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José Antunes, Chefe da Unidade de Cultura do Município de Caldas da Rainha e Ponto Focal de Caldas da Rainha, Cidade Criativa da UNESCO, destaca o impacto positivo deste reconhecimento na economia local e no turismo, bem como as iniciativas para promover e apoiar os artesãos da região.

Caldas da Rainha é, desde 2019, Cidade Criativa da UNESCO. Que impacto é que este reconhecimento teve na economia local e na atratividade turística da região?

Embora não existam estudos específicos sobre o impacto que esta trouxe à economia local, podemos afirmar que depois da designação de Caldas da Rainha como Cidade Criativa da UNESCO, o número de ceramistas, de oleiros, de designers (e de outros autores em áreas da criatividade abarcadas pela designação) aumentou de forma substancial, passando de cerca duas dezenas para mais de uma centena de autores nesta área, com atividade regular, mantendo-se uma dinâmica de crescimento. Deduzimos que houve um impacto significativo pelo lado da produção, repercutindo-se, certamente, no tecido empresarial (comércio, matérias-primas, distribuição, indústria, restauração, entre outras).

Que ações têm desenvolvido no sentido de promover o artesanato e as artes populares das Caldas da Rainha, tanto a nível nacional como internacional?

Durante a recente pandemia destacamos duas atividades: o Programa de Aquisições, que foi essencialmente uma resposta ao impacto da Covid-19- e a Molda Concept Store- projeto concebido como uma loja de cerâmica online e física. Outro projeto importante foi a criação de um Ecoponto de Cerâmica, dispositivo de recolha e tratamento dos desperdícios gerados nos ateliers e olarias dos criadores na área da cerâmica, que sublinha a preocupação de todos os envolvidos com a sustentabilidade ambiental. Destaque ainda para o programa de reabilitação de infraestruturas de edifícios históricos como a Casa Amarela, junto ao complexo dos museus, e o Pátio dos Burros, no centro histórico da cidade, edifícios que cumprem funções expositivas, de apoio técnico e administrativo.

De que forma estão a trabalhar para apoiar os artesãos e artistas locais e para garantir a preservação e transmissão dos saberes tradicionais?

O município irá investir na regeneração urbana, no centro da cidade, em dois projetos distintos: um projeto de reabilitação de um edifício no Centro Histórico, para disponibilizar casas a jovens criadores a rendas controladas, e a criação de um HubCriativo nas instalações de uma antiga fábrica de cerâmica. A estratégia passa também por estimular uma troca de saberes e de experiências com criadores de outras cidades criativas da UNESCO, como as duas Residências Artísticas Internacionais anuais na área cerâmica organizadas pelo Município das Caldas da Rainha e pela Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha, do Instituto Politécnico de Leiria, que está, neste momento, em período de candidatura. Para além das oportunidades que a pertença a uma organização que conta com 330 cidades, espalhadas pelos 5 continentes, potencia, destaque para a realização, em 2024, do Congresso anual da Academia Internacional da Cerâmica, que contará com um amplo programa de exposições e de atividades culturais.

Quais são os principais desafios que enfrentam atualmente na sua missão de promover e valorizar o artesanato e artes populares das Caldas da Rainha?

A criação de condições para a fixação de ceramistas, oleiros e outros artesãos na cidade e no concelho é um dos principais óbices ao crescimento deste sector Há também questões associadas aos custos de produção da obra cerâmica, designadamente a necessidade de encontrar soluções que permitam, sobretudo aos mais jovens, o acesso a fornos com preços acessíveis na sua utilização. Ao nível da sustentabilidade, é fundamental encontrarmos formas inovadoras de produção que tenham uma abordagem ecológica, respeitadora do meio ambiente. Por último, no âmbito do Turismo Criativo, sublinhe-se a criação do Consórcio “Rede Cidades Criativas UNESCO do Centro de Portugal”, liderado pela Covilhã, em parceria com Caldas da Rainha, Castelo Branco, Idanha-a-Nova, Leiria e Óbidos e, ainda, o Turismo do Centro de Portugal. A rede pretende desenvolver ações de natureza imaterial para potenciar a inovação e a competitividade urbana dos municípios que a constituem através da criatividade.