Um estudo recente da Gulbenkian indica que, em Portugal, “o aumento salarial médio por ano adicional de escolaridade tem vindo a descer significativamente para as gerações mais recentes – de 10% para 5%”. Conclui a Gulbenkian que, “apesar de as gerações mais recentes serem mais escolarizadas que as suas antecessoras, isso não se está a refletir em melhores salários”.
É importante afirmar que isto – a desvalorização dos licenciados em Portugal – não faz sentido nenhum! Não faz sentido ter a frequentar o ensino superior o maior número de jovens de sempre e, ao mesmo tempo, desvalorizar o valor salarial das competências que eles estão a adquirir. Não faz sentido nenhum, nem para as empresas, nem para o Estado!
Ora, sendo a responsabilidade das empresas muita, importa dizer que a responsabilidade do Estado – ou seja, do Governo – é maior. É maior porque o Estado deve dar o exemplo, uma vez que conduz a política geral do país. Em 2023 a responsabilidade até aumenta, uma vez que, porventura pela primeira vez, as finanças públicas dispõem de margem para pagar melhor às carreiras especiais da Função Pública. Existe margem e – como Mário Centeno provou quando era ministro – os aumentos salariais não conduzem à insustentabilidade das contas públicas, pelo contrário!
O problema é que o Governo está a agir ao contrário das evidências: em vez de ter uma política que premeie o conhecimento, o estudo e a qualificação das competências, paga mal aos professores, paga mal aos médicos e aos enfermeiros, paga mal aos oficiais de justiça, paga mal aos informáticos que trabalham para instituições públicas, etc.
O ex-ministro Paulo Pedroso afirmou ao Expresso, no final de agosto, que Portugal tem hoje o mesmo clima que existia há 50/60 anos nos países de Leste, com a melhoria dos níveis de educação a criarem uma população sobrequalificada e frustrada.
Ora, é este clima que tem de ser invertido. Invertido para que o aumento de qualificações da população portuguesa possa ser transmitido à sociedade e à economia. E, também, para que a emigração de portugueses bem preparados para países europeus onde os salários são muito mais altos possa ser estancada.
O último acordo social celebrado entre patrões, sindicatos e Governo prevê que os salários aumentem 20% até ao final da legislatura. A única explicação para terem chegado a este acordo é, não só o Estado ter margem para tal, como, no caso das empresas, estas perceberem que apenas com trabalhadores mais qualificados podem inovar e tornar os seus bens e serviços mais competitivos no mercado global.
Sendo assim, não há que hesitar: aumentem quanto antes os salários dos licenciados e aumentem os estímulos à frequência do ensino superior! É esta a chave para o desenvolvimento de Portugal.