A Universidade de Évora oferece uma experiência única a todos os que a procuram para estudar, investigar ou lecionar. O facto do campus da Universidade de Évora se confundir com a própria cidade de Évora, Património Mundial da UNESCO, é apenas uma das suas características diferenciadoras. Nesta edição da Mais Magazine damos-lhe a conhecer, pela voz da sua Reitora, Hermínia Vasconcelos Vilar, esta instituição de ensino superior que se reinventa para responder às condicionantes do território e que assume o seu compromisso com a região, sem perder de vista a sua afirmação internacional, tanto no ensino como na investigação.
A Universidade de Évora foi a segunda universidade a ser fundada em Portugal, sendo um referencial de confiança no ensino superior. Poderíamos começar a nossa conversa por conhecer um pouco melhor o universo da Universidade de Évora e de que forma foi conquistando uma posição de destaque no panorama nacional e internacional?
Fundada em 1559, a Universidade de Évora assinala este ano o cinquentenário da sua refundação, em 1973, data em que foi criado o Instituto Universitário de Évora. A longevidade desta instituição centenária, e consequente experiência na área do ensino, determina a sua excelência e notoriedade no panorama de Ensino Superior. O seu posicionamento atual é o resultado dos esforços de gerações de docentes e investigadores que, quer no âmbito da sua atividade docente, quer à frente dos órgãos de gestão, souberam acompanhar as profundas transformações sociais, económicas e sociais, moldando a instituição numa simbiose única entre tradição e contemporaneidade. Hoje, a Universidade de Évora é constituída por uma comunidade académica que agrega cerca de 8500 estudantes, cerca de 600 docentes e investigadores e 450 técnicos em áreas de suporte transversal, em torno duma estrutura com 5 Escolas, 1 Instituto de Investigação e Formação Avançada, dezoito Unidades de Investigação, dez Cátedras e cinco Laboratórios Associados, dois dos quais liderados pela UÉ.
A Universidade de Évora está localizada numa região que é diariamente confrontada com as consequências das suas especificidades sociodemográficas. De que forma é que a Universidade se perspetiva em relação à região em que se insere, o Alentejo?
Embora a Universidade de Évora seja uma instituição de ensino superior com alcance internacional, não pode nem deve ignorar o território em que se insere, uma vez que tanto é afetada pelos condicionalismos que marcam esta região, como a sua ação se repercute no desenvolvimento desse mesmo território. É minha convicção que a Universidade deve assumir esse papel, fundamental para o reconhecimento e redimensionamento da região Alentejo, retomando uma visão glocal, alicerçada pela Estratégia Regional de Especialização Inteligente do Alentejo 2030 e a Agenda Nacional 2030 e nutrida pelos desafios e oportunidades no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência, da Aliança de Universidades Europeias na área da Sustentabilidade – a EU GREEN e do projeto em que se envolveu desde o primeiro minuto – Évora Capital Europeia da Cultura 2027. Permita-me concluir frisando que um dos quatro conceitos que enformam o Plano Estratégico 2023-2026 é o Compromisso com a Academia e com a Região.
Acabou de elencar três desafios futuros para a Universidade de Évora, que no fundo, correspondem às dimensões local, nacional e internacional da sua atuação. Considera que estes podem vir a traduzir-se num reforço do posicionamento da Universidade de Évora como referência em diferentes domínios do conhecimento?
Sim, estes são desafios, mas, simultaneamente, grandes oportunidades de crescimento e desenvolvimento, para a instituição e para a região. Por um lado, a Universidade de Évora é a única instituição portuguesa que integra a Aliança Europeia EU-GREEN, um consórcio europeu com nove instituições de ensino superior que implementará uma estratégia concertada para a formação de cidadãos e para o desenvolvimento de investigação inovadora que contribua para uma evolução favorável dos ecossistemas regionais onde se inserem. Na prática significa que estimulará a mobilidade de estudantes, investigadores e docentes, e reforçará as redes colaborativas entre os nove países que a compõem, por exemplo através de novos cursos como os BIP (blended intensive courses), alguns dos quais já em funcionamento. A EU_GREEN será uma peça-chave para a consolidação da internacionalização do nosso ensino e da nossa investigação. A Universidade de Évora é igualmente membro ativo de redes e parcerias internacionais que suportam a nossa investigação e a mobilidade de docentes e de alunos, entre diferentes países, com realce para os países de expressão portuguesa. Quanto ao PRR, no que respeita aos programas Impulso Jovem e Impulso Adultos, estes permitem-nos, por um lado, atrair mais jovens a prosseguirem os estudos, através da atribuição de apoios e, por outro, estimular o desenvolvimento de carreiras e a aquisição de novas competências, por parte de adultos, em cursos de formação de curta duração, as microcredenciais. Assim a Universidade de Évora poderá responder mais efetivamente às necessidades concretas da comunidade local, em termos de formação. Por último, é na confluência entre a cultura, a arte e a ciência, que se geram as múltiplas possibilidades de cooperação e desenvolvimento multidimensional de Évora Capital Europeia da Cultura 2027. Nas últimas duas – Arte e Ciência_ a Universidade de Évora pode e deve ter um contributo essencial, quer através da Escola de Artes da Universidade de Évora, quer através das várias outras Escolas e da articulação que assegura com a sociedade.
