Desde 2018 que o Barroso (Montalegre e Boticas) é uma das regiões portuguesas distinguidas pela UNESCO. No entanto, esta distinção tem uma marca ainda mais especial, uma vez que esta é a única região do país classificada como Património Agrícola Mundial. Fátima Fernandes, Presidente da Câmara Municipal de Montalegre, destaca que este fator “representa um grande orgulho, mas também uma grande oportunidade para alavancar as atividades turísticas e a projeção do nome Montalegre a nível nacional e internacional”.
A região do Barroso delicia quem a visita com uma paisagem única. No entanto, para Fátima Fernandes, o reconhecimento atribuído pela UNESCO vai muito para além disso, focando-se, sobretudo, no “modo de viver da gente barrosã que, ao longo dos séculos, se organizou de modo a gerir os seus problemas e recursos de forma autónoma, promovendo formas comunitárias de gestão com respeito pela propriedade e os direitos privados”. O património que aqui está presente desenvolve-se à volta da aldeia, composta por casas de pedra, sendo que, junto a si, encontram-se “as hortas, onde se produzem os bens essenciais para garantir a alimentação e é na envolvente que se situam os lameiros para pastoreio até à primavera, altura em que são reservados para obtenção do feno que irá alimentar os animais no inverno”, refere Fátima Fernandes.
Qualidade da produção de gado reconhecida
Para além do panorama paisagístico e da riqueza agrícola que carateriza o Barroso, esta região demarca-se ainda pela criação de gado, principal atividade económica do território. A criação de bovinos tem uma maior preponderância na região, destacando-se a raça autóctone barrosã, reconhecida pela qualidade da sua carne e pelo seu valor histórico. “Estes bovinos eram carregados em barcos no Porto e iam para Inglaterra para a mesa da Família Real onde era muito apreciada e conhecida por “Portuguese Beef”, destaca a Presidente da Câmara Municipal de Montalegre. A qualidade da produção de gado na região é certificada por uma série de reconhecimentos, como DOP (Denominação de Origem Protegida) à Carne de Vitela Barrosã e ao Mel de Barroso e de IGP (Indicação Geográfica Protegida) ao Cabrito de Barroso, presunto de Barroso, entre outros. O território de Barroso sempre teve preocupação na gestão da água, sabendo que se trata de um bem escasso e muito valioso. Por isso mesmo, foram desenvolvidas infraestruturas que conseguem racionar o uso da água. “Os “Regadios Tradicionais”, muito caraterísticos deste território, contém um sistema de rega que é feito de modo a não desperdiçar água, seguindo a ordem dos terrenos e não dos proprietários, pelo que se diz que “a água é comum e aviada à roda”.
Única região em Portugal distinguida como Património Agrícola Mundial
O facto de a distinção atribuída pela UNESCO à região ser única a nível nacional, representa não só “um grande orgulho, mas também uma grande oportunidade para alavancar as atividades turísticas e a projeção do nome Montalegre a nível nacional e internacional, contribuindo para a fixação da população ao aportar possibilidades de criação de negócios e emprego”, como abre portas a “mais visitantes ao território para apreciar este modo de vida único, bem como degustar as delícias dos produtos da terra”. No entanto, Fátima Fernandes alerta para o facto de esta distinção acarretar também responsabilidades, uma vez que é necessário estar “focado na preservação da paisagem e do ambiente, incentivando à manutenção das práticas agrícolas ancestrais de modo a aportar rendimento para os agricultores, produtores pecuários e demais agentes de promoção do território”. De forma a combater o envelhecimento e a escassez da mão de obra do setor agrícola, a produção de eventos e a atribuição de apoios mostra-se fundamental na promoção do setor. “O desenvolvimento de eventos para divulgação destas práticas ancestrais e venda dos produtos, tal como a Feira do Fumeiro, bem como os apoios financeiros, técnicos e
logísticos que a Câmara Municipal põe ao serviço dos agricultores e produtores pecuários, os quais ascendem a perto de um milhão de euros, é motivador. Todo este trabalho que, cada vez mais, deve agregar todos os agentes locais, é razão para os nossos jovens ponderarem em permanecer no nosso território e criar o seu negócio nestes âmbitos”, conclui Fátima Fernandes.