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Líder no mercado nacional em soluções de transporte, a Thales Portugal já equipou ao longo dos últimos 30 anos mais de 1.200 quilómetros de rede ferroviária nacional. João Araújo, CEO da Thales Portugal, falou à Mais Magazine sobre o importante papel desempenhado pela empresa na melhoria da ferrovia portuguesa e desvendou alguns dos objetivos e desafios para o futuro.

Poderíamos começar a nossa conversa por conhecer um pouco melhor o universo Thales e de que forma foi conquistando uma posição de destaque no panorama nacional?
As actividades da actual equipa da Thales em Portugal no sector dos transportes e mais concretamente no domínio ferroviário, iniciaram-se no fim dos anos 80 como resultado da decisão estratégica da C.P., que na altura agrupava as actividades de gestão da rede ferroviária e a operação de transportes, em iniciar um plano de modernização da rede ferroviária. Deste plano fazia parte, entre outras modernizações, a introdução de sistemas electrónicos, ditos na altura – de estado sólido, no controlo e gestão da circulação ferroviária ou dito de outro modo, a introdução de sistemas de sinalização electrónica. Este plano foi fortemente influenciado pelo infeliz acidente de 1985 em Alcafache que realçou importantes questões de segurança na exploração ferroviária.

A escolha da nova tecnologia de sinalização electrónica e respectivos fornecedores foi alvo de um processo de concursos públicos de onde resultou a escolha de duas tecnologias a serem implementadas ao longo de toda a Rede Ferroviária Nacional (RFN) nos anos seguintes, uma delas da Alcatel. De referir que, na altura, a actual equipa da Thales, bem como todo o negócio de transportes a nível global, fazia parte do Grupo Alcatel tendo sido transferido para o Grupo Thales em 2007.

Para a conquista da actual inegável posição de destaque da Thales no cenário ferroviário nacional muito contribuiu a sua boa performance ao longo dos anos, a excelente e transparente cooperação e parceria estabelecida com a entidade gestora da RFN, no início C.P., depois RE[1]FER e agora I.P., bem como o investimento feito pela empresa, desde o primeiro contrato, na criação e estabelecimento de competências locais e constituição de uma forte equipa local, que permitiu sempre um diálogo directo e em português com o nosso cliente e parceiro nesta aventura que tem sido a modernização da RFN. Com esta estratégia, a Thales Portugal viu as suas competências reconhecidas pelo Grupo o que lhe permitiu lançar-se em 2000 na exportação, sendo hoje um dos Centros de Competência do Grupo Thales para os Sistemas de Sinalização e das Telecomunicações Integradas Ferroviárias, com presença e projectos em mais de 22 países.

A Thales é reconhecida como um parceiro tecnológico chave, líder no segmento dos transportes desenvolvendo produtos e soluções para sistemas de Informação e Segurança do Passageiro. Presentemente, quais são os principais produtos e soluções desenvolvidos pela Thales para o sector ferroviário em Portugal e de Portugal para os mercados de exportação?
O Grupo Thales, através da sua unidade de Negócio designada GTS – Ground Transportation Systems, desenvolve todo o portefólio de produtos, sistemas e soluções para o sector Metro e Ferroviário no domínio do controlo e gestão de circulação em segurança, bem como avançadas soluções de Comunicações Integradas, sendo nestes domínios um dos leaders tecnológicos mundiais.

Numa primeira fase, os produtos de sinalização, proprietários Thales, foram adaptados às regras de Sinalização de Portugal numa forte parceria entre a I.P., a equipa Portuguesa da Thales e a unidade do Grupo Thales que desenvolvia esses produtos. Estamos a falar concretamente nos Encravamentos e nos Sistemas de Gestão – CTCs e CCOs. Mais recentemente, com o arranque de uma nova vaga tecnológica pela introdução da Interoperabilidade na RFN, foram introduzidas as soluções de Comando e Controlo de circulação de acordo com o standard Europeus ERTMS e, por isso, de novo estamos em fase de adaptação destas soluções standardizadas às especificidades da RFN. Já ao nível das Comunicações, a Thales Portugal desenvolveu localmente, com a estreita colaboração da I.P., uma linha de produtos de Informação ao Passageiro, que faz parte do portefólio do Grupo Thales e que se encontra já instalado e em operação nas redes ferroviárias de mais de 20 países.



A Thales tem sido uma presença importante desde o início do programa de modernização de sinalização, iniciado pela Infraestruturas de Portugal (na época, CP e depois REFER) no início dos anos 90. Neste contexto, vale ressalvar que, no último ano, a Thales foi responsável por modernizar a ferrovia portuguesa com os mais recentes sistemas de sinalização eletrónica. Qual a importância que esta e outras intervenções já realizadas pela Thales têm tido na modernização de Rede Ferroviária Portuguesa?
Tal como já referimos publicamente, do nosso ponto de vista, a RFN entrou pela mão da Thales na 3ª vaga da sua modernização. A primeira ocorreu no início dos anos 90 com a introdução dos sistemas de sinalização electrónica, a 2ª vaga iniciou-se em 2004 com a introdução dos CCO’s e a 3ª vaga, iniciada em 2018, é composta pela introdução do sistema europeu de interoperabilidade (ETCS) nas sua componentes de via e de equipamento embarcado para o novo material circulante que irá ser introduzido na rede.

Tal como a Thales foi pioneira nas duas fases anteriores, pela introdução das tecnologias electrónicas e pela cooconcepção e materialização do conceito dos CCOs, é-o de novo na introdução deste novo salto tecnológico com a introdução do ETCS – Sistema Europeu Harmonizado de Sinalização e Controlo de Velocidade dos Comboios.

A Thales fornece aos seus clientes soluções tecnologicamente avançadas para os domínios Aeroespacial, Transporte, Defesa e Segurança.  De que forma a Thales procura mante-se na vanguarda da inovação e dessa forma oferecer aos seus clientes soluções de vanguarda?
Efectivamente, a Thales encontra-se na vanguarda dos diferentes domínios referidos. Para tal possui quatro pilares fundamentais: o forte investimento em R&D para a investigação e desenvolvimento de tecnologias de ponta e novos produtos (cerca de 1b€ em 2021), a participação activa nos órgãos mundiais de normalização tecnológica e nos fórum globais dos diferentes sectores, na estreita e intensa colaboração com Universidades e Centros de Investigação e no estabelecimento de fortes parcerias entre os seus clientes e as equipas locais, no sentido de conjuntamente endereçar problemas velhos com novas soluções e criar novas soluções para futuras necessidades e melhores serviços.

A Thales tem ainda como objectivo  desenvolver projectos de cooperação e colaboração mais estreitos entre as instituições e a indústria, através de diferentes tipos de parcerias. Quais os projetos de cooperação e colaboração já desenvolvidos para o sector ferroviário?
Neste campo, sem me alongar muito, gostaria de salientar a forte e duradoura parceria que temos com o IST no domínio da investigação, com a TIS, e com a PFP. Gostaria em particular de realçar o papel muito importante que a PFP desempenha no desenvolvimento do Cluster Ferroviário Nacional e na sua potenciação como elemento de criação de riqueza para Portugal, com um forte vector orientado à exportação suportado também por uma forte e coordenada diplomacia económica.

Por fim gostaria de salientar a longa e forte parceria com a I.P. que pela sua exigência e rigor tem trilhado connosco um percurso de inovação e desenvolvimento de novas soluções que servem de bitola para horizontes mais alargados.



Na sua opinião, quais são atualmente os principais desafios que se impõem no sector ferroviário nacional?
Começaria por referir quais os desafios que se colocaram ao sector no passado e nesse sentido diria que os anos de completa inatividade na ferrovia, resultado da crise económica e consequentemente da intervenção do FMI, sujeitaram o sector e em particular a Thales ao grande desafio da retenção das competências que tinham sido criadas durante os anos anteriores, desde 1990, de forte investimento ferroviário. A Thales Portugal, em bom tempo, alavancou as suas actividades domésticas e desenvolveu a capacidade e as oportunidades para se lançar na exportação, o que permitiu suavizar este impacto, reter e fazer crescer o seu conhecimento. Nos tempos presentes, em que se relança o investimento ferroviário e se pretende recuperar o tempo perdido, verificamos que o grande desafio é a urgência da realização atempada e em qualidade das obras em curso e das que se avizinham, seja pelo tempo disponível para a sua execução, seja pela mobilização dos recursos humanos necessários e adequados, tendo em conta que se trata da implementação de sistemas de segurança.

Após anos de paragem e de desinvestimento, a modernização da Rede Ferroviária Portuguesa volta a entrar “nos carris” e a Thales, está uma vez mais na linha da frente como um dos principais parceiros da Infraestruturas de Portugal (IP) nesta aventura. O que ainda podemos esperar da Thales para o futuro e de que forma pretende continuar a impactar positivamente o sector ferroviário nacional?
O passado e o presente da equipa portuguesa da Thales falam por si e dão uma clara indicação do que será o futuro. Da equipa portuguesa da Thales e de toda a Unidade de Negócio de Transportes do Grupo Thales, o sector ferroviário português pode esperar continuidade. Continuidade da já longa existência de uma forte e competente equipa local, continuidade da sua prontidão e do seu reforço para acompanhar as crescentes necessidades do mercado e continuidade de uma postura de total transparência para com os seus clientes. Poderão ainda contar com a Thales para uma visão sempre orientada para o futuro, para a introdução de novas tecnologias que permitam à I.P. e ao sector colocar-se na vanguarda de uma tecnologia que sirva os objectivos e a missão da ferrovia nacional. Estamos para ficar, cada vez mais fortes.

*O autor escreve de acordo com o antigo Acordo Ortográfico