expressão social e cultural de caráter tradicional praticada contemporaneamente, com o envolvimento da comunidade.

Cascoréis de São Sebastião

Todos os anos, a freguesia da Lardosa mantém viva uma tradição secular, ofere-cendo cascoréis a São Sebastião. A origem deste costume remonta a uma praga de gafanhotos que ameaçou a agricultura local. Segundo a crença popular, os insetos acabaram por morrer à porta da capela, um milagre atribuído ao mártir São Sebastião. Em sinal de gratidão, a comunidade passou a cumprir anualmente a oferta de cascoréis à população.

A confeção dos cascoréis, um bolo frito semelhante às filhós, fica a cargo das mulheres da freguesia. Estes são empilhados em cestos decorados com flores, que podem ultrapassar os 20kgs, e transportados em tabuleiros à cabeça das mulheres, no trajeto entre a Casa do Povo e a Capela de São Sebastião. Os tabuleiros são colocados no interior da capela e, após a bênção no final da Eucaristia, os cascoréis são distribuídos a todos os presentes.

A organização da festividade cabe a 6 festeiros, responsáveis por tarefas como a recolha de donativos, a preparação dos cascoréis e o cortejo até à capela.

A inscrição no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial permite a adoção de medidas de proteção e promoção, assegurando que este legado cultural perdure no tempo.

Danças Tradicionais da Lousa

A origem das Danças Tradicionais da Lousa está associada a uma lenda do século XVII, que relata a intervenção milagrosa da Nossa Senhora dos Altos Céus na proteção das colheitas locais contra uma praga de gafanhotos.

Estas danças são transmitidas de geração em geração e fortalecem a identidade cultural da aldeia da Lousa. Simbolizam não apenas a devoção religiosa, mas também a identidade e a coesão da comunidade local. Valorizam os saberes e ofícios tradicionais, como a confeção dos trajes e a execução dos instrumentos típicos.

As Danças Tradicionais da Lousa realizam-se no 3º fim-de-semana de maio, durante as festividades em honra de Nossa Senhora dos Altos Céus, padroeira local, e incluem 3 coreografias distintas: a Dança das Virgens, a Dança dos Homens e a Dança das Tesouras.

Na Dança das Virgens, participam 8 jovens do sexo feminino, vestidas de branco, com coroas na cabeça e lenços nas mãos. Acompanhadas por um tocador de guitarra portuguesa, recitam quadras em louvor à padroeira no adro da igreja. Um “Guardião” empunha uma espada, zelando pela integridade das donzelas e pelo ouro que elas ostentam.

A Dança dos Homens é composta por 6 homens trajados de branco, com faixas azuis à cintura e capelas enfeitadas na cabeça, acompanhada por instrumentos como a viola beiroa e a genebres, um instrumento único composto por pauzinhos de diferentes tamanhos que produzem sons característicos. Três jovens, conhecidas como “madamas”, vestidas de branco, juntam-se aos dançarinos, tocando trinchos.

A Dança das Tesouras é realizada na segunda-feira seguinte às festividades principais e representa a tosquia das ovelhas. Um grupo de homens, vestidos de cotim e lenços brancos na cabeça, simula a tosquia de rapazes que representam carneiros, utilizando tenazes que imitam tesouras de tosquia.

Em 2014, as Danças Tradicionais da Lousa foram inscritas no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, legitimando a sua importância e contribuindo para a sua preservação. Torna-se essencial promover o envolvimento das novas gerações nesta tradição, incentivando a sua aprendizagem e apelando a uma participação mais ativa nas festividades.