Dada a posição central e a sua dimensão, acabamos por ler mais sobre quem visita Lisboa em publicações internacionais do que em portuguesas. A capital portuguesa é vista internamente como o local de onde saem mais turistas para o resto do país, ou não estivesse aqui concentrada cerca de 30% da população nacional, quando falamos da região de Lisboa e Vale do Tejo.
É nessas publicações internacionais, de que vamos tendo eco na nossa comunicação social, que vemos os muitos elogios que vão fazendo à cidade e à Área Metropolitana. Do romantismo das sete colinas, à imensa luz que o estuário do Tejo vai espelhando, dos monumentos que glorificam um passado imenso à modernidade e cosmopolitismo que vai “invadindo” as bonitas ruas de calcário.
Uma coisa é certa, não tendo eu nascido em Lisboa, nem nunca lá vivido, sempre que lá fui senti-me facilmente em casa. É uma cidade que nos convida a nunca sermos estranhos, ainda que haja um maior distanciamento do que no Porto, por exemplo. Mas, dizia eu, mesmo quando “turistei” na cidade, nunca me senti turista ali. Talvez o facto de sempre ter gostado muito deste país, não por sentir que seja melhor do que os outros, mas porque é nosso ou somos nós dele, me tenha ajudado a sentir-me sempre bem em qualquer canto deste retângulo.
Mas, nesta cidade, tenho (temos) os nossos sítios, os restaurantes a que volto sempre que lá vou, algumas ruas, praças e bairros por onde gosto sempre de passar. Cada um terá a sua Lisboa, a minha será sempre do Lumiar até ao Chiado, e terá sempre Pessoa. Nunca será monótona a memória nem a expectativa. E já escrevia o grande poeta que “Sábio é quem monotoniza a existência, pois então cada pequeno incidente tem um privilégio de maravilha.” Importa perceber o contexto, este excerto é dessa torrente chamada Livro do Desassossego. Ainda a propósito dessa gestão da monotonia quotidiana transformadora da “mais pequena coisa” numa “distração”, dizia ainda o seu heterónimo, Bernardo Soares, que “quem nunca saiu de Lisboa viaja no infinito no carro até Benfica, e, se um dia vai a Sintra, sente que viajou até Marte.”
Revisite pois a sua cidade, se for alfacinha, ou a de nós todos, se for português, ou a cidade do mundo, que já teve aqui o seu centro, no século XVI. Com a dose certa de curiosidade e jovialidade verá que há sempre novas fontes de “luz boa” a descobrir por aqui.