
Valorizar, dar visibilidade e reconhecer o contributo das mulheres portuguesas na engenharia é essencial para combater a histórica desigualdade de género neste setor. Apesar de tradicionalmente dominada por homens, a engenharia tem vindo a abrir espaço à crescente participação feminina, impulsionada por políticas públicas, projetos de inclusão e uma mudança cultural progressiva. Em 2024, cerca de 28% dos membros da Ordem dos Engenheiros eram mulheres, um número que tem vindo a aumentar, refletindo esforços coletivos no sentido da equidade.
Os resultados são visíveis: entre 2023 e 2024, o número de mulheres a trabalhar nas Tecnologias de Informação (TI) em Portugal aumentou de 46.300 para mais de 59.000 — um crescimento de 29%. Portugal subiu do 12º para o 10º lugar na União Europeia em número de mulheres neste setor, refletindo o impacto de políticas públicas eficazes, a visibilidade de mulheres na tecnologia e o compromisso de empresas e do setor educativo. Nestas áreas, destacam-se figuras como a cientista-astronauta Ana Pires, astrofísica Zita Martins, a cientista e ex-ministra Elvira Fortunado, e a engenheira mecânica Maria da Graça Carvalho, ex-eurodeputada e atual ministra do ambiente e Energia, todas referências nacionais e internacionais nas suas áreas. No âmbito empresarial, organizações como a Critical Software e Accenture Portugal têm promovido internamente políticas de inclusão e progressão feminina em cargos de liderança técnica e executiva.
No que respeita a políticas públicas bem-sucedidas, um exemplo inspirador é o Programa Engenheiras Por Um Dia, iniciativa do Governo coordenada pela CIG e pelo INCoDe.2030, operacionalizado pela Associação Portuguesa para a Diversidade e Inclusão (APPDI), com o apoio do Instituto Superior Técnico e da Ordem dos Engenheiros que, desde 2017, já impactou mais de 21.500 estudantes dos ensinos básico e secundário. Apesar dos avanços, persistem desafios. É crucial continuar a combater estereótipos, assegurar igualdade de oportunidades e criar ambientes de trabalho inclusivos. Este é um momento de celebração, mas também de responsabilidade: é fundamental garantir que este progresso se mantém e se traduz num setor da engenharia e tecnologia mais justo, representativo e inovador.
Mónica Canário, Coordenadora de Projetos na Associação Portuguesa para a Diversidade e Inclusão (APPDI)
