Ninguém questiona que a educação é um ativo de capital humano das nações, fundamental para o desenvolvimento económico e social. Assim sendo, trata-se de um bem público, independentemente da natureza privada ou pública do prestador. O ensino superior privado tem sido, desde 1985, o principal dinamizador da equidade no acesso à universidade sendo um exemplo de liberdade de ensinar e aprender, como definido constitucionalmente.
O processo de Bolonha e a democratização no acesso ao ensino superior têm contribuído para o aumento exponencial do número de alunos que frequentam o ensino superior, atualmente com cerca de 411995 matriculados (INE,2021), quando comparado com os valores pré-Bolonha. No mesmo seguimento lógico, podemos verificar que se no final de 2005 a percentagem da população com ensino superior não ultrapassava os 9,4%, a verdade é que atualmente ultrapassa já os 21%.
Os dados do Inquérito à Educação e Formação de Adultos (INE) apesar de confirmarem que os salários variam na mesma razão que o nível de escolaridade, permitem igualmente concluir que estudar compensa cada vez menos em termos salariais uma vez que se tem assistido a níveis de remuneração cada vez mais baixos para detentores de cursos superiores, o que “poderá estar associado ao forte acréscimo no número de pessoas que completaram o ensino superior nos últimos anos”. A principal ilação a retirar desta nova realidade é que a mera titularidade de um curso superior não é garantia de melhores condições como acontecia até ao início do século. De facto, a grande questão será o que individualmente se pode fazer com o curso e não o que o diploma, por si só, faz por cada um. Mais uma vez, as competências pessoais, denominadas “soft skills” são, no presente e serão no futuro, um elemento distintivo, num mercado cada vez mais exigente e competitivo.
Em termos demográficos, está prevista uma redução de 14% do número de jovens durante a década compreendida entre 2020 e 2030. Diversas escolas de ensino básico e secundário têm encerrado nas últimas décadas por força das baixas taxas de natalidade, pelo que este problema atingirá a médio prazo o ensino superior, que deverá passar por redefinições de oferta formativa, reorganizações regionais e até fusões de universidades ou politécnicos, tanto no setor público como no privado. É evidente que a análise demográfica é insuficiente para perspetivar
o futuro do número de alunos no ensino superior. Existem muitas outras variáveis, como a taxa real de escolarização, o ensino obrigatório, a taxa de retenção ou os alunos em mobilidade Erasmus e os alunos internacionais, já para não esquecer variáveis como o desemprego ou até o nível de rendimento das famílias.
O país ganha com o aumento das qualificações e a prova é que é cada vez maior a taxa de alunos que terminam o 12º ano que pretendem seguir estudos superiores, o que tem compensado largamente as reduções das taxas de natalidade do início do século, sendo hoje o ensino superior
quase uma “continuidade” do percurso académico após o ensino secundário e não uma rutura epistemológica, como era encarado até há duas décadas atrás. Também neste sentido a tutela deveria ser a mesma e nunca uma separada entre o Ministério da Educação e o Ministério da Ciência e Ensino Superior, dificultando uma visão e políticas conjuntas.
Com o crescente número de titulares de cursos de 1º e de 2º ciclo, com uma população cada vez mais qualificada, a competitividade igualmente maior. Enquanto as “hard skills” tendem a ser uniformes e padronizadas não só em Portugal como na Europa, o fator distintivo do desempenho
estará nas competências pessoais. Além dos conhecimentos técnicos e científicos, os estudantes devem desenvolver competências como capacidade de comunicação, compromisso, consciente de si e do mundo que o rodeia, colaborativo, comprometido e empreendedor. Deve ser
essa também a missão das escolas de ensino superior – formar bons cidadãos!