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Todos nós conhecemos famílias, organizações e nações, onde há pessoas com responsabilidades de liderança que revelam uma certa tendência para a autocracia e portadoras de um autoconceito narcísico. É provável que o ambiente mediático e social que temos vivido desde que a rede virtual global se impôs, condicionando definitivamente o modo de vida coletivo, tenha agravado o caldo de cultura em que as personalidades com este perfil encontram os impulsos basilares que potenciam o surgimento e desenvolvimento dessas caraterísticas.

Uma das primeiras revelações comportamentais pode identificar-se quando essas pessoas se posicionam como o centro nevrálgico das estruturas em que assumem papéis de liderança, impondo o seu pensamento e perspetivas sobre a realidade, apresentando uma clara tendência para submeter os outros à sua visão e vontade. A incapacidade destas pessoas para gerar, com naturalidade, empatia promotora de adesão voluntária aos seus propósitos, é um dos seus problemas mais comuns, acentuando a sua dificuldade em compreender os pontos de vista das pessoas com quem habitualmente interagem, tornando-se gradualmente insensíveis aos contextos condicionados de quem colabora consigo.

Segundo os especialistas, além de eventuais causas genéticas, podem contribuir para este cenário psicológico, frustrações e traumas de uma infância que não ajudou a vencer os medos e a ultrapassar barreiras que permaneceram intransponíveis, impedindo um crescimento pleno e a chegada a uma vida adulta bem resolvida a todos os níveis. Concorrem também para este perfil, a baixa tolerância aos desiguais e ao erro alheio, assim como uma certa facilidade para o descontrolo, tomando atitudes que podem ter impactos muito negativos à sua volta, sem que consigam tomar consciência plena das consequências das suas palavras e dos atos, indo para além dos limites do humana e socialmente aceitável.

Os líderes que exercem a sua missão nas organizações, liderando com um estilo democrático e inspirador, conseguem conciliar de forma equilibrada e harmoniosa, as diversas facetas da sua inteligência, compaginando com eficiência e eficácia, as designadas inteligências múltiplas, particularmente o discernimento, a razão e a emoção, posicionando-se de forma flexível, sensível à diferença e adotando, em todas as circunstâncias, uma postura pessoal e social, eticamente mais humanista.

Só uma visão lúcida do ser e do Mundo que nos rodeia, desprovida de egocentrismos e projeções narcísicas, que impedem a tomada de consciência sobre as limitações intrínsecas à condição humana, permite exercer uma liderança respeitadora e respeitável, promotora de Paz, de envolvimento e compromisso de todos, inspirando pelo exemplo e pelo reconhecimento, as mudanças que qualquer organização precisa para se afirmar e sustentar.

Se olharmos globalmente o Mundo de hoje, facilmente percebemos que as guerras, os conflitos e o desrespeito pelos Direitos Humanos, acontecem sempre em nações onde há gente dessa estirpe.


Maria José Rouxinol