: Mais Magazine:: Comentários: 0

A Herança Cultural de Portugal apresenta-se aos olhos dos portugueses, e também ao mundo, num registo multiforme de gestos deveras significantes. O Património Cultural Imaterial traduz em primeiro lugar um acervo de experiências vividas e partilhadas, transmitidas de geração em geração, assimiladas e transformadas com os mais diversos contributos. Por vezes até mesmo através de inovações, que pouco depois se guindam à condição de “tradição”.

A memória é um lugar poderoso. É sobretudo um lugar de manifestação de quem somos e um lugar de comunhão do que somos. Não enquanto indivíduos somente, mas enquanto indivíduos gregários e partícipes de algo que transcende o individual. O Património Cultural Imaterial é, também por isso, o pulsar vivificante de uma comunidade, a comunidade que somos juntos, com um tempo longo de memória e de futuro.

Num lugar é o folclore que ganha relevo, noutro o transcendente na sua manifestação religiosa, noutro ainda a força da natureza que convoca ao extraordinário, ao fora do comum, à romaria, à festa. Noutros lugares é a gastronomia a forjar relações, a música, a criação artística irreverente e indisciplinada, o gracejo, o atrevimento da expressão, a força do querer ser outro, como tantas vezes desejamos, em registo de melancolia ou em registo de simples e total folia.

O ser humano tem esta admirável natureza: uma ilimitada capacidade para recriar os desejos, com expressões muito plurais, e o saber, aprofundando os desejos, produzir infinitos sonhos, pois os sonhos conduzem sempre a que o humano aspire a algo maior.

O Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial é um instrumento singular de reconhecimento das manifestações culturais que densificam a Herança Cultural dos portugueses. Até ao momento e desde que em 2009/2010 foi regulamentado o processo pelo Ministério da Cultura, foram já alvo de apreciação 175 pedidos de inscrição no Inventário Nacional, tendo 63 das manifestações conseguido esse registo. Destas 63 manifestações, 11 foram inscritas na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade.

A participação cívica e institucional no reconhecimento e na valorização do Património Cultural Imaterial deu lugar à constituição de uma “Rede Nacional” participada por mais de oitenta entidades, que funciona como uma plataforma informal de partilha de conhecimento, experiências e boas práticas com vista à salvaguarda deste importante património.

Juntos fazemos mais e melhor. Vivemos sobretudo mais comungados e unidos nas muitas diferenças que nos enriquecem e irmanam. O Património Cultural Imaterial é, sem dúvida, um lugar de memória. Mas é sobretudo um lugar de vida e de encontro.

João Soalheiro, Presidente do Conselho Diretivo do Património Cultural, I.P.