Em entrevista à Mais Magazine, Carlos Pinto de Sá, Presidente da Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central, abordou o trabalho desenvolvido por esta entidade, com destaque para os projetos levados a cabo no setor da água.
Quais os objetivos e valores que levaram à fundação da Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central (CIMAC) e que norteiam a sua ação nos dias de hoje?
A CIMAC, composta pelos municípios de Alandroal, Arraiolos, Borba, Estremoz, Évora, Montemor-o-Novo, Mora, Mourão, Portel, Redondo, Reguengos de Monsaraz, Vendas Novas, Viana do Alentejo e Vila Viçosa tem como principal objetivo a realização de interesses comuns aos municípios que a integram, através da concretização de projetos intermunicipais, nas suas diversas áreas de atuação.
A Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central tem um papel vital no setor da água, executando uma série de projetos de elevada importância. Fale-nos sobre o papel destes projetos, no que consistem e na sua importância para comunidade.
A CIMAC tem desenvolvido projetos intermunicipais no setor do ciclo urbano da água através da identificação das necessidades e interesses comuns dos municípios associados. O projeto SIGRedes permitiu o levantamento do cadastro de infraestruturas de abastecimento e saneamento de água e criação de uma plataforma digital para a sua gestão e atualização, tendo sido o ponto de partida para o projeto-piloto de controlo de perdas de água no Alentejo Central, focado na eficiência dos sistemas de abastecimento e que permitiu a criação de Zonas de Monitorização e Controlo e capacitação dos técnicos municipais para o controlo ativo de perdas de água possibilitado pelos balanços hídricos e pela formação em técnicas e equipamentos de deteção de roturas. Recentemente desenvolvemos, em conjunto com os municípios, os Planos Municipais e o Plano Intermunicipal de Adaptação às Alterações Climáticas que contêm importantes medidas para o ciclo urbano da água perante a ameaça das alterações climáticas.
Recentemente, a CIMAC desenvolveu para os municípios que a integram Planos de Segurança da Água. Qual o impacto que estes programas terão para os municípios?
A elaboração dos Planos de Segurança da Água para os municípios do Alentejo Central permitiu a criação de uma ferramenta essencial para a gestão do risco associado aos sistemas públicos de distribuição de água com o objetivo de assegurar o abastecimento seguro para consumo humano. Isto permitiu a análise sistemática dos perigos para a saúde pública existentes num determinado sistema e a criação de processos de gestão integrada necessários ao seu efetivo controlo. Neste projeto a preocupação não foi apenas a criação dos produtos finais, mas também integrar uma componente de formação dos técnicos municipais, permitindo criar o conhecimento e autonomia para a continuação do trabalho.
A escassez de água é uma problemática que afeta todo o território nacional, nomeadamente as zonas do interior e sul de Portugal. Qual a situação hídrica do Alentejo Central e qual a importância que a Barragem do Alqueva pode representar no abastecimento de água das populações envolventes?
A situação de seca e escassez hídrica tem vindo a agravar-se nos últimos anos devido aos efeitos das alterações climáticas, traduzindo-se na diminuição da precipitação e maior irregularidade da sua distribuição ao longo dos meses, ocorrendo de forma mais concentrada, prejudicando a economia, infraestruturas, população e ecossistemas. A barragem do Alqueva, uma importante reserva de água na região, permite o reforço do abastecimento de água para consumo público através da ligação de condutas de adução a barragens de abastecimento público de água.
De que forma CIMAC tem um papel ativo junto da população com vista à dinamização de atividade de sensibilização para a importância da água e da sua preservação face aos desafios que o setor atualmente apresenta?
A CIMAC participa em fóruns locais e regionais dedicados aos temas do ambiente e água, incluindo ações de sensibilização junto da população. Durante a elaboração dos Planos Municipais de Adaptação às Alterações Climáticas, foram realizados os Conselhos Locais de Adaptação em cada município, em que os atores, população e entidades-chave foram convidados a participar de forma ativa, contribuindo para a co-construção dos Planos. Foram ainda realizados os Conselhos Locais de Adaptação Juniores dedicados à comunidade escolar, com a participação de 1120 alunos e professores, onde os recursos hídricos foram um tema em destaque.