Cristina Torres, foi eleita durante este ano como a nova Presidente do STAL, um feito de grande magnitude tendo em conta que é a primeira mulher a presidir a este sindicato. Neste sentido, em entrevista à Mais Magazine, a recém-presidente do sindicato fala sobre a importância desta eleição e sobre o trabalho desenvolvido pelo STAL na luta pelos diretos dos trabalhadores que representa.
Desde janeiro que o STAL tem uma nova Direção Nacional. Curiosamente, e pela primeira vez, tem uma mulher na presidência. Tem um significado especial?
Sim, assumir esta tarefa tem um significado especial. E espero que o facto de ser a primeira mulher a presidir ao STAL sirva de estímulo a uma maior participação das mulheres na vida sindical e neste sindicato, que tem dezenas de milhares de associados, com dirigentes e delegados em todo o País, e todos são importantes, seja qual for a profissão, homens ou mulheres, mais velhos ou mais jovens.
Quais os objetivos que levaram à criação do STAL?
Este sindicato, constituído em 24 de agosto de 1975, foi criado para representar e defender os interesses dos trabalhadores da Administração Local ou Regional, nomeadamente a melhoria das condições de trabalho, salários justos, segurança no emprego e respeito pelos direitos laborais. Lembro que o STAL foi o primeiro sindicato do sector público a constituir-se após a Revolução de Abril de 1974, e tal só foi possível após uma greve de 13 dias. O então governo de Pinheiro de Azevedo, a braços com a inédita paralisação das câmaras e com o lixo a acumular-se nas principais cidades do País, acabaria por autorizar a criação de sindicatos na Administração Pública.
Quais são, atualmente, as principais preocupações dos vossos filiados?
O aumento urgente dos salários, para recuperarmos o poder de compra. Esta é a prioridade. A lógica dos baixos salários na Administração Pública e os salários praticados no sector privado em profissões mais especializadas leva a que técnicos superiores, assistentes técnicos e mesmo em profissões específicas de assistentes operacionais, não se sintam atraídos pela Função Pública. O que conduz a um esvaziamento de quadros altamente qualificados em diferentes áreas, e a um desgaste a quem fica. Mas são também preocupações a revogação do atual sistema de avaliação (SIADAP), que retarda a progressão; a recuperação e valorização das carreiras; a correção da tabela salarial; a reposição do direito à indemnização por acidente de trabalho; a regulamentação do subsídio de piquete e de disponibilidade permanente; o pagamento a todos quantos é devido do Suplemento de Penosidade e Insalubridade, bem como a sua valorização e a inclusão do fator “risco”, como reivindicamos há anos. No sector empresarial, a prioridade vai para o direito e o respeito pela contratação coletiva, seja nas empresas municipais, nas do Grupo EGF, nas dezenas de empresas concessionárias da limpeza urbana, ou no Grupo Águas de Portugal; bem como a aplicação das 35 horas semanais para todos, e o fim da precariedade laboral.
Este ano, o STAL elegeu uma nova Direção Nacional. Quais as estratégias reivindicativas que pretendem assumir ao longo do mandato, até 2027?
Manter a luta pela resolução dos problemas dos trabalhadores que representamos, reforçar o Sindicato e dinamizar a ação em todos os locais de trabalho, para combater as políticas de direita. Os trabalhadores da Administração Local não esquecem os anos de 2011 a 2015, do governo PSD/CDS, de Passos Coelho e Paulo Portas, e todas as malfeitorias: cortes salariais e dos subsídios de férias e Natal; imposição das 40 horas semanais; aumento brutal de impostos e do desconto para a ADSE; perda do direito à indemnização por acidente de trabalho; entre outras. É preciso resistir e lutar, com a certeza de estarmos do lado certo da vida de quem trabalha!
O País tem um novo Governo. Quais as vossas expectativas e que desafios esperam desta nova legislatura?
Este quadro político é mau para os trabalhadores e para o País, coloca em risco os nossos direitos, sobretudo os salários e o horário de trabalho, os Serviços Públicos e as Funções Sociais do Estado. Conhecemos bem o apetite voraz pelo lucro dos grupos económicos. Mas os trabalhadores da Administração Local sabem que podem continuar a contar com a firmeza de sempre do STAL, na defesa intransigente dos seus direitos. O caminho a seguir é o da luta e da resistência.
Este ano, o País celebra os 50 anos da Revolução de abril, um marco de extrema importância para a Democracia e para a defesa dos direitos dos trabalhadores. Neste sentido, qual a importância dos sindicatos, em especial do STAL, na defesa de uma sociedade igualitária e democrática ao longo destas cinco décadas?
Os sindicatos livres são uma das grandes conquistas de abril! São o motor da coragem que a força dos trabalhadores, unidos e esclarecidos, alimenta, e que, mais cedo do que tarde, resultará numa sociedade mais justa, onde quem trabalha tem direito a uma vida digna e a ser feliz. E este ano, em que comemoramos os 50 anos da Revolução de 25 de Abril, estaremos também na rua a afirmar os valores de abril e as suas conquistas! Tal como em 1974, no 1.º de maio, reafirmamos o direito à Liberdade e ao Trabalho com Direitos na grande jornada de luta convocada pela CGTP-IN, em todo o País.
O STAL possui o seu próprio meio de comunicação, o “Jornal do STAL”, em que são explanadas as reivindicações dos trabalhadores. Em que medida é um veículo importante para divulgar a vossa luta e para angariar mais filiados?
O “Jornal do STAL” é um elemento primordial na ligação aos associados, a par dos outros meios de comunicação de que o STAL dispõe, como os canais digitais (Instagram, Facebook e sítio web), cada vez mais importantes, e os meios mais tradicionais em papel, como os comunicados. E estes meios visam informar, esclarecer e mobilizar os nossos associados e os demais trabalhadores. O STAL abrange todos os trabalhadores da Administração Local, técnicos superiores, administrativos ou operacionais, e procura responder às legítimas expectativas e reivindicações destes trabalhadores. E se muitos dos problemas que os afetam são comuns, como os salários ou o sistema de avaliação perverso, outros há que são específicos de cada profissão ou carreira. O “Jornal do STAL” cumpre, assim, um papel importante para “chegar” a todos estes trabalhadores. Mas é, sobretudo, no contacto direto, nos locais de trabalho e na resolução dos problemas concretos dos trabalhadores, que o STAL se afirma.