Joaquim e Tiago Dias Amaro, respetivamente vice-presidente do conselho de administração e administrador-delegado da Futrifer, lideram uma das empresas mais emblemáticas do setor ferroviário português. De Tramagal para o mundo, a FUTRIFER aposta hoje na inovação, na manutenção ferroviária e na internacionalização, com presença crescente em mercados como Marrocos, Canadá e vários países europeu.
Pode partilhar connosco como nasceu a FUTRIFER e quais foram os principais marcos no seu percurso até se tornar uma referência no setor ferroviário?
Joaquim Dias Amaro (JDA): A FUTRIFER nasceu no quadro da reestruturação da ex – Metalúrgica Duarte Ferreira (MDF), empresa de enorme importância e relevância para a economia do País, no século XX. Para que melhor se entenda o enquadramento, passo a explicar. Decorria o ano de 1987, mais concretamente em agosto, quando fui designado e eleito – pelo Banco maior credor, o então Banco Fonsecas e Burnay –, Presidente do Conselho de Administração da MDF, com a árdua missão de procurar caminhos para a sua viabilização. Era e foi uma tarefa ciclópica, porque os problemas eram imensos e de um enorme grau de dificuldade, debilidade financeira, parque de máquinas envelhecido, enorme volume de emprego e, ao mesmo tempo, escassez por abandono de mão de obra qualificada, ausência de investimento e mercados diminutos, isto apenas para dar alguns exemplos, mas não estamos aqui para falar da MDF, mas sim da FUTRIFER e, nesse sentido, volto ao tema. O quadro da viabilidade económica, do conjunto de atividades que a MDF vinha desenvolvendo, assentou na criação de novas empresas, cada uma delas dedicada à sua atividade específica, depois de demonstrada, objetivamente, a sua viabilidade futura, foi o caso da FUTRIFER, criada em 22.06.1993, no quadro de uma resolução do Conselho de Ministros da altura, subscrita pelo então Ministro da Indústria e Energia (Engº Mira Amaral), que acreditou e sancionou a estratégia, que agora e a esta distância, podemos dizer em boa-hora o fez, porque era esse o caminho, tendo como principais marcos no seu percurso (i) a sua constituição (ii) a procura de parceiros que assegurassem capacidade financeira e de investimento (iii) mercados e (iv) desenvolvimento e inovação do Produto, o que permitiu tornar a FUTRIFER uma referência do setor ferroviário, no qual se posiciona como parceiro fiável de todas as entidades públicas e privadas, promotoras de investimento, com especial destaque para as Administrações de Infraestruturas ferroviárias e Operadores de transporte.

Quais têm sido os maiores desafios que a FUTRIFER enfrentou ao longo da sua história e como foram superados?
JDA: O primeiro desafio foi acreditar no projeto, o segundo foi a seleção do parceiro para integrar a estrutura acionista da FUTRIFER, o terceiro foi ganhar a confiança dos nossos parceiros, o quarto foi investir e inovar, o quinto foi criar uma relação de confiança técnica com as estruturas ferroviárias, assegurando a qualidade dos produtos e propondo soluções técnicas adequadas à valorização e durabilidade dos mesmos, bem como a respetiva assistência técnica e manutenção, onde se inclui a regeneração dos aparelhos de via para nova utilização e nova vida, o sexto foi sobreviver aos momentos de crise, o sétimo e todos os outros que se lhe seguiram e foram muitos, todos eles ultrapassados, no quadro de uma luta e um querer permanentes, só possível graças ao empenho e à dedicação de todos os elementos que constituem a nossa equipa, que emprega todo o conhecimento e know-how que dispõe ao serviço da causa ferroviária, o que aproveito para enaltecer e agradecer. Ao longo destes mais de 30 anos, a FUTRIFER deu um forte contributo para a modernização da Rede Ferroviária Nacional, tendo sempre como base, para além do referido, uma forte preocupação quanto à segurança e conforto dos passageiros e, também, do transporte das mercadorias, num espírito permanente de inovação.
Quem são hoje as pessoas que comandam os destinos da FUTRIFER e de que forma a sua liderança influencia a estratégia e a visão da empresa?
