
Foi há já 32 anos (em 1993, portanto) que a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou a iniciativa de comemorar o “Dia Mundial da Água”, fixando essa data para 22 de março de cada ano. Tem sido dada primazia desta atenção à chamada “água doce”. Esta preocupação resulta da realidade dramática de 2,2 mil milhões de pessoas, que não têm acesso a água potável e saneamento. Impõe-se, pois, uma estratégia à escala global para o atingimento de um desenvolvimento sustentável em que todos possam ter acesso a estas necessidades básicas de água, absolutamente fundamentais para a Saúde.
Em cada ano a Organização das Nações Unidas define um tópico para este Dia Mundial. Neste ano de 2025 o tema escolhido foi o da “Preservação dos Glaciares”.
Os glaciares desempenham um papel vital na garantia de água potável para a nutrição humana, para a produção agrícola e pecuária, para os sistemas energéticos e para os ecossistemas globais.
Em 2025 pretende-se dar um especial destaque aos desafios do degelo acelerado, determinantes de alteração dos fluxos de água que, por sua vez, colocam milhões de pessoas e ecossistemas em risco. Trata-se de um novo alerta para a urgência da preservação dos glaciares, em ligação com o combate às alterações climáticas, reduzindo, nomeadamente, as emissões de gases com efeito estufa.
Segundo relatos das Nações Unidas e de outras agências internacionais ligadas à Meteorologia e ao ambiente, a fusão dos glaciares, impulsionada pelas mudanças climáticas, é causa do aumento do nível do mar em cerca de 20 cm de altura mais do que em 1900. É também responsável por grandes inundações e prolongadas secas. Em 2023, os glaciares perderam mais de 600 gigatoneladas de água, a maior perda em 50 anos.
O relatório de Desenvolvimento Mundial da Água de 2025 da UN-Water oferece análises detalhadas sobre o impacto dos glaciares e recomendações políticas para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, com foco nas “Torres de Água: Montanhas e glaciares”. Se conseguirmos limitar o aquecimento global a 1.5o C poderemos salvar 2/3 dos glaciares.
A preservação dos glaciares não é apenas uma questão ambiental, mas também uma estratégia de sobrevivência, afetando diretamente a saúde, o desenvolvimento econômico e a equidade social. A mobilização global para salvar os glaciares pode ser a chave para proteger o nosso futuro.
A recomendada atenção especial este ano para os glaciares, não nos deve, contudo, esquecer a água dos oceanos, dos rios e lagos, os aquíferos e cursos subterrâneos. A água do nosso planeta tem uma distribuição dinâmica, mas equilibrada, que devemos estudar, conhecer e preservar.
Não podemos deixar de sublinhar a importância que a água detém na Saúde. Neste particular sublinhe-se o enorme recurso de água potável que os glaciares representam, alimentando muitas das principais indústrias de engarrafamento, fundamentais para o abastecimento de zonas do globo sem água de qualidade.
Mas voltemos a outras águas. Temos responsabilidades institucionais na defesa da preservação e bom uso das águas minerais naturais. Como é sabido são passíveis de 3 tipos de utilização: engarrafamento, geotermia e termalismo, isto é utilização terapêutica. Portugal dispões de magníficas estâncias termais, hoje renovadas e proporcionado uma oferta de saúde e bem-estar de alta qualidade.
Urge que a sua promoção se incremente e se tire maior partido das suas potencialidades. Há muito que defendemos uma maior integração no nosso sistema de saúde. Temos hoje bases científicas que justificam esta política. Muito já foi discutido. Muitos consensos estabelecidos. Mas tarda a concretização de estratégias governamentais já delineadas. Impõe-se um apoio mais efetivo na comparticipação dos tratamentos termais. Pede-se um maior apoio na formação profissional, na investigação e na promoção internacional das nossas termas. Os intervenientes neste sector de atividade já mostraram competência e empenho. Merecem o reconhecimento e apoio. A bem do País e da sua população.
Pedro Cantista, Presidente da Sociedade Portuguesa de Hidrologia Médica e Climatologia
