: 21 de Novembro, 2025 Redação:: Comentários: 0

Neste breve apontamento sobre a Escola Católica (EC), invoco três razões para afirmar a sua vocação única no panorama educativo português.

– Uma escola “com alma”

Sim, a EC tem “alma”. Para além dos projetos, das atividades, das aulas, dos currículos, dos equipamentos, dos espaços, dos alunos e famílias, dos educadores docentes e não docentes – comuns a todas as escolas – a EC possui a dimensão espiritual/ religiosa que a distingue das demais. Ela crê que a pessoa do aluno (e dos seus educadores) é mais do que o corpo, do que o intelecto, as sensações e as emoções. Ela crê que cada pessoa tem Deus dentro de si. Como tal, as suas vivências na escola são inspiradas nesta certeza, que também dá pelo nome de “fé”. Com alma, a EC é mais do que o somatório de pessoas, projetos e coisas. Ela ultrapassa-se a si própria e projeta-se no infinito. Jesus Cristo é a sua referência maior. Mais nenhuma escola dá isto. As outras, especialmente a escola pública, apesar de poderem oferecer bons projetos educativos, de até poderem ter excelentes condições físicas e pedagógicas, por exigência constitucional, tem de ser “neutra”. O transcendente não faz parte da sua natureza. Falta-lhes esta dimensão, esta harmonia entre a fé e a razão, fundamental para que um aluno se sinta bem consigo próprio e com os outros.

– Uma escola aberta a todos

Parece um paradoxo. A EC aberta a todos? Sim, é. Na sua essência, uma escola “católica” (do grego, “universal”), tal como a Igreja, deve acolher “todos, todos, todos”: os pobres, os ricos, os remediados, os crentes de todas as religiões e culturas, os agnósticos, os ateus. Que esquisito… Isto passa-se entre nós? Sim, passa-se. E não se passa mais, por uma simples razão: o Estado, contrariamente ao legislado, não apoia suficientemente as famílias mais carenciadas, impedindo-as de escolher a EC, quando a desejam. As pouquíssimas EC que apoia na forma de “contrato de associação” (já chegaram a cerca de 30 e agora são apenas 9), porque têm ensino gratuito, cumprem integralmente este desígnio e privilegiam, nos seus critérios de seleção, os alunos oriundos de famílias mais desprotegidas. Mesmo a maioria das restantes EC, por norma, concedem bolsas de estudo gratuitas a alguns alunos mais desfavorecidos, mau grado não terem qualquer apoio estatal.

– Um património histórico distinto

Mais uma singularidade da EC: a sua história. Foi à sombra dos mosteiros, conventos e igrejas que as primeiras letras foram ensinadas nos primeiros séculos da nacionalidade. Desde sempre, a Igreja esteve empenhada no desenvolvimento da educação e da cultura. No séc. XVI, os jesuítas revolucionaram o ensino e criam a primeira “rede pública” no reino, gratuita, mesmo sem os apoios régios. Desde logo, dezenas de outras congregações religiosas começam (ou continuam) a dar, de forma organizada, o seu contributo para o desenvolvimento cultural da nação. E mesmo com hostilidades, expulsões e antipatias, durante os séculos XVIII, XIX e inícios do séc. XX, resistiram. E durante o Estado Novo, apesar da ausência de apoios, as EC estenderam-se por todo o país e, juntamente com muitas outras escolas privadas, garantiram a escolarização de gerações de adolescentes e jovens, a maioria delas do interior (desfavorecido) do país.

Estas três razões “irrefutáveis” projetam a EC para níveis significativos de “consideração pública”. A EC é reconhecida e desejada pelos pais, e só não possui mais implantação no território devido à necessidade que tem, na grande maioria dos casos, de cobrar propinas. Mesmo assim, acolhe e procura educar “integralmente”, e a custos insignificantes para o erário público, cerca de 66 000 alunos, educados por 8600 educadores docentes e não docentes.

Às três razões invocadas – alma, abertura a todos e história – acrescento outra, como bónus: “futuro”. A EC, porque tem no seu “ADN” o gene da eternidade, tem futuro. É este o “presente” que oferece a “todos, todos, todos”…

Jorge Cotovio, Secretário-Geral da APEC