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A Churchill Graham surgiu em 1981, pelas mãos de John Graham, a sexta geração da sua família a produzir vinho na região demarcada do Douro. Hoje, é uma produtora boutique de vinhos do Porto e do Douro (re) conhecida pela qualidade dos vinhos, mas não só. Fique a conhecer nesta edição, pela voz de John Graham, fundador e CEO, e de Zoe Graham, diretora, esta empresa portuguesa de alma britânica, que faz da tradição, inovação e qualidade três dos seus principais pilares.

Poderíamos começar a nossa conversa por conhecer um pouco melhor o universo Churchill’s e quais os valores que a têm guiado ao longo destes anos?

John Graham (JG) – A Churchill’s foi fundada por mim, pelos meus irmãos Anthony e William Graham e pela minha esposa Caroline Churchill, que deu o nome à casa. Fundei a Churchill’s em 1981 porque tinha uma visão clara do estilo de vinho do Porto que queria produzir, combinando as minhas memórias familiares, com a experiência profissional adquirida enquanto Blender em algumas das tradicionais casas de vinho do Porto britânicas. Queria produzir vinhos premium, mais elegantes e mais secos, sempre com uma filosofia de intervenção mínima – com uvas letra A, apanhadas e selecionadas à mão e pisadas a pé.


Zoe (ZG) – Quarenta anos depois, somos uma equipa de 45 pessoas, mas o espírito independente com que o meu pai fundou a Churchill’s, e o desejo de utilizar métodos tradicionais e uvas de alta qualidade para fazer excelentes vinho do Porto e do Douro, ainda está na essência de tudo o que fazemos.

Com o objetivo de dar um novo impulso ao projeto e posicionar a empresa como companhia produtora de Vinhos do Porto e Douro, em 1999, foi comprada a propriedade Quinta da Gricha. Como é que descreveria o terroir da Gricha e o que é que ele traz aos vossos vinhos?

JG – A Quinta da Gricha é um pedaço de terra especial, mesmo pelos padrões elevados do ‘terroir’ Douro. Está num microclima entre 150 e 400 metros acima do nível do mar, com uma exposição ao vento que regula naturalmente a humidade. Estas características eram algo que eu procurava quando pensei comprar uma Quinta no Douro, porque trazem frescura aos vinhos. Para além disso, a Gricha fica numas antigas minas de estanho, em que o solo mantém uma qualidade de grafite e mineral. São características pelas quais os nossos vinhos são hoje conhecidos.


ZG – Aliás, a nossa linha Grafite, lançada com este nome este ano, foi inspirada nesta característica dos nossos vinhos. O nome Grafite veio diretamente da sala de provas. É uma palavra que os nossos enólogos usam frequentemente para descrever a qualidade mineral dos nossos vinhos.


JG – A Gricha está na base de todos os nossos vinhos, Porto e Douro. E representa hoje cerca de um terço das nossas necessidades totais, tanto de vinho do Douro como de vinho do Porto. Ela traz um carácter e um perfil singular aos nossos lotes. É a sua exposição a norte e as uvas letra A que nos permitem criar vinhos com uma excelente acidez natural, mais elegantes e com um grande potencial de envelhecimento.

A Churchill’s distingue-se pela produção exclusiva de vinhos de categorias especiais, premium, e com uma identidade muito própria. Como definiria os vossos vinhos?

JG – Os nossos vinhos do Porto são marcados pela procura de elegância, e pelo estilo mais seco e estruturado – características que acredito que sejam possíveis pela utilização exclusiva de uvas de castas autóctones letra A, que ainda são apanhadas e selecionadas à mão e 100% pisadas a pé. O facto de utilizarmos apenas leveduras indígenas durante a fermentação, permite mais tempo às leveduras para consumir naturalmente quantidades mais elevadas de açúcar em álcool. O resultado é um álcool mais natural, níveis mais baixos de aguardente e o nosso estilo seco característico. Os nossos vinhos do Douro são o resultado de uma parceria com o Ricardo Pinto Nunes, que se juntou a mim na Churchill’s em 2007, depois de ter trabalhado na Nova Zelândia e no Chile. Com os vinhos do Douro utilizamos técnicas modernas para extrair da forma mais natural possível todo o potencial das castas nativas do Douro. Eu e o Ricardo gostamos de combinar nestes vinhos todos os elementos naturais: a altitude, a exposição e as vinhas velhas, intervindo no terroir o menos possível. No final, todos os nossos vinhos do Douro são vinhos que privilegiam a fruta, a frescura, e o respeito pelo terroir.

