: 25 de Abril, 2025 Redação:: Comentários: 0

No coração do Parque Natural Regional do Vale do Tua, a biodiversidade floresce, a paisagem encanta, os recursos hídricos pulsam vida e as comunidades locais desempenham um papel crucial em prol da sustentabilidade ambiental. António Luís Marques, que assumiu recentemente a direção do Parque, abre as portas à Mais Magazine para falar de um território que é muito mais do que um santuário natural: é um elo vivo entre o Homem e a Natureza.

Como nos apresenta o Parque Natural Regional do Vale do Tua? Quais são, na sua opinião, os principais pontos de interesse daquele que é considerado “um território selvagem”?

Desde logo devemos considerar que o Vale do Tua é um território desafiante. Desafiante pela sua condição natural que se tem mantido em estado puro, podemos até dizer “selvagem”, onde uma realidade geográfica exigente o mantém protegido. A biodiversidade do Parque Natural Regional do Vale do Tua (PNRVT) é imensa. É um forte ativo que o distingue entre as demais áreas protegidas. Não é melhor, é simplesmente diferente. Muito diferente. A paisagem que modela o Vale do Tua deve-se, em grande medida, à força da natureza, mas nada seria o que é se a vida das comunidades não fizesse parte do processo. A atividade humana permite que se mantenha, lado a lado, um património natural preservado e uma paisagem carregada de tradição, cultura popular, formas de ser e estar muito genuínas. Assim se define a identidade de um território. Temos um Parque marcado pela natureza autóctone muito diversa e por um rio vibrante que rasga a paisagem, que conferem a este Vale do Tua uma biodiversidade assinalável, curiosa, em muitos casos rara, e, comunidades locais que são o garante da sustentabilidade cultural.

Assumiu recentemente o cargo de diretor do PNRVT. Que desafios estão associados a esta função e à gestão de um território com estas características?

São belos desafios e motivantes. Quem não gostaria de poder fazer alguma coisa, por simples que seja, no território que ama e defende? O maior desafio é o de definir um caminho e para isso devemos partir do princípio da seletividade. Perceber o que temos de vantagem, de distintivo e de competitivo, leva-nos a selecionar melhor. Este é necessariamente o primeiro passo.

António Luís Marques, Diretor do Parque Natural Regional do Vale do Tua (PNRVT )

Que iniciativas têm vindo a ser desenvolvidas com o intuito de potenciar e valorizar o PNRVT?

Temos vindo a afinar os segmentos em que entendemos reforçar a nossa presença e outros em que se pretende apostar. O turismo de natureza tem merecido uma atenção especial, não fosse este um Parque Natural de elevado valor ambiental. Daí termos produtos consolidados, como a Rede de Percursos Pedestres do Vale do Tua ou os Percursos de Observação de Aves, com elevado potencial de crescimento. Estamos também a trabalhar o Astro Turismo como um produto diferenciador. Temos neste momento a certificação internacional que nos distingue como território Dark Sky, que nos dá a “chancela” de podermos ter as melhores condições para a observação. Estamos a liderar este produto na região norte de Portugal. A este respeito, temos neste momento uma candidatura em análise, no Turismo de Portugal, que, a ser aprovada e devidamente ajustada a este nicho de procura, poderá dar um forte impulso a este produto.

Arrancou, no passado mês de março, a terceira edição do Tua Festival de Percursos Pedestres | Walking Festival. Em que consiste este projeto e que balanço faz da adesão por parte do público até ao momento?

Este é daqueles projetos em que podemos afirmar que “pegou de estaca”. Esta é uma expressão popular local que nos diz que algo foi lançado à terra e frutificou. O Festival de Percursos Pedestres que organizamos ao longo do ano, um fim de semana em cada um dos cinco municípios do Vale do Tua, é preenchido com atividades ligadas ao saber e ao sabor locais, em partilha direta com as pessoas que teimam em manter a tradição e a cultura vivas. A par disto, há o desafio de trilhar percursos de uma beleza impactante. O melhor e o mais puro está à distância de um percurso homologado, onde a segurança é para nós palavra de ordem. Podemos ainda encontrar duas características marcantes neste produto: A primeira é que responde muito bem à sazonalidade, porque o realizamos ao longo de todo o ano, e todas as edições têm lotação esgotada, com muitas semanas de antecedência. Em segundo lugar, consegue atrair e fidelizar uma procura que tem o perfil que nos entusiasma, pela forma de como vivem o território, o respeitam e criam valor direto nas comunidades.

O turismo de natureza tem vindo a crescer significativamente. A que fatores atribui esta tendência e de que forma considera que pode beneficiar o turismo local e a economia das regiões abrangidas?

Vivemos um tempo em que a consciência para a preservação e proteção da natureza é mais forte e nasce mais cedo, em cada um. É ainda certo que os territórios perceberam que tinham mesmo à frente dos olhos “o novo luxo”. Paisagem e biodiversidade capazes de atrair, assim como fatores associados muito fortes, que as comunidades estão disponíveis para oferecer. Desde logo a gastronomia rica e farta, tradição genuína que se partilha, património rural simples e utilitário e outro milenar de elevado valor arquelógico e arquitetónico. Está tudo aqui. Há que organizar. A experiência mostra-nos que este segmento devidamente trabalhado, envolvendo as comunidades e puxando pelos seus ativos, cria riqueza nos territórios e favorece claramente a economia familiar.

Olhando para o futuro, quais são as prioridades que definiu para afirmar o PNRVT como um destino turístico de excelência?

Primeiro de tudo, temos de ter as comunidades locais connosco. São elas os nossos maiores e melhores parceiros. Para que as valorizemos como merecem, devemos partilhar com elas o que possam ser projetos e ações para o território. Envolver as pessoas desde o início cria confiança e responsabilidade. As pessoas têm de sentir que vale a pena fazer parte. O PNRVT, tem de conseguir manter o seu ativo primário que é a biodiversidade. Para isso, parte da nossa estratégia passa pela preservação e proteção dos ecossistemas. A sensibilização e comunicação em populações bem definidas, como é a comunidade escolar, é muito importante para este objetivo. O nosso projeto “Junto à Terra” é uma ferramenta de trabalho que funciona muito bem junto dos mais novos, num modelo de oficinas de aprendizagem, em contacto com o meio natural. Tirá-las das salas e colocá-las com os pés e as mãos na terra. Sentirem o seu território. Como só defendemos o que conhecemos, queremos que a comunidade escolar conheça o Vale do Tua. É claro que o nosso maior ativo patrimonial é o património natural. Sendo assim, olhemos para os produtos muito ligados à natureza como apostas concretas. Temos ainda de estar próximos dos agentes económicos, privados e empresas que trabalham o turismo. Um desafio grande é o de organizar a oferta com profissionalismo e consistência. Se o conseguirmos, teremos produtos de qualidade elevada e um território com notoriedade.