: 30 de Abril, 2025 Redação:: Comentários: 0

No primeiro dia de maio celebra-se o Dia do Trabalhador, invocando memórias de lutas travadas em 1886, do outro lado do Atlântico, desde que abril de 1974 o tornou feriado em Portugal. Com um simbolismo político e social muito relevantes, é o dia em que todos os trabalhadores do Mundo, independentemente da sua profissão, refletem sobre as suas condições de trabalho, sobre ganhos e perdas, sobre o caminho de reconhecimento e valorização da sua profissão.

Os enfermeiros são trabalhadores com características especiais. Basta recuarmos à história da Enfermagem, e de Florence Nightingale, para percebermos como a profissão sempre esteve ligada à caridade, a cuidar por missão, quais anjos sem asas que se vestem de branco.

Talvez por carregar nos ombros este passado missionário – que o ensino de Enfermagem de certo modo perpetua ao educar para a “arte de cuidar” –, o enfermeiro ainda revela muita dificuldade em se assumir como mero trabalhador. Alguém que tem um contrato de trabalho, que cumpre um horário, que desempenha a sua profissão, com rigor ético e deontológico, mas que despe a farda quando termina o turno, passando a ser o cidadão comum, com vida própria, além do seu papel profissional.

Para o enfermeiro, a farda e o seu dever profissional são a essência. Por essa razão, coloca o cuidar do outro à frente de cuidar de si, aceitando cargas horárias desumanas, que o afastam de ser quem é. Os seus direitos anulam-se perante aqueles de quem cuida. Por isso, torna-se alvo fácil de abusos de gestores menos íntegros, que lhe imputam a responsabilidade de ficar, além do contratualizado, fazendo-o acreditar que essa é a sua obrigação, sob pena de deixar alguém sem cuidados.

No dia em que cada enfermeiro perceber que não é um herói, mas um profissional de Enfermagem, esta realidade vai inverter-se.

Para que isso aconteça, os sindicatos têm um papel crucial. São estas estruturas representativas dos enfermeiros que podem marcar a diferença, colocando o foco na defesa dos seus direitos, fazendo-os perceber que o que normalmente lhe impõem – horários além do contratualizado, sem tempos adequados de descanso, sem condições de trabalho adequadas, sem respeito pela sua autonomia profissional – não é o normal!

Mas para que os sindicatos se aproximem dos enfermeiros e ganhem a sua confiança e apoio, têm de os colocar no foco da sua ação. O único objetivo deve ser defender os direitos dos seus associados e não os utilizar como “armas” em jogos políticos e de poder.

Se os enfermeiros sentirem que fazem parte do seu Sindicato, que este os ouve e respeita, mostrando com clareza e transparência qual o caminho que tem para valorizar e dignificar o seu trabalho, conseguirá confiar e sindicalizar-se.

Até lá, continuaremos a pagar a fatura de históricas uniões de classe que só serviram interesses políticos, sem nenhum ganho prático, levando ao descrédito, desmotivação e desânimo generalizados.

Urge portanto valorizar este 1° de Maio. Mostrar aos enfermeiros que as condições em que trabalham também dependem deles. As estruturas sindicais, se forem livres e independentes, colocarão os interesses dos enfermeiros acima de tudo! Mas necessitam que os enfermeiros façam o mesmo, tornando-se o que tanto reivindicam: trabalhadores da Saúde que, unidos em fortes estruturas sindicais, são respeitados, reconhecidos e valorizados.

Raquel Botellero, Secretária da Direção da Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros