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A ETSA pertence ao grupo SEMAPA – um dos principais grupos industriais portugueses – e efetua o rendering de subprodutos de origem animal com postos industriais nas cidades de Loures, Coruche e Famalicão e locais de apoio logístico como aquele que está situado em Vila Nova de Gaia. Hoje em dia, é composta por sete empresas, mas todas elas “operam na área da economia circular”, focadas em produtos para a “alimentação animal, humana, aquacultura, fertilizantes, produção de biodiesel, indústria farmacêutica, cosmética e setor dos curtumes”. Além disso, possui um “caráter exportador forte”, com um “intervalo de exportações que oscila entre 40 a 60% da produção”, e um princípio sustentável enraizado em toda a logística.

Tem que se desbobinar a cassete aos anos 70 do século XX para chegar às origens da ETSA. Atualmente esta entidade dedica-se “à recolha anual de 130 mil toneladas de três grandes conjuntos de matérias”, nomeadamente as “de origem animal, os óleos alimentares usados e por último as cápsulas de café”, aquela que é a mais recente aposta da empresa. A prestação diária da sua atividade tem como grande objetivo “recuperar produtos que, caso não fossem corretamente tratados, acabariam em aterros ou em incineradoras, existindo assim uma perda de ingredientes passíveis de serem reutilizados e podendo até causar risco para a saúde pública”. Ou seja, “tudo isto é uma pura economia circular”, afirma José Santos, administrador desta organização. O próprio acrescenta que os subprodutos “são gerados ao longo de toda a cadeia de valor da carne e do pescado, desde as explorações pecuárias, passando pelo abate e pela desmancha e inclusive no retalho e na moderna distribuição”.

Ao longo dos anos têm tentado construir “vários caminhos de desenvolvimento para que os serviços sejam cada vez mais sustentáveis”. Em termos de logística, estão a investir “em viaturas com combustíveis alternativos, de gás natural” e só não foram para a opção elétrica na frota de viaturas pesadas, “porque o nosso padrão de deslocações ainda não é compatível com a tecnologia atual dessa solução (…), mas assim que esse momento chegar estaremos na linha da frente.” Já nas fábricas, estão a desenvolver “estratégias de racionalização de consumo de água e energia, bem como de diversificação dos tipos de combustíveis. Exemplo disso é a aposta que vão fazer em
energia solar e o consequente investimento na renovação do parque de equipamentos para possuírem “as tecnologias mais recentes, as menos dispendiosas, do ponto de vista energético, e as mais eficientes”. A par disso, e seguindo de forma escrupulosa o cumprimento dos normativos legais que são cada vez mais exigentes, também se encontram a terminar um processo profundo de restruturação das estações de tratamento de águas residuais. Em paralelo aos processos produtivos, também os produtos são “certificados por entidades externas,
nomeadamente de cariz europeu”. Essas certificações são um ganho de confiança para a ETSA, porque garantem a fiabilidade ambiental dos seus produtos, mas também para os clientes, “uma vez que pretendem assegurar que o seu fornecedor, na sua metodologia, assume a ótica de economia circular e não estão a “lesar o meio-ambiente”, se comprarem e utilizarem determinadas matérias-primas.

O cinto apertado ao nível do controlo de qualidade e os “frutos” na inovação

José Santos assegura que todas as atividades que operam são “exaustivamente reguladas” pela DGAV – Direção Geral de Alimentação Veterinária e APA – Associação Portuguesa do Ambiente. As regras “vão desde o tipo de viatura” a utilizar para executar o transporte do subproduto – e aqui não se pode “misturar o subproduto perigoso com o não perigoso” – aos sites industriais, “onde é assegurado o cumprimento das diversas regras associadas aos processos produtivos, das regras de emissões e das boas práticas ao nível de condições de higiene e segurança, até aos laboratórios onde é feito um acompanhamento quase online ao nível do controlo de qualidade”. Este conjunto de normas servem essencialmente para que o “ingrediente no seu estado final seja considerado aprovado para colocação nas indústrias
que dele necessitam”.


O administrador conta entusiamado que no campo da inovação também têm atingido marcos importantes, tendo “diversos projetos Portugal 2020, submetidos e aprovados” e mais recentemente submeteram “candidaturas ao PRR relacionadas com futuras unidades de produção”,
que ajudam a ETSA a aproveitar melhor o seu “know-how”. Um exemplo concreto dessa aposta é o lançamento de uma nova fábrica que se encontra neste momento a ser construída e que “dentro de 14 meses trará para o mercado um produto inovador e com potencial de exportação”. Um “desejo” que começou a ser preparado em 2017 e “resultou num projeto de inovação produtiva Portugal 2020 entretanto aprovado”.

Para remate da entrevista, o responsável desta empresa destaca que o futuro da mesma passa por “dois caminhos”. Em primeiro lugar, o de “aproveitarmos cada vez melhor os ingredientes que passam pelas nossas mãos, através da sofisticação do processo de rendering”, extraindo os produtos “na sua forma mais pura” e isto pode ser concretizado com a nova fábrica; e em segundo ao fazer “crescer a
atividade, tanto por raio de atuação geográfica, como por alargamento do espectro de produtos que trabalhamos”.

O aliviar das medidas às proteínas animais transformadas


Ao final de uma hora de conversa também houve tempo para falar sobre o alívio de algumas das anteriores proibições no uso de subprodutos animais para a alimentação de algumas espécies, levada a cabo pela União Europeia. Acerca deste assunto, José Santos refere que para além do claro “benefício no incremento dos ingredientes utilizados para a alimentação de diversas espécies”, há uma mais valia
económica, pois com o “sourcing local” as matérias-primas “evitam viagens intercontinentais para chegar à Europa, com ganhos ambientais óbvios, através da redução da pegada carbónica e permitindo ainda à União Europeia um maior equilíbrio da balança comercial.”