Classificado como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO em 2014, o Cante Alentejano vai muito para além de ser um género musical, sendo parte constituinte da identidade alentejana. Ainda que seja um património representativo de todo o Alentejo, é no município de Serpa que se encontra o seu epicentro, tendo sido o município responsável pela preparação e apresentação da candidatura a Património Mundial à UNESCO.
O Cante Alentejano é um género musical cantado em coro, polifónico, sem recurso a instrumentos musicais, que constitui uma forma de manifestação popular representativa do povo alentejano. Embora não haja registos históricos inequívocos da sua origem, sabe-se que esta prática musical está intrinsecamente ligada ao Alentejo, sendo um património comunitário extensível não apenas ao Alentejo, mas a todos os locais onde há comunidades alentejanas, quer em Portugal quer na diáspora. Cantado por homens e mulheres, jovens ou idosos, o Cante Alentejano tem a capacidade de unir e reunir o povo alentejano à sua volta, apelando às memórias, tradições e identidade.
Candidatura a Património da UNESCO
Ainda que este património seja partilhado por todo os alentejanos, foi o município de Serpa que tomou as rédeas e apresentou a candidatura a Património Mundial à UNESCO. Um processo complexo, que teve início há mais de uma década, quando vários grupos corais e um alargado grupo de intervenientes mostrou vontade de obter esta distinção para o Cante Alentejano. Sabedora desta ambição, o município de Serpa deu os passos necessários para criar um movimento sólido para avançar com a candidatura, juntamente com outras entidades, personalidades, e com o apoio de praticamente todos os municípios portugueses onde há grupos de Cante. Para que o reconhecimento da UNESCO fosse possível, foi realizado um extenso trabalho qualificado, envolvendo inúmeras pessoas e identidades, que ajudou a conhecer melhor a história por detrás do Cante Alentejano e a promover a candidatura. Este trabalho de investigação, denominado Plano de Salvaguarda, apoiou-se no trabalho desenvolvido pela Casa do Cante (atual Museu do Cante), em estudos científicos, filmes, recolhas fotográficas, bibliográficas discográficas, exposições e publicações, na inscrição do Cante Alentejano no Inventário Nacional do Património Imaterial e num vasto conjunto de outras ações de que são beneficiários o Cante Alentejano e os seus intérpretes, os municípios que os apoiam, e todo o Alentejo e as suas gentes. Um trabalho cuidado, dignificador deste património, da atividade dos grupos corais e dos momentos em que há Cante presente, onde critérios como a sustentabilidade, a transmissão e a comunicação são determinantes. Definido o Plano de Salvaguarda e concretizada a candidatura, o Cante Alentejano entrou para a Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO em 27 de novembro de 2014. Esta distinção traduziu-se numa maior divulgação a nível nacional e internacional, sendo uma importante ferramenta na salvaguarda do Cante Alentejano. Levou ainda a que ganhasse um novo fôlego e se rejuvenescesse, exponenciando o seu papel na atividade turística e no desenvolvimento do território, em ligação estreita com a gastronomia, a cultura e história do território.
Preservação do Cante nas próximas gerações
Ainda que este património seja imaterial, é bem visível quando se percorrem as ruas e em diversos eventos culturais por todo o Alentejo. Se vai ao Alentejo é bastante provável que possa presenciar um momento de Cante, pois desde que haja a presença de três ou quatro amigos, faz-se ouvir frequentemente, de forma espontânea. Aliás, esta prática musical está ao alcance de todos os interessados, havendo a possibilidade de participar nos ensaios abertos, realizados nas sedes dos grupos do concelho, ao longo de toda a semana. O maior e mais relevante arquivo da história do Cante Alentejano situa-se no Museu do Cante, localizado no Centro Histórico de Serpa, que assume uma função central na preservação, no tempo e na memória, deste rico património. Nele os visitantes podem fazer uma viagem pela sua história, conhecer mais sobre as suas marcas identitárias e ouvir excertos de Cante Alentejano. O espaço conta com um acervo permanente, exposições temporárias e com um Centro Interpretativo do Cante, que disponibiliza informação sobre a história e sobre os grupos de Cante. A transmissão deste património de geração em geração é um dos principais objetivos do município, estando inscrita no Plano de Salvaguarda. Para tal, a estratégia vai no sentido de reforçar a prática nos locais públicos, nas festas, nos espaços formais e informais, sendo de salientar o importante papel que o projeto educativo “Cante nas Escolas” teve ao implementar a prática junto dos mais novos e das suas famílias. Em paralelo, vão sendo produzidos novos estudos científicos em torno do Cante Alentejano, sendo fulcral a promoção e apoio a projetos de investigação, nacionais e estrangeiros, e a projetos multidisciplinares como o recente “Cante com erudição”, entre muitas outras iniciativas. O Cante Alentejano está igualmente bem presente na Feira do Queijo do Alentejo, em fevereiro, e na Festa do Cante, em novembro, que celebra a classificação da UNESCO.