O vereador da Câmara Municipal de Braga, Altino Bessa, fala-nos sobre o desenvolvimento e a promoção das praias fluviais da capital do Minho.
Pedia-lhe que nos começasse por apresentar, de forma sucinta, cada uma das praias fluviais existentes no concelho.
O concelho de Braga é aquele que possui o maior número de praias fluviais a norte do país, algumas delas premiadas com Bandeira Azul. A praia fluvial de Adaúfe foi a primeira a obter esta distinção, logo em 2016, seguindo-se a praia fluvial da Ponte do Bico, em 2021, e a praia fluvial de Merlim, em 2023. Em termos futuros, ambicionamos expandir esse número para cinco praias com Bandeira Azul.
Atualmente, estamos em processo de desenvolvimento da infraestrutura da praia do Cavadinho, em Crespos. Esta praia já havia recebido prémios relacionados com a qualidade da água, incluindo um galardão de Bandeira Ouro pela Quercus. Estimamos concluir essas melhorias até junho deste ano, almejando conquistar a Bandeira Azul já em 2025.
Embora ainda não tenhamos iniciado a intervenção na praia da Navarra devido a questões de propriedade, planeamos realizar um investimento semelhante ao da praia do Cavadinho.
É importante destacar que o número de praias fluviais em Portugal aumentou consideravelmente desde 2016, quando a praia fluvial de Adaúfe recebeu a sua primeira Bandeira Azul. Nessa altura, acima do rio Douro, existiam apenas três praias fluviais com essa distinção, duas na Barragem do Azibo e uma em Braga. Desde então, essa realidade mudou significativamente, e agora vários municípios possuem praias galardoadas com Bandeira Azul. Nesse sentido, o município de Braga destaca-se como um exemplo notável desse progresso.
Qual é a visão da Câmara Municipal de Braga em relação ao desenvolvimento e promoção das praias fluviais na região?
Às vezes as pessoas perguntam-se como é que Braga, sendo um município urbano, consegue ter praias fluviais de Bandeira Azul e municípios do interior, mais rurais, onde a qualidade da água supostamente é melhor, não conseguem.
Quando iniciamos o nosso mandato, nunca tinham sido realizadas análises à qualidade da água do rio Cávado. Nós começamos a fazer esse trabalho e conseguimos, logo em 2016, obter a Bandeira Azul na praia fluvial de Adaúfe. A nossa intenção foi, desde logo, valorizar e dar a conhecer aos bracarenses este património natural que estava ao seu dispor e que, muitos deles, desconheciam, excetuando as pessoas que vivem nas proximidades do rio.
A propósito, nós temos uma margem do rio Cávado com cerca de 18 km, onde pretendemos fazer uma ecovia. Este é um projeto que vai ao encontro de outro projeto intermunicipal que visa fazer uma ecovia com cerca de 70 km que ligue Esposende ao Parque Natural Peneda-Gerês.
O trabalho que temos feito tem sido importante até do ponto de vista social. As pessoas que vivem na cidade, que é onde se concentra a maioria da população, desconheciam este rio e valorizavam apenas o rio Este (que passa no centro da cidade). Apesar desse ser um rio que não tem condições para a prática balnear, tendo em conta que é um rio urbano, nós temos feito algumas melhorias. Hoje já existem alguns corredores verdes, houve um aumento significativo da biodiversidade e, atualmente, temos uma obra em andamento, a renaturalização de uma lagoa adjacente ao Parque Desportivo da Rodovia, um investimento de 650 mil euros, e estamos a elaborar o projeto de execução, avaliado num investimento de 1,5 milhões de euros, com o apoio da APA (Agência Portuguesa do Ambiente), até à Avenida Frei Bartolomeu dos Mártires, esta renaturalização será ao longo da frente do Parque da Rodovia, uma zona destinada ao desporto e ao lazer que se destaca pela sua vasta área verde.
Quais são os principais desafios enfrentados pela gestão das praias fluviais em Braga e como pretendem superá-los?
O nosso maior desafio reside na manutenção da qualidade da água. Assegurar a fiscalização e o controlo da qualidade da água é essencial, pois sem água de qualidade, não existem praias fluviais, e muito menos praias com Bandeira Azul. Trata-se de um desafio permanente e bastante exigente. No passado, enfrentámos alguns obstáculos, como a deteção de bactérias nas águas de Merlim, que nos levaram a perder a candidatura a Bandeira Azul. Situações como essa obrigam-nos a um rigoroso processo de recuperação da qualidade da água que inclui períodos sem incidentes até nos podermos candidatar novamente.
A nossa abordagem para enfrentar estes desafios inclui a realização de análises regulares da qualidade da água, tanto da nossa parte, como da Agência Portuguesa do Ambiente e da unidade de saúde local.