JDA: O parceiro escolhido para fazer parte do capital da FUTRIFER foi a então francesa COGIFER, um dos líderes mundiais na conceção e fabrico de aparelhos de via, no quadro de um Concurso internacional, lançado em 1992 pela CP na altura, para seleção de um fabricante nacional de aparelhos de mudança de via e de uma entidade internacional do setor, que assegurasse o desenvolvimento tecnológico do produto. A FUTRIFER integra agora o GRUPO VOSSLOH, em resultado da aquisição da COGIFER, hoje denominada VOSSLOH Switch Systems, sendo o capital da FUTRIFER detido pela VSS (60%) e pela DIORAMA (40%), empresa de estrutura acionista familiar, da qual sou o Presidente do Conselho de Administração. Desde o início fui eu que impulsionei e comandei os destinos da FUTRIFER na qualidade de Administrador-Delegado, lugar hoje desempenhado pelo meu filho Tiago Dias Amaro, desde 2019, sendo eu membro do Conselho de Administração, na qualidade de Vice-Presidente. O nosso espírito inovador e empreendedor, alicerçado numa grande disponibilidade e capacidade de trabalho, em que os nossos clientes estão em primeiro lugar, tem contribuído para uma liderança forte que fortalece a estratégia e a visão para a empresa e, também, para promover um espírito de ambição que assegura a concretização dos nossos objetivos.


Que importância tem a internacionalização para a FUTRIFER e quais são hoje os principais mercados externos onde a empresa está presente?
Tiago Dias Amaro (TDA): A internacionalização é muito importante para a FUTRIFER e é hoje o grande objetivo e mote da empresa, tendo identificado como principal mercado, conjuntamente com a sua casa-mãe, o africano. A VSS vê na FUTRIFER um hub, podendo, por esse facto, responder se assim for necessário a outros mercados, para além do africano. A este propósito, a FUTRIFER viu confirmada, recentemente, a adjudicação de um projeto estratégico no Canadá, Metro de Ontário, o que confirma, sem qualquer dúvida, que a FUTRIFER é hoje, um dos vários sites do Grupo, com capacidade para responder às solicitações do mercado internacional. A internacionalização da FUTRIFER incorpora, também, a Prestação de Serviços de Manutenção aos aparelhos de via, atividade criada e iniciada pela FUTRIFER, no seio do Grupo e que hoje já está presente em alguns mercados como, por exemplo, França, Espanha e Marrocos. É importante lembrar que a VOSSLOH tem filiais em cerca de 30 países para o fornecimento de aparelhos de via, o que potencia a Prestação de Serviços da FUTRIFER. É possível adiantar que no caso de Marrocos, a FUTRIFER e a VOSSLOH, vão constituir uma empresa neste país, no quadro da estratégia de internacionalização definida.
Qual o papel da inovação tecnológica no desenvolvimento das soluções que a FUTRIFER disponibiliza ao setor ferroviário?
TDA: A FUTRIFER dispõe, para além do seu Gabinete de Estudos, do Centro de Inovação Tecnológica da VSS, para o desenvolvimento das soluções que a FUTRIFER disponibiliza a toda a estrutura ferroviária nacional. O acompanhamento da vida dos seus produtos, permite estudar de forma permanente as melhores soluções que assegurem a segurança e o conforto dos passageiros e, por isso mesmo, a inovação é determinante para um crescimento sustentável a longo prazo. A FUTRIFER faz parte e beneficia de todos os produtos desenvolvidos pela sua casa-mãe, a VSS. Portugal representa, neste particular, um ambiente perfeito, no qual a VOSSLOH pode desenvolver novos produtos, no seu domínio de atividade, desde os aparelhos de via, serviços de manutenção conexos, soluções digitais e preditivas, travessas de betão e sistemas de fixação de carril.
Como está a FUTRIFER a contribuir para a transição energética e para a redução da pegada carbónica do setor?
TDA: O compromisso da FUTRIFER, nesta matéria, é enorme não fosse o mote do seu Grupo “Enabling green mobility”. A FUTRIFER aplica as melhores práticas e métricas emanadas da sua casa-mãe com vista à redução da pegada carbónica. A este propósito, a VOSSLOH, desde 2017 que é auditada pela renomeada entidade ECOVADIS uma das mais conceituadas entidades a nível mundial na atribuição de classificações de sustentabilidade, tendo recebido medalha de ouro em 2024.
