O passado recente trouxe-nos uma recessão económica, uma pandemia de gravidade inédita, um conflito armado na Europa, crises de grande complexidade política, a nível nacional e internacional, e vários desafios significativos originados por avanços tecnológicos rápidos e disruptivos. Estas crises têm destacado a importância do conhecimento e da qualificação na superação das mudanças. O conhecimento é a principal matéria-prima da economia atual e uma das ferramentas mais poderosas para enfrentar a incerteza e resolver problemas complexos. O seu impacto na economia, na cultura e no desenvolvimento social é inegável. Não é surpresa verificar que os países mais avançados do mundo são também os que mais investem na educação e na ciência.
Portugal tem feito um caminho notável na qualificação da sociedade portuguesa e no setor da produção do conhecimento, quando olhamos para o que era o país há 50 anos. Esse esforço merece ser reconhecido, mas ainda é insuficiente. Portugal precisa de continuar a investir no conhecimento, na ciência e no ensino superior e para isso é imprescindível dotar as universidades – organizações centrais na produção, disseminação e aplicação do conhecimento – dos recursos adequados para continuar a assegurar a sua competitividade internacional e a sua capacidade de atrair talento a nível global. Segundo a OCDE, o investimento do Estado no Ensino Superior português é inferior à média da União Europeia em cerca de 6000 dólares por estudante (em paridade de poder de compra, PPC). Multiplicando este valor pelo número de estudantes nas universidades públicas, conclui-se que o seu financiamento está 1,3 mil milhões de dólares PPC abaixo da média europeia.
A diferença tem-se agravado com o tempo e condiciona fortemente a ação das instituições. As dotações do Estado não cobrem sequer as despesas com pessoal, e obviamente não permitem qualquer investimento. Quanto à investigação científica, e de acordo com os dados estatísticos disponíveis, Portugal ainda está entre os países que menos investe nesta área. Para alcançamos a meta dos 3%, o investimento terá de aumentar significativamente nos próximos anos. O CRUP e as universidades que o integram são agentes transformadores do país e da sociedade, que competem e colaboram a nível internacional como nenhuma outra entidade pública portuguesa. Contribuem para o desenvolvimento equilibrado e coeso do território nacional e são um importante fator de atração de talento a nível global. Para sermos coerentes não basta reconhecer a importância do Ensino Superior e da ciência para o futuro do país. Para nos mantermos um país moderno, produtivo, competitivo e preparado para os desafios do futuro, temos de investir mais na ciência e nas instituições de ensino superior.
Paulo Jorge Ferreira, Presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas