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Iniciado em 2006, junto à Colina Sagrada e em frente ao Paço dos Duques de Guimarães, a Cor de Tangerina é muito mais do que um restaurante, é um espaço de educação alimentar e de intervenção ambiental, bem no coração do Centro Histórico de Guimarães. Em entrevista à Mais Magazine, Liliana Duarte e Álvaro Dinis Mendes, Chefes e gestores da Cor de Tangerina, abordam a importância de um consumo sustentável e ecológico, evitando o desperdício alimentar e aproveitando todos os recursos que a natureza nos dá.

Com a ambição de criar um projeto alimentar que se orientasse pelo respeito pelas pessoas e pelo ambiente, em 2006 surge a Cor de Tangerina, à época uma cooperativa multissectorial de serviços fundada por cinco colegas que partilhavam a ambição de deixar uma marca. Atualmente, liderada pelos Chefs Liliana Duarte e Álvaro Dinis Mendes, a Cor de Tangerina é já um projeto com uma posição bem vincada no setor da restauração e formação alimentar, mas Liliana salienta que as mentalidades fechadas foram um obstáculo difícil de superar nos primeiros anos de atividade. “O projeto era muito vanguardista na época e os primeiros seis anos foram bastante difíceis. Na altura, embora houvesse uma preocupação crescente com as questões ligadas ao desenvolvimento sustentável, eram poucos os projetos desta natureza. Foi necessário abrir mentalidades e consciencializar as pessoas para uma alimentação sustentável e ecológica”, refere a Chef do restaurante.

Liliana Duarte explica que o nome do espaço vai precisamente ao encontro da missão de tentar fazer algo diferente, na medida em que “parece laranja, mas não é”, ou seja, “com os mesmos produtos tentar fazer algo diferente, a mesma perspetiva, mas com um ângulo distinto”. Por isso mesmo, na Cor de Tangerina existe uma aposta muito vincada no desenvolvimento sustentável da alimentação, com a aposta em produtos endógenos e da época, na compra diretamente aos fornecedores e na utilização de produtos frescos. No fundo, trata-se de uma forma multidisciplinar de trabalhar os alimentos, tratando a comida como um “ato político, biológico, económico e até mesmo filosófico”. Mais do que um restaurante como um espaço físico, a Cor de Tangerina pretende ainda assumir-se como um projeto intermunicipal de formação alimentar junto das comunidades.

A missão de levar aos portugueses uma alimentação mais saudável fez com que a Cor de Tangerina rapidamente se aliasse ao Pacto Climático de Guimarães, numa tentativa de conseguir que mais projetos, nas mais distintas áreas, cresçam sob a linguagem da sustentabilidade. “A Cor de Tangerina está prestes a celebrar 20 anos de existência e, embora no início nos sentíssemos um pouco isolados, não havendo um projeto idêntico ao nosso na região, a verdade é que ao longo dos anos têm surgido projetos que se regem pela sustentabilidade e o próprio município tem apostado nesse sentido. Esperamos que esta iniciativa ajude a cimentar esta premissa nas várias áreas de negócio e que possa atrair novas pessoas. No fundo, toda a cidade vai entrando no espírito da sustentabilidade, o que é muito positivo”, ressalta Liliana Duarte.

O meritório trabalho da Cor de Tangerina na cozinha de base vegetal foi também reconhecido a nível nacional nas 7 Maravilhas da Nova Gastronomia, onde saíram vencedores, na categoria vegan, com o prato Mil-Folhas de Batata, Cantarelos e Bolota. Uma aventura que surgiu pelo ponto de partida de criar um prato que representasse a região, aproveitando produtos que outrora eram muito comuns na alimentação do ser humano, mas que aos dias de hoje, graças à abundância, são alvos de desperdício e colocados fora do circuito comercial, como é exemplo a bolota. “Este prato é uma verdadeira ode ao património vegetal local, utilizando produtos em desuso com um enorme potencial nutricional”, salienta a Chef. Para além disso, esta premiação foi uma forma de alcançar novos públicos, nomeadamente públicos mais conservadores, ainda um pouco à margem das práticas alimentares ecológicas.