Este ano de 2022 fica marcado pela chegada ao mercado de dois vinhos vintage: o 2020 Vintage Port e o Quinta da Gricha 2020 Vintage Port. Como foi a vindima de 2020?


JG
– 2020 foi um ano sem precedentes, com uma vindima excecionalmente desafiante. Para a Churchill’s resultou em dois vinhos marcantes e distintos, que nos entusiasmaram à medida que fomos provando e que mostraram ter as características que são para nós essenciais quando declaramos um Vintage. A Churchill’s foi uma das poucas produtoras de vinho de Porto que continuou a pisar as uvas a pé durante a pandemia, instituindo procedimentos para proteger a equipa e garantindo, ao mesmo tempo, a qualidade e a cultura da pisa a pé. Felizmente, devido a estas políticas apertadas, nenhuma das equipas adoeceu, e os resultados falam por si no que respeita à qualidade e ao carácter destes vinhos do Porto Vintage.

Apesar de ser uma companhia relativamente jovem entre os produtores de Vinho do Porto, ainda mantêm os métodos de produção tradicionais nos vossos vinhos do Porto, com a pisa a pé nos lagares de granito da Gricha, construídos em 1852. Podemos afirmar que, na Churchill’s, o compromisso com a qualidade caminha lado a lado com a inovação, mas também com a tradição?


ZG
– Dizemos muitas vezes na Churchill’s que produzimos vinhos para os nossos netos, não para nós. Não abdicamos do respeito pelas tradições, como a pisa a pé, porque continuamos a acreditar que é dessa forma que se produzem os melhores vinhos do Porto. E como empresa e equipa, sentimos também que nos permite dar continuidade a uma prática secular que envolve as pessoas do Douro, uma região que está no nosso coração.

JG – Ao mesmo tempo, com a chegada da segunda geração – a Zoe e o meu genro Ben Himowitz, a Churchill’s tem dado passos significativos na inovação. Acredito que fomos os primeiros em 2020 a lançar provas online com envio de vinhos para a Europa – as nossas “Conversas virtuais com enólogos”. Foi um desafio para nós ter que falar com pessoas de todo o lado do mundo através de um ecrã de telemóvel!

ZG – Mas isso permitiu-nos manter o contacto com os nossos seguidores e até lançar vinhos pela primeira vez, com a possibilidade de serem os nossos seguidores os primeiros a provar! 2020 foi de facto um ano de inovação. Em novembro desse ano, lançámos o Port.Club no Reino Unido, o primeiro clube de vinhos do Porto direto ao consumidor do mundo. Fomos inspirados nas novas tecnologias e modelos de vendas D2C de vinhos e espirituosos, por exemplo nos Estados Unidos, para atuar de forma disruptiva e a ir além das redes de distribuição tradicionais. Para os nossos membros Port.Club, significa fazerem parte da família da Churchill’s, com provas personalizadas com os nossos enólogos, vinhos do Porto exclusivos e/ou em “primeira mão” e experiências únicas nos nossos espaços de enoturismo. Passado um ano e meio, o feedback tem sido muito gratificante e o objetivo é continuar a crescer.

Para assinalar a entrada na quinta década, a Churchill’s apresentou os vinhos do Porto e do Douro com nova imagem, em que se conjuga uma estética “irreverente e original” com os conceitos de beleza e de minimalismo. Fale-nos um pouco mais sobre esta renovação e as principais novidades que trouxe ao mercado?