Tendo como missão a transmissão e produção de conhecimento, e baseando as suas estratégias no contexto regional em que se insere, conforme atrás referiu, a Universidade de Évora alicerça a sua atuação em áreas de desenvolvimento estratégico que a distinguem de outras instituições de ensino superior públicas portuguesas. Quais são?
Uma das especificidades da UÉ passa pelo caráter transdisciplinar das nossas formações e da nossa investigação. Por isso, as áreas de desenvolvimento estratégico que definimos- Ciências e Tecnologias Agrárias; Ambiente, Ordenamento do Território e Energias Renováveis; Património, Turismo e Artes; Digitalização e Ciência de Dados; Aeroespacial; Saúde e Bem-Estar- não devem ser vistas como áreas estanques; muito pelo contrário. O seu caráter transdisciplinar confere uma identidade, diferenciadora à nossa Universidade. Queremos consolidar a liderança da UÉ em áreas onde possui recursos e competências instaladas e acumuladas, tanto no ensino como na investigação.
Atualmente, a Universidade de Évora oferece um total de 42 licenciaturas, 61 mestrados, 35 doutoramentos e 16 pós-graduações, para além de múltiplas formações de curta duração, integradas em cinco Escolas: Escola de Artes, Escola de Ciências e Tecnologia, Escola de Ciências Sociais, Escola de Saúde e Desenvolvimento Humano e Escola Superior de Enfermagem S. João de Deus e o Instituto de Investigação e Formação Avançada. Como descreve a oferta formativa da Universidade de Évora?
A oferta formativa da UÉ é atualmente abrangente, em todos os domínios do conhecimento, das Artes, às Ciências e Engenharias, das Ciências Sociais e Humanas à Saúde, tendo a particularidade de, em algumas áreas, garantir, em fases iniciais do percurso académico, uma componente prática. O investimento recente em algumas áreas reflete uma aposta da instituição em ir ao encontro das necessidades sentidas pela sociedade. Refiro-me em particular à licenciatura e mestrado em Inteligência Artificial e Ciência de Dados submetidos à acreditação e que esperamos poder oferecer já no próximo ano letivo, aos mestrados de formação para ensino em diferentes áreas, mas também a aposta na área da Saúde, como é o caso das Ciências Biomédicas, licenciatura já oferecida desde 2021/2022 e das Ciências Farmacêuticas, que esperamos também vir a oferecer brevemente.
Outra especificidade é o funcionamento quase umbilical entre os programas de doutoramento e os centros de I&D, o que proporciona aos nossos doutorandos condições excecionais. No meu entendimento a inovação deve ser transversal à atuação das instituições de ensino superior; este é, por isso, outro dos conceitos chave do plano estratégico 2023-2026, que perpassa necessariamente o Ensino, um dos pilares das IES. Queremos inovar no ensino e, por isso, a oferta formativa, mas também as práticas pedagógicas evoluirão, necessariamente, em harmonia, por um lado, com as prioridades da UÉ e os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU, e, por outro, tirando partido das formações inovadoras no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
Outro dos pilares das Instituições de Ensino Superior é a Investigação e Inovação. A Universidade de Évora tem vindo a destacar-se nesta área, integrando consórcios nacionais e internacionais, com resultados evidentes. Pode desvendar qual a estratégia que alicerça estes resultados?
Com 18 Centros de I&D avaliados pela FCT, 31 Programas Doutorais, 10 Cátedras, a que se junta a coordenação de dois Laboratórios Associados em áreas emergentes, um na área do Património, Artes, Sustentabilidade e Território, o IN2PAST, e outro dedicado à Mudança Global e Sustentabilidade em Portugal, o CHANGE, e múltiplos prémios, nacionais e internacionais, que reconhecem a excelência da investigação e inovação, a crescente afirmação institucional a este nível só é possível graças a uma estratégia integrada, com uma ampla participação dos nossos investigadores e ao papel desempenhado pelo Instituto de Investigação e Formação Avançada. Cabe realçar a este nível a participação da Universidade em 9 agendas mobilizadoras, financiadas no âmbito do PRR, e que reúnem empresas e instituições do Ensino Superior. Mas também a importância das cátedras, as quais, em diferentes áreas, permitem uma maior ligação entre a sociedade e a universidade, e cujo número tem vindo a crescer trazendo para o interior da academia novos parceiros.