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O core business deste grupo é a “gestão sustentável de resíduos”, algo que é feito em todas as suas instalações espalhadas pela Europa, incluindo a Península Ibérica, “de acordo com as melhores tecnologias disponíveis”. Em território nacional, o foco prende-se com a “gestão de resíduos industriais perigosos”, num mercado onde “há falta de opções de investimento”, mas que é muito assente em “soluções baratas de deposição de resíduos em aterros”. Já “a atividade da empresa a nível internacional abrange os vários segmentos de mercado, nomeadamente os resíduos perigosos e não perigosos, industriais, domésticos e hospitalares”.

Estão em terras lusas desde 2001, em Abrantes, dedicando–se à gestão de resíduos perigosos. Por cá, a Estação de Transferência da Indaver nesta cidade serve “como um entreposto logístico, de armazenagem e de loteamento dos resíduos, antes desses serem enviados para o respetivo tratamento final”. Atendendo à carteira de clientes, ou seja, “indústrias químicas, petroquímicas e farmacêuticas”, o caráter da inovação é “obrigatório”, como nos conta Sandra Freitas, diretora do grupo em Portugal e Espanha. Isto porque, por um lado, “têm de acompanhar a evolução tecnológica” dessas infraestruturas, que “produzem resíduos cada vez mais complexos, em termos de composição química” e por outro, trabalhar pela sustentabilidade “apenas é possível ao apostar em soluções de valorização, quer material e energética”.

No ano transato, a multinacional em Portugal “geriu um total de cerca de oito mil toneladas de resíduos, das quais cerca de três mil” foram geridas nessa infraestrutura, do distrito de Santarém. Todavia, as diferenças da indústria portuguesa deste setor tendem a ser notórias. Desde logo as unidades fabris, “quando comparadas com as do países do centro e norte da Europa, são de pequena e média dimensão”. Para além disso, a falta de progressão “reflete-se também nos investimentos, pois “há tecnologias de tratamento mais eficazes, mas que são rapidamente excluídas das opções, porque não há escala económica suficiente para viabilizá-las”. A acrescentar a estes pontos, verifica-se que “o mercado de resíduos português ainda é demasiado assente em soluções baratas, pelo menos a curto prazo, de deposição de resíduos em aterro”.

A par da inovação e do “fazer diferente” pelo meio-ambiente encontra-se a “IndaChlor”, a nova incineração especial, desenvolvida em 2021, em França e que se “dedica exclusivamente ao tratamento de resíduos perigosos com elevado teor em cloro, produzindo “vapor e ácido clorídrico que, por pipeline, abastecem empresas vizinhas.” Acerca desta recente aposta, Sandra Freitas assume que a unidade é “um bom exemplo de economia circular, em que os resíduos perigosos são transformados em energia e matéria-prima e de seguida utilizados por outras indústrias”. A própria ainda confessa que “a proximidade geográfica entre as várias empresas envolvidas” no processo acabou por ser “crucial para assegurar a sustentabilidade económica deste projeto”.

Os desafios do setor de gestão de resíduos, o papel aquém do Governo e a perspetiva do futuro

“Burocracia e a carga administrativa (…) imposta pela Administração Pública” são as palavras-chave para classificar os desafios diários que hoje em dia todos os operadores de resíduos enfrentam. Nota-se uma multiplicação dos reportes, a complexidade e lentidão na execução e aprovação dos “processos de licenciamento” e por vezes até existe uma “sobreposição de competências entre entidades”.

Ainda neste tema, Sandra Freitas dá um recado ao Governo português, quando diz que esse “tende a achar que a simplificação administrativa” passa por pôr as empresas a preencherem “dados online todos os dias”. Logo, a responsável pela Indaver Portugal e Espanha revela que nesse sentido existe muito para fazer, afinal “tudo aquilo que não tem sido feito nos últimos anos”. Para inverter a situação, em primeiro lugar afirma que “a gestão sustentável de resíduos como fator chave de uma economia circular deveria ser uma prioridade nacional”, cenário que não tem ocorrido, levando o país “aos números pobrezinhos de desempenho ambiental, incluindo umas singelas taxas de reciclagem, que nos deixa embaraçados nos reportes para Bruxelas.” E em segundo, destaca que devem ser reunidos esforços para “fazer cumprir a lei” existente, pois se isso acontecesse, haveria “um desempenho ambiental fabuloso” e este país “seria um exemplo a nível internacional”.

Por isso, o futuro do setor de gestão de resíduos, deve passar pela “maior exigência de desempenho ambiental”, mas também por uma evolução rápida o suficiente, de modo a que “de uma vez por todas Portugal dê um salto qualitativo e não seja sistematicamente dos últimos da tabela”.

Já que se estava a falar de balanços, Sandra Freitas quantifica positivamente os “20 anos de atividade” da Indaver Portugal, divulgando que têm crescido “em sintonia com os valores” do grupo – “preocupação com as pessoas e meio–ambiente”, estabelecimento de “relações de confiança com os stakeholders”, concretização de “ações transparentes e foco nos resultados e melhoria contínua”- e que esses permanecem “atuais e serão o motor de força para continuarem a crescer e a enfrentarem” os próximos desafios.