Outrora vai o tempo em que o cão e o gato eram restringidos ao ambiente de casa, não partilhando dos nossos aquecedores, lareiras, do bocadinho de fiambre e mimos constantes. Ao longo dos últimos anos temos vindo a assistir a uma mudança de comportamento do ser humano. Talvez a solidão, talvez a descoberta das vantagens de privar com um animal de estimação, talvez até por moda, vemos um acréscimo de animais nas nossas casas usufruindo de todo o conforto e, principalmente, usufruindo de uma nova consciência acerca dos seus cuidados e das suas necessidades. A meu ver uma nova era paira no mundo da Medicina Veterinária em Portugal. Lembro-me dos finais dos anos 90… falar sobre quimioterapia era quase uma utopia… colocar um pacemaker cardíaco era impensável e proceder a um tratamento como hemodiálise em animais com insuficiência renal era proibitivo… falava-se nestas práticas em países como América, Reino Unido ou Austrália. Parecia tão longínqua a possibilidade de aplicar novas tecnologias na prática veterinária naqueles anos. Tempos passaram, e não tantos assim e assistimos a um incremento de todas atividades que envolvem a medicina veterinária: o aumento de instituições de ensino, do número de alunos, dos centros de atendimento médico-veterinários , um maior enfoque noutro animais de companhia (furões, animais exóticos, entre outros), nas especialidades médico-veterinárias e vemos também um desejo dos mais novos em serem especificamente excelentes numa determinada área, trazendo uma melhoria significativa nos cuidados prestados, não esquecendo porém, o grande “know-how” que a massa de médicos veterinários mais experientes “da antiga guarda” sempre proporcionou às gerações mais novas. Os cuidados veterinários trazidos por esta nova dinâmica de cuidadores/tutores, leva-nos à constatação do aumento do aparecimento de doenças crónicas e das temidas doenças oncológicas. A existência de animais mais idosos é uma realidade e a exposição destes animais sujeitos a fatores de risco idênticos aos dos seres humanos, como alimentação, poluição, fármacos, etc, torna-os suscetíveis a estas patologias, ainda que mantendo algumas especificidades. Este enquadramento tem exigido da comunidade veterinária um empenho significativo nesta área sensível, a do cancro e, cada vez mais premente no nosso dia a dia. Patologistas/oncologistas e tutores trabalham em equipa para curar e/ou promover o maior conforto ao seu animal. Doenças oncológicas, como o cancro da mama, cancro da pele e cancro gástrico/intestinal, são cada vez mais frequentes, sendo o linfoma, os adenocarcinomas, o mastocitoma, entre outros, as neoplasias diagnosticadas diariamente no meu dia-a-dia. Atendendo ao grande avanço tecnológico presenciado nos últimos anos, o grau de exigência em termos de conhecimento e da qualidade na prestação dos nossos cuidados aos nossos animais de estimação é imperativa, pelo que desenvolver equipas de trabalho mais especializadas e dinâmicas é uma questão evolutiva e incontornável, para a partilha e aprofundamento de conhecimentos. Neste patamar fomentar a especialização e o intercâmbio entre as universidades e estas com empresas dedicadas à área científica, é sem dúvida uns dos desafios atuais. O futuro próximo requer o recurso a uma maior aquisição de competências e maior interação entre colegas cruciais para uma evolução e uma prestação de serviços com a qualidade devida e desejada pelas equipas. A formação contínua avançada e a aposta nos recursos tecnológicos, devem ser, sem dúvida o foco nos tempos que se avizinham.
Ana Canadas de Sousa, Patologista Veterinária