A Mais Magazine foi falar com a RVdM, arquitetos em Aveiro, para tentar perceber como trabalha este atelier liderado por Ricardo Vieira de Melo, doutorado em arquitetura e também mestre em design de equipamento. Para este arquiteto a arquitetura é um meio privilegiado para melhorar a qualidade de vida e o conforto humano, no respeito pela memória, a biodiversidade e o ambiente. Sendo professor universitário de arquitetura no Porto, foi também professor convidado do curso superior de design da Universidade de Aveiro e entende que o desenho projetual é um instrumento político poderoso para propor, organizar e antecipar.
O que entende que possam ser os principais aspetos diferenciadores da prática profissional da RVDM na arquitetura?
Tentamos sempre acrescentar valor aos programas e desejos dos clientes, sejam eles públicos ou privados. Julgo que essa é a nossa responsabilidade enquanto especialistas. Em alguns casos temos conseguido fazer mais com menos, transformando os espaços e os lugares em ambientes atrativos e confortáveis. (…) a publicidade tem-se conseguido com os clientes satisfeitos.

De que forma introduz a sofisticação, o conforto e a exclusividade que distingue os seus projetos?
A organização do espaço é a matriz essencial sem a qual nada do que a acompanha se pode valorizar. Não vale a pena utilizar materiais caros ou mais expressivos para mascarar algum descontrolo espacial. Afinal de contas, a arquitetura é sobre o modo como se define o vazio – o espaço. Para rentabilizar e qualificar os espaços e os lugares é importante atender ao conjunto que os constrói e organiza. Também a arquitetura é conforme as circunstâncias que a rodeiam. Se bem utilizada e respeitada (hoje o respeito pela arquitetura nem sempre acontece…), ela responde satisfatoriamente, com qualidade e requinte, controlando um amplo número de variáveis – a iluminação natural, o conforto, a economia, a inserção na paisagem, entre outras. Já desde o início do séc. XX se afirmava que era necessário desenhar ‘da colher à cidade’. Esse controlo do projeto não significa imposição ou ‘totalitarismo’, mas garante coerência. Nas atuais práticas de projeto, incentiva-se um processo mais participativo e plural. Mas tal não significa que se tenham de acolher todas e quaisquer ideias e vontades. Será sempre necessário hierarquizar e escolher. O interesse público não deve ser prejudicado por desejos privados. O projeto é uma escolha informada.
Que tipo de experiência o cliente pode esperar ao escolher o RVDM para transformar o seu espaço?
Como dizia, é um trabalho de ‘equipa’. O cliente tem de ser incluído no processo, sempre! Frequentemente os clientes vão ganhando entusiasmo durante essa experiência. Explicamos cada decisão tomada. A escolha de uma cor ou um material, uma forma ou uma disposição espacial têm de se explicar. E à medida que estas escolhas vão sendo partilhadas os clientes vão aderindo cada vez mais nas soluções que apresentamos.
Há desafios muito interessantes quando surge um projeto que nos obriga a sair da nossa perspetiva e entrar na visão do outro. Esse exercício, essa troca de interesses, quando equilibrados, costuma resultar em boa resposta espacial e ambiental. O desconhecido entusiasma a Arquitetura. Apela à novidade e à descoberta. O projeto é essa procura e, frequentemente, é muito gratificante.


Muito do seu trabalho gravita em torno da habitação, e a sua área de investigação tem sido, desde o doutoramento, os espaços domésticos. O que nos pode revelar da sua experiência nesse campo?
A casa será sempre um programa muito solicitado. Há 100 anos o mundo ficou dividido entre a casa e a cidade, como em 1800 tinha ficado dividido entre a cidade e o campo. Hoje, quando se fala da crise de habitação não se pode falar só das casas ou do ambiente doméstico. A ‘casa’ já não é um espaço isolado, hoje a casa é um dos ramos do nosso habitar. Habitam-se muitos espaços e lugares.A casa já foi muito polivalente, antes de 1900, para passar a ser muito especializada quando apareceram as máquinas. Sobretudo no mundo ocidental, muito associado à revolução industrial, as casas e os apartamentos passaram a ter compartimentos especializados – a lavandaria, o escritório, a biblioteca, ou até a ‘sala de costura’. Na realidade, a casa urbana e burguesa começou desde cedo a transformar-se numa ‘máquina de habitar’, como se cada compartimento fosse uma peça de um motor uniformizador. O modernismo, manifestou veementemente essa ‘necessidade’ de ordem, regra e especialização. Mas a evolução dos modelos familiares e a democratização da cidade, têm alterado a forma como atualmente se habitam as casas e se beneficia da cidade.
Parece-lhe então que na arquitetura e no design, eventualmente no urbanismo já existem novos padrões?
Claro que sim, a sociedade altera-se, as prioridades também. Na governação das cidades atentas ao seu tempo e ao futuro, os novos referenciais já não são nem as catedrais, nem os centros comerciais, é, de novo, a natureza. Esse é o novo ‘luxo’. Parques e frentes aquáticas são cada vez mais valorizadas e introduzidas nos projetos. O espaço público nunca pode ser o que ‘sobra’ do privado. A casa como a cidade começam lentamente a deixar de ser espaços ‘mecânicos’ e estéreis para serem interfaces com a natureza. Afinal de contas é ela que comanda o nosso bem-estar. A nossa sustentabilidade, desde a biológica à ecológica, da económica à social passa por ajustar soluções naturais às artificiais. Apesar de estarmos numa época do instantâneo e do ‘aparentemente fácil’, a arquitetura só é ‘simples’ para quem a domina, com o tempo necessário para otimizar processos e resultados. A verdadeira arquitetura nunca é cenário!

