Geologicamente é difícil olhar para os Açores de outra forma que não como o centro do mundo. Não só porque a disposição mais utilizada da cartografia mundial coloca o oceano atlântico no meio do mapa, com a América do seu lado esquerdo (Oeste) e a Eurásia e África do lado direito (Este) mas, sobretudo, porque a Dorsal Meso-atlântica passa precisamente entre as ilhas açorianas. O Atlântico continua a expandir-se ao longo desta dorsal que separa as placas tectónicas sobre as quais vamos “navegando”. Quer isto dizer que as Flores e o Corvo continuam a afastar-se das restantes sete ilhas do arquipélago. Claro que numa escala de tempo muito diferente da do Homem, afinal a unidade de tempo da Geologia não se mede em anos mas sim em milhões de anos.
Claro que esta posição, associada a toda a instabilidade geológica da zona conferem aos Açores caraterísticas únicas. O potencial turístico é tremendo, assim como o agrícola e o gastronómico, por exemplo.
Mas os Açores não são só paisagem, e há muitos portugueses ilustres nascidos na nossa “Atlântida”. Só para referir alguns, temos o médico e investigador Curry Cabral, a poeta, intelectual e deputada Natália Correia ou Teófilo Braga, escritor e o segundo Presidente da República da nossa história. E claro, Antero de Quental – há uma geração inteira de brilhantes intelectuais conhecida pelo seu nome, a “geração de Antero”, ou mais comummente “A geração de 70”. Nessa década do século XIX, eram todos jovens, para além de Antero, Eça de Queirós, Guerra Junqueiro, Ramalho Ortigão e Teófilo Braga, entre outros. Os seus pensamentos, textos e tertúlias marcaram a literatura portuguesa, mas também a política e toda a cultura em geral.
As origens familiares de Antero de Quental são, por si só, auspiciosas. O seu avô foi um dos signatários da primeira Constituição portuguesa, de 1822, que pretendia acabar com o absolutismo e trazer os ideias liberais para o país. O pai foi um dos “7500 bravos do Mindelo” que desembarcaram na praia da Memória, em Matosinhos, invertendo o curso da guerra civil que terminaria com a vitória dos liberais do lado de D. Pedro IV.
A propósito de ideais, escrevia Antero no seu “Bom Senso e Bom Gosto”: “O ideal quer dizer isto: desprezo das vaidades; amor desinteressado da verdade; preocupação exclusiva do grande e do bom; desdém do fútil, do convencional; boa-fé; desinteresse; grandeza d’alma; simplicidade; nobreza; soberano bom gosto e soberaníssimo bom senso… tudo isto quer dizer esta palavra de cinco letras — ideal.”