Além disso, estamos empenhados em expandir e melhorar as infraestruturas relacionadas com os rios da região. Temos alguns projetos em andamento, como a requalificação do rio Torto, da Ribeira de Panoias e da Ribeira de Castro. Também planeamos construir uma ecovia ao longo do rio Este, até à freguesia de Celeirós, e criar um parque ecológico. Temos ainda a ambição de estabelecer uma ligação, por ecovia, entre Braga e Famalicão, unindo estes dois municípios através do rio Este, o que abrangeria mais de 350 mil habitantes.
O que têm feito no sentido de melhorar a qualidade e a segurança das praias fluviais do concelho?
No que concerne à melhoria da qualidade e segurança das praias fluviais do concelho, temos empreendido diversas iniciativas. Cumprir os rigorosos critérios da Bandeira Azul tem sido uma prioridade, o que inclui a realização de ações de sensibilização no terreno, como campanhas de separação de resíduos, em parceria com entidades como a Braval, responsável pelo aterro e ecopontos na região. Garan-tir a segurança daqueles que frequentam as praias é outra vertente crucial, com a presença de nadadores-salvadores e ins-talações sanitárias para pessoas com de-ficiência, incluindo cadeiras anfíbias para facilitar o acesso à água. Além disso, delimitamos espaços específicos para utilização dos visitantes, seguindo um plano acordado por nós e validado pela Agência Portuguesa do Ambiente.
De que forma lidam com questões ambientais relacionadas com as praias fluviais, como a poluição da água e a preservação dos ecossistemas locais?
Já realizámos várias descidas pelo rio Cávado, inclusive em colaboração com o Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente da Guarda Nacional Republicana (SEPNA), ao longo de todo o território do concelho de Braga, abrangendo as áreas das praias fluviais. Essas ações foram essenciais, especialmente durante os incidentes de má qualidade da água em Merlim, para identificar as fontes de poluição. Em conjunto com as autoridades competentes, criamos uma equipa ambiental, na Proteção Civil, focada especificamente em questões relacionadas com a poluição nos rios, responsável pela investigação e fiscalização, visando prevenir problemas futuros e intervir quando necessário para manter a qualidade da água.
Existe algum programa de educação ambiental dirigido àqueles que frequentam as praias fluviais de Braga? Se sim, de que forma é implementado?
Sim, temos diversos programas de educação ambiental voltados para os frequentadores das praias fluviais. Implementamos uma série de iniciativas que vão desde abordar a separação de resíduos no local, fornecendo muitas vezes “kits” de ecopontos, até atividades relacionadas com a gestão de óleos alimentares, que são grandes poluentes. Através da utilização de alguns equipamentos como as canoas e as gaivotas, organizamos ações de limpeza das margens e do próprio rio, convidando a população a participar. Contamos inclusive com a colaboração da Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) Novais e Sousa, composta por crianças com deficiência, que realiza anualmente a limpeza das praias. Além disso, organizamos caminhadas ao longo das margens do rio para promover o conhecimento sobre o ecossistema fluvial e recolher resíduos. Promovemos também algumas ações noturnas que não são tão interventivas, mas são igualmente importantes no sentido de dar a conhecer à população as espécies que habitam as margens do rio durante a noite.
Para terminar, qual é a importância das praias fluviais para o turismo e o bem-estar da comunidade local e de que forma pretendem continuar a promovê-las junto do público?
Houve uma redescoberta, ou mesmo uma descoberta inicial para muitos, do rio Cávado. Anteriormente, quando se mencionava o rio, as pessoas associavam-no a Prado, Vila Verde (municípios vizinhos), ao invés de Braga. A proximidade e a familiaridade com o rio eram mínimas. Nós, enquanto entidade, conseguimos aproximar o rio dos bracarenses e vice-versa. Além disso, existem também cada vez mais turistas, oriundos de vários pontos do país como Setúbal, Porto e Lisboa, ou até mesmo do estrangeiro, que procuram as nossas praias. No parque de campismo, frequentado por clientes de várias nacionalidades, é comum recebermos pedidos de informações sobre as praias fluviais.
Quanto à promoção, esta é feita de diversas formas que vão desde a inclusão no guia das praias fluviais, onde a Praia Fluvial de Adaúfe já foi capa. Utilizamos também o nosso ponto de turismo, o site VisitBraga e o site do município. A par disto, promovemos as praias junto dos visitantes no nosso parque de campismo, nos hotéis e através dos meios de comunicação como a televisão e os jornais locais.
Esta estratégia tem sido eficaz na promoção das praias tanto para a comunidade local, como para os visitantes dos concelhos vizinhos, e até a nível nacional. Muitas pessoas têm descoberto e desfrutado das nossas praias, encontrando nelas um ambiente diferenciador das praias marítimas. A atmosfera relaxante, associada à natureza e à possibilidade de nadar, apanhar sol, usufruir dos bares e fazer piqueniques, tem atraído visitantes que procuram experiências únicas durante a época balnear.