ZG
– Quando eu e o Ben nos juntámos ao meu pai na Churchill’s tínhamos ambos trabalhado em gestão e estratégia de marcas em Nova Iorque e São Paulo. No meu caso, depois de alguns anos de formação em marketing de luxo na LVMH em Londres e Paris. Por isso, já trazíamos algumas ideias das nossas experiências lá fora. Sabíamos que um dos desafios que enfrentamos enquanto categoria é como reintroduzir o vinho do Porto a uma nova geração de consumidores e para isso procuramos uma nova linguagem. Ao olhar para o portefólio da Churchill’s sentimos que, com a entrada na quinta década, havia espaço para uma renovação, uma imagem que reforçasse o perfil da Churchill’s enquanto produtor boutique, líder na inovação e na produção sustentável – tudo características que a nova geração de consumidores procura e que é importante que estejam refletidas numa categoria tão importante e única como o vinho do Porto.
Nos nossos vinhos do Porto, o formato do rótulo “em diamante” foi inspirado no primeiro desenho para um rótulo da Churchill’s do meu pai – é uma transformação ousada, mas que foi beber à nossa história e por isso tem um significado especial. O logótipo também tem alterações, com a utilização de letras minúsculas como um aspeto diferenciador na categoria, mas quisemos manter a coroa, que foi o símbolo que o meu pai escolheu quando fundou a casa. Ao lado, trouxemos símbolos que remetem para a história da família e dos nossos vinhos, como a torre que provém dos lagares de granito da Quinta da Gricha e representa a filosofia de mínima intervenção da Churchill’s no processo de vinificação; ou a concha, que provém da heráldica da minha família e que representa a origem, remontando ao símbolo original utilizado pela empresa familiar quando se instalou em Portugal, pela primeira vez, em 1808. A geração seguinte, eu e os meus irmãos, quisemos trazer de volta este símbolo da natureza, para representar o nosso compromisso para com o legado e para com um futuro mais sustentável. Nos vinhos do Douro, lançamos uma imagem renovada para a gama Churchill’s Estates, e um novo nome – Grafite. Sentimos que esta linha precisava de um nome português, que celebrasse o icónico terroir do Douro.

A mudança aconteceu também nas embalagens dos produtos da empresa, que estão agora mais ecológicas e amigas do ambiente. Podemos afirmar que na Churchill’s o compromisso com a sustentabilidade ambiental acompanha todas as fases de produção dos vinhos da empresa?

ZG – A sustentabilidade é uma pedra angular da nova marca e das novas embalagens, tanto do ponto de vista do design como dos materiais. As nossas novas embalagens utilizam cápsulas 100% recicláveis, bem como gamas sustentáveis de papel certificadas pela FSC, não só para os rótulos como para as embalagens. Para além disso, estamos a implementar uma estratégia mais consciente de desperdício mínimo, recorrendo ao uso de menor quantidade de materiais nas embalagens e apenas duas embalagens para a nossa linha de vinhos do Portos, que passam a ser opcionais para os nossos clientes.
Nos vinhos do Douro, a utilização de garrafas mais leves permitiu uma redução de 12% no peso das garrafas em toda a gama, o que representa metade do volume anual total da Churchill’s nesta categoria.
Na Churchill’s, pelo facto de termos começado como um produtor de vinhos do Porto, pensamos sempre em décadas, não apenas na vindima atual, e preocupamo-nos em preservar o planeta para que as gerações seguintes possam continuar o nosso legado.

As dificuldades trazidas pela pandemia aguçaram a criatividade, inovação e capacidade de superação das empresas portuguesas, que fizeram das fraquezas forças e continuaram a triunfar no mundo dos negócios. A Churchill’s é hoje um distinto exemplo de resiliência empresarial, tendo continuado a apostar e a investir na sua área de negócio. Podemos afirmar que resiliência, superação e determinação fazem agora ainda mais parte do ADN da empresa?


ZG
– Sinto que o espírito de inovação e determinação esteve sempre no ADN da Churchill’s e é o espírito do meu pai. Quando aos 29 anos ele fundou uma empresa de vinho do Porto por paixão, deixou uma oferta de carreira como diretor numa das casas tradicionais e entrou numa aventura com a minha mãe e os seus dois irmãos. Ninguém tinha fundado uma empresa de vinho do Porto em mais de 50 anos.


JG – Eu queria seguir o meu sonho e dar continuidade à história da minha família e da nossa ligação à região do Douro; e produzir vinhos com um estilo diferente, vinhos que eu gosto de beber. Fundei a Churchill’s em 1981, a primeira vindima foi em 1982 com vinhos que escolhi das quintas do saudoso Sr. Jorge Borges de Sousa, com quem fiz um acordo e que me incentivou a começar com 150 mil litros de vinho que lhe tinha comprado. Até ao fim de 1983 registei-me como exportador de vinho do Porto e comecei a vender em 1984. Na altura pensei que ia passar aqui (na Churchill’s) alguns anos. Mas ainda cá estou!


