Deu-se a coincidência desta edição estar a ser finalizada pouco depois de 24 de março, data em que a democracia ultrapassou em número de dias a ditadura. A ocasião marcou o início das comemorações oficiais dos 50 anos do 25 de Abril, este ano com uma programação mais alargada devido ao aniversário redondo. O balanço da “meia-idade” da democracia não cabe aqui, mas um dos progressos indiscutíveis foi ao nível da educação. A ela dedicamos-lhe o merecido espaço nesta revista.
Todos nos lembramos das histórias dos pais e avós sobre a separação por géneros nas salas de aulas, a “pedagogia” do Estado Novo e do ensino autoritário, com recurso a castigos físicos. Decorridos 50 anos, muito mudou na Educação que, a par com o Serviço Nacional de Saúde, é considerada por muitos a maior conquista da democracia. Mesmo em tempos de pandemia, a Escola parece não ter desiludido. Um inquérito feito pela Deco no ano passado dá conta que a instituição que mais confiança inspira nos portugueses, de entre instituições nacionais e internacionais, é o sistema de educação público.
Deixamos os testemunhos das escolas que, um pouco por todo o país, trabalham diariamente para garantir um futuro aos seus alunos, mas também para formar cidadãos mais avançados. Afinal os “quatro pilares” da Educação para a UNESCO definidos em 1999 são: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser.
“Ser e ter” (2002) é precisamente o título do documentário de Nicolas Philibert, acompanhando ao longo de um ano um professor perto da reforma que ensina crianças entre os 4 e 11 anos. Georges Lopez cria uma espécie de bolha onde a afetividade e a compreensão têm como resposta o respeito dos alunos. Uma sala de aula que contrasta com a geografia e o clima frio daquela região de Auvergne. Temos vislumbres da vida das crianças na comunidade rural, a ajudar os pais no trabalho, o modo como estes têm de ser sensibilizados para um tipo de educação diferente daquela que tiveram.
Não há como não projetar neste professor o idealismo de quem se recusa a aceitar que o ponto de partida de uma vida tem de definir o resto dela. Afinal esta é também uma lição e uma conquista de Abril.