O mote para a nossa conversa com Nuno Araújo, Presidente da APDL (Administração dos Portos de Leixões, Douro e Viana do Castelo), foi a recente gestão do Terminal Ferroviário de Mercadorias da Guarda, da qual o próprio elencou os seus “óbvios benefícios”. Não só para a cidade em questão, mas também a nível logístico e económico.
Qual é a importância do Porto de Leixões para o país?
O Porto de Leixões representa, atualmente, 6% do PIB e emprego nacional, e 11% do PIB e emprego da região norte, contribuindo ainda para 20% do comércio externo por via marítima com ligação a mais de 184 países. É o segundo maior de Portugal em toneladas movimentadas e o maior no que se refere ao movimento de e para o hinterland em carga contentorizada, num universo de mais de 14 milhões de habitantes.
De que forma o Porto de Leixões beneficiará da modernização da linha da Beira Alta e quais foram os benefícios logísticos e económicos sentidos com a transferência da gestão do terminal ferroviário da Guarda?
A APDL, nomeadamente o Porto de Leixões, vão beneficiar com a modernização da linha da Beira Alta. Trata-se de uma oportunidade de aumentar o hinterland, estendendo o foco de ação, criando novas estratégias de crescimento e desenvolvimento na região.
A integração do Terminal Ferroviário da Guarda na jurisdição da APDL trará óbvios benefícios. A sua localização estratégica, com proximidade a Espanha e as boas acessibilidades são fatores preponderantes. Existe um elevado potencial para a captação de mercadorias, permitindo alavancar o negócio da APDL, aumentando a cota de mercadorias movimentada pelo Porto de Leixões através da ferrovia e, não menos importante, irá permitir um maior desenvolvimento de toda a região.
O porto de Leixões é o primeiro com tecnologia 5G em Portugal. Que portas se abrem com esta iniciativa tecnológica?
O 5G é um caso de sucesso, um poderoso facilitador e uma tecnologia que vemos como essencial pelas características de serviço que oferece ao nível de alta velocidade, baixa latência, fiabilidade e segurança melhorada, e será fundamental para a competitividade e sustentabilidade do Porto de Leixões.
Como avalia o estado do setor e do transporte marítimo em Portugal?
Atualmente, os desafios em torno do sector são exigentes e mobilizam os esforços das autoridades portuárias para responder com maior eficiência a todas as empresas, procurando soluções que possam estimular as cadeias logísticas ligadas ao transporte de mercadorias. O transporte marítimo enfrenta hoje paradigmas de mudança constante, fruto da realidade socioeconómica que vivenciamos, e a APDL continua atenta à conjuntura internacional e preparada para continuar a servir Portugal e a sua economia.
Quais as ações que a APDL tem vindo a desenvolver para atingir a meta da neutralidade carbónica, nomeadamente no Porto de Leixões?
O Porto de Leixões deu início ao processo de transição energética de forma a atingir a neutralidade carbónica até 2035, 15 anos mais cedo que o estipulado no chamado European Green Deal, tornando-se o primeiro porto na Europa a ser autossuficiente a nível energético, com capacidade para obter toda a sua energia a partir de fontes renováveis. Das várias medidas destaca-se a já em vigor proibição de circulação e entrada de camiões até Euro IV. A APDL fez um investimento de mais de 14 milhões de euros na aquisição de dois rebocadores de última geração que consubstanciarão a redução de 80% das emissões poluentes, e encontra-se em operação um camião elétrico na área portuária, como projeto piloto. Estamos a promover a eletrificação dos cais e terminais, incentivando o setor marítimo a acompanhar estas mudanças e a criar condições para a conversão dos navios para a receção de fontes alternativas e mais limpas de energia, quer a nível dos portos, quer mesmo na Via Navegável do Douro, e outras medidas estão a ser estudadas para a sua implementação.
Que projetos têm em mente para o futuro do porto de Leixões? Fale-nos por exemplo da fase em que se encontra o projeto Janela Única Logística.
O Porto de Leixões será palco de projetos decisivos, como a obra das acessibilidades marítimas, onde se inclui o novo terminal e o prolongamento do quebra-mar, que resultará num salto qualitativo do porto, já que ficará dotado de capacidade de receção de mais de 70% da frota mundial de navios, dado que hoje em dia recebemos cerca de 40%. A JUL já está em funcionamento em Viana do Castelo e preparamos a sua integração no Porto de Leixões, prevista para setembro.
Foi divulgado no passado mês de abril, pela APDL e a Câmara Municipal de Viana do Castelo a promoção de um estudo prévio de uma ligação ferroviária ao porto desse município. Com a concretização dessa ligação, que ganhos serão sentidos?
O estudo prévio para o Desenvolvimento do Porto de Viana do Castelo, que a APDL concretizará em conjunto com o Município de Viana do Castelo, pretende estabelecer um perfil adequado para a potenciação do uso do Porto Marítimo de Viana do Castelo, nomeadamente no que respeita à movimentação de carga pelo tecido empresarial da região. Essa ligação poderá, eventualmente, assumir-se como fator de desenvolvimento da atividade portuária, constituindo uma mais valia suscetível de cativar para o porto novos segmentos de mercado, que de outro modo seria impossível.
Recentemente, o administrador da Socrenaval afirmou que existia um entendimento com a APDL, que até considerava positivo. Confirma-o? Em que ponto de situação se encontram as negociações com essa empresa?
A APDL reconhece a importância da dimensão social, cultural e histórica da atividade de construção e reparação naval, em madeira e, em especial, dedicada à construção e reparação das embarcações tradicionais do rio Douro desenvolvida pela Socrenaval, sem prejuízo do cumprimento legal das suas obrigações enquanto autoridade administrativa com jurisdição sobre a parcela que integra o Domínio Público Hídrico. Há um entendimento onde se acautela a possibilidade da Socrenaval manter a ocupação do espaço em apreço, até à adjudicação do procedimento de iniciativa pública, para a atribuição de um Título de Utilização de Recursos Hídricos sobre a mesma área, sem prejuízo da mesma poder sofrer os ajustes que se mostrem necessários e convenientes à realização do interesse público.