ZG – Sinto que este espírito artístico de inovação e alguma irreverência no meu pai nos inspirou também. Antes de vir para a Churchill’s eu viajei pelo mundo a filmar documentários, a minha irmã mais nova – a Pia – esteve na Argentina a estudar design, o meu irmão James organizou festivais de música na América Latina e o meu irmão Max foi artista em Londres. O facto de hoje estarmos quase todos no mundo do vinho foi uma escolha nossa, mas mostra o amor que o meu pai nos passou pelo produto e pela região.

Se os vinhos já são reconhecidos, hoje a Churchill’s distingue-se também no enoturismo? O que torna os vossos espaços diferentes?

ZG – O nosso conceito de enoturismo é intimista e pessoal. Nas Caves em Gaia, as nossas visitas e provas funcionam muito mais como uma sala de provas. Os visitantes são sempre convidados a sentar-se em mesas privadas, a quem é atribuído um educador de vinho que faz a visita personalizada às Caves e a prova. No verão de 2020, abrimos o 1982 Bar – um bar de vinhos e espaço de eventos no nosso jardim – que permite uma experiência mais descontraída, com vinho a copo e cocktails com base de vinho do Porto num oásis verde que se estende por 2000m2 no meio dos armazéns de Gaia, com vista sobre o Douro e o Porto.
Nos 50 hectares de vinha da Quinta da Gricha no Douro temos um projeto de enoturismo com apenas quatro quartos de luxo inseridos na casa da quinta do século XIX, totalmente recuperada. É a Gricha Vineyard House. Ali queremos que os hóspedes tenham vivência única da vida numa adega em funcionamento no Douro. Prova disso é o prémio de melhor ‘Alojamento’ na região do Porto e Douro nos prémios Best of Wine Tourism 2022, atribuídos pela Great Wine Capitals – uma rede que interliga dez grandes regiões mundiais de vinhos e anualmente distingue os melhores projetos da rede, e que muito nos honrou.

Para além da oferta hoteleira, a Quinta da Gricha oferece também experiências que, certamente, tornarão a visita inesquecível. Quais os programas disponíveis aos visitantes?


ZG
– Na Quinta da Gricha convidamos os hóspedes a experienciar a tranquilidade e a simplicidade da vida no meio das vinhas e é
o hospede que cria o seu programa ao seu ritmo. Podem aprender sobre viticultura e enologia nas nossas tours personalizadas, ou
relaxar ao pé da piscina com vista para o infinito e um cocktail de vinho do Porto na mão.
Para quem não pode ficar connosco na casa temos programas de um dia, com visita e prova, e um almoço tradicional harmonizado com os nossos vinhos.
Este ano, para setembro, temos um programa especial de vindima na Quinta da Gricha, com apanha e pisa de uvas, prova dos
nossos vinhos do Porto e vinhos do Douro, e um almoço tradicional no nosso Pátio das Laranjeiras, com uma vista de cortar a respiração. A ideia é que os visitantes se juntem às tradições seculares de vindima com a nossa equipa de viticultura.

Para quem prefere aproveitar as tardes de verão com vista para o Douro, o 1982 Bar estará novamente de portas abertas, pronto a servir os melhores cocktails à base de vinho do Porto. Agora que os dias são mais longos, que convite gostaria de deixar aos nossos leitores para que visitem este espaço?


ZG – Não há mesmo melhor local para desfrutar das sextas, sábados e domingos à tarde de verão do que o nosso jardim. O 1982
Bar tem uma vista desafogada sobre o rio Douro e a cidade do Porto, da Ponte D. Luís à Alfândega.
Em 2021, para comemorar o 40º aniversário e a reabertura do jardim, convidamos a incrível artista visual e ilustradora Kruella D’Enfer para trazer uma explosão de cor ao 1982 BAR, numa intervenção artística única, que vale a pena visitar.
E este ano, para além da programação habitual lançamos a série “Lodge Pops”, que combina música e pop-ups de comida inovadores no 1982 Bar. As duas primeiras edições já aconteceram e foram um sucesso. A próxima é em setembro. Fica desde já o convite para virem desfrutar deste espaço, da vista e dos nossos vinhos do Porto e Douro!