De que forma a empresa valoriza e integra o capital humano — colaboradores, talento jovem e know-how técnico — como motor da sua competitividade e inovação?
TDA: A FUTRIFER integra e valoriza em muito o seu capital humano. As suas equipas são possuidoras de um elevado know-how, permanentemente revisitado, através de formação adequada e certificada, o que as valoriza, sendo um contributo muito importante para a competitividade e inovação da empresa. A formação, a integração e o espírito de Grupo/família são determinantes para que tenhamos melhores trabalhadores e sendo melhores trabalhadores, temos menos acidentes, mais saúde e mais bem-estar. Por mais que as sociedades evoluam, as empresas são as pessoas. A FUTRIFER tem vindo a renovar, de forma bastante efetiva, os seus quadros, com grande esforço de investimento na sua formação. São os jovens de hoje que determinarão as soluções do amanhã.


Na sua opinião, de que forma a ferrovia portuguesa pode reforçar a competitividade económica do país e a sua integração no espaço europeu?
JDA: A infraestrutura ferroviária nacional tem e pode reforçar em muito o seu papel na competitividade económica do País e a sua integração no espaço europeu, senão vejamos: o atual Governo tem continuado o seu trabalho e procurou manter a sua política no sentido de não comprometer o desenvolvimento de inúmeros projetos que prometem mudar a ferrovia, incluindo o projeto da Alta Velocidade, já em andamento, encurtando distâncias no País e promovendo as ligações internacionais, o que significa, para as empresa públicas ligadas ao setor dos transportes ferroviários, um desafio enorme, que começou em 2019, muitas obras foram concluídas, outras adjudicadas e consignadas ao abrigo dos Programas “Ferrovia 2020” e “PNI 2030”, mas os atrasos são enormes e ainda temos os projetos incluídos no Programa do “PRR”, mas é preciso aprender com o passado, onde os timings políticos e os timings reais de execução nem sempre estiveram alinhados.
Neste quadro, o horizonte futuro é interessante e o sistema ferroviário é a chave para o desenvolvimento de qualquer país. O sistema une localidades, une pessoas e, é por isso, determinante para a coesão do País de uma forma transversal e marcante. Neste particular, realçar o projeto de Alta Velocidade, que vai ter um impacto tremendo no País, a vários níveis, económico, dispersão geográfica da população e bem-estar das pessoas. A ligação a Espanha em Alta Velocidade é determinante para a nossa integração no espaço europeu.
Como antevê o futuro da mobilidade ferroviária em Portugal nos próximos 10 a 20 anos e qual será o contributo específico da FUTRIFER nesse percurso?
TDA: O tempo em que vivemos, em constante mudança, obriga-nos a procurar e a desenvolver formas de mobilidade mais sustentáveis e o setor ferroviário não é exceção, mas esta evolução tem de ser possível, olhando o futuro com esperança, coragem e determinação, assegurando a sustentabilidade e a redução do impacto climático e ambiental. A FUTRIFER, a VOSSLOH Switch Systems e todo o Grupo VOSSLOH, estão empenhados nesta batalha, com o objetivo de contribuir para um transporte melhor, ao serviço das pessoas e das empresas, em benefício de uma qualidade de vida e um mundo mais habitável. Isto para dizer que a FUTRIFER, entre outros playersterá, nos próximos 10 a 20 anos, o seu percurso específico, no quadro da Mobilidade Ferroviária. A FUTRIFER procurará, estar sempre, ao lado dos seus clientes, ouvindo as suas preocupações e as suas necessidades, propondo as melhores soluções técnicas e sustentáveis para cada uma delas. Estamos certos de que o contributo da FUTRIFER, na realização dos projetos ferroviários previstos, será relevante, como o tem sido ao longo dos seus mais de 30 anos de existência. A este propósito podemos revelar que a FUTRIFER estuda ativamente a reorganização das suas instalações no Complexo Industrial do Tramagal, para dar resposta às necessidades do nosso País e do mercado externo.

