Guimarães, cidade berço de Portugal, está a traçar um caminho inovador e sustentável rumo à neutralidade climática, com um objetivo muito claro: ser uma cidade neutra climaticamente até 2030. Este compromisso resulta de um esforço conjunto entre a comunidade local, o setor privado, universidades e a administração municipal. Nesse sentido, o foco em soluções integradas de desenvolvimento sustentável posiciona Guimarães como um exemplo a seguir e sublinha a importância da colaboração em iniciativas ambientais a nível europeu.
Guimarães foi reconhecida como uma das 100 cidades europeias comprometidas com a referida meta, um feito que reforça a determinação da cidade na adoção de uma abordagem sustentável holística.
Sofia Ferreira, vereadora do ambiente e ação climática da Câmara Municipal de Guimarães, salienta a importância deste movimento: “Atingir a neutralidade climática até 2030 é mais do que uma meta, é uma responsabilidade partilhada. Cada cidadão, cada empresa e cada instituição têm um papel fundamental a desempenhar. Juntos, podemos transformar Guimarães num exemplo de ecocidadania e sustentabilidade”.
Uma das ações mais significativas neste contexto é o Pacto Climático de Guimarães, uma iniciativa promovida pelo Município que visa envolver cidadãos, empresas, instituições e a própria administração numa ação colaborativa que almeja a descarbonização do território. O documento destaca que a neutralidade climática não pode ser alcançada de forma isolada, sendo essencial que todos os agentes locais se unam em prol da missão e da responsabilidade de adotar comportamentos sustentáveis.
De resto, os subscritores do pacto comprometem-se a implementar estratégias comuns de redução da pegada ambiental a curto, médio e longo prazo. Isto inclui ações que promovem a economia circular, a mobilidade sustentável e a transição energética. A adesão a este pacto é, deste modo, fundamental para criar uma dinâmica de cocriação, estimulando a participação ativa da comunidade em projetos e ações que impactam diretamente o seu dia a dia.
“É preciso dar voz a todos os cidadãos e assegurar que as suas preocupações e sugestões sejam tidas em conta nas políticas públicas”, afirma Sofia Ferreira. “Através da participação cidadã, queremos fomentar um movimento crescente de ecocidadania, onde cada um se sinta parte da solução.”
Bairro C como “Laboratório Vivo”
O Bairro C é um dos mais recentes projetos-piloto de inovação social e ação climática do município de Guimarães que envolve cidadãos, universidades e organizações culturais e artísticas com vista à neutralidade climática. Situado entre a zona de Couros, Caldeiroa e Avenida Conde Margaride, o Bairro C aposta numa abordagem integrada nos domínios da energia, mobilidade, resíduos e uso do solo, alavancando a mudança comportamental, inovação social, cultura, política, tecnologias verdes, finanças sustentáveis e novos modelos de negócio.
Este é uma peça-chave do Pacto Climático com os cidadãos e agentes locais para a neutralidade climática e processos de cocriação, tornando assim possível a atuação no combate às emissões em todos os seus domínios. A ideia passa pela criação de um espaço que seja um “laboratório vivo” de ideias assente nos pilares da Cultura, Criatividade, Conhecimento e Ciência, desenvolvendo-se como um espaço para inovação e experimentação e oferecendo novas leituras sobre a relação entre a cidade, a criação artística, a comunidade e, naturalmente, a sustentabilidade ambiental.
Por isso mesmo, o Bairro C enquadra-se na estratégia de Guimarães 2030 e integra o programa NetZeroCities, sendo a área urbana piloto de Guimarães a adotar estratégias rumo à neutralidade climática – sempre em estreita parceria com a comunidade local. A adesão dos cidadãos à meta Carbono Zero é tida como essencial para o sucesso das iniciativas associadas, nomeadamente a promoção da utilização do transporte público, da eficiência energética e da produção local de energia renovável – particularmente em edifícios históricos –, e de estratégias de economia circular.
Iniciativas sustentáveis em Guimarães
Outras iniciativas sustentáveis em Guimarães incluem a gestão eficiente dos recursos hídricos, com projetos que reutilizam água das piscinas municipais para a lavagem de ruas e a instalação de estações de água pública. A cidade também tem vindo a aumentar a sua cobertura arbórea, com um gabinete dedicado à gestão de arvoredo que visa melhorar a qualidade do ar e regular o clima, com destaque para os jardins e espaços verdes de Guimarães. Neste ponto, refira-se que o Jardim do Monte Latito e o Parque da Cidade foram recentemente reconhecidos com os Green Flag Awards, um galardão internacional que premeia a gestão e as boas práticas de parques e jardins de todo o mundo. De resto, Guimarães também implementou a estratégia RRRCICLO – que visa promover a redução, reutilização e reciclagem de resíduos – e o sistema PAYT (Pay As You Throw) – que incentiva os cidadãos a pagarem consoante a quantidade de resíduos que produzem –, com o objetivo de incentivar práticas de economia circular.
Com todas estas ações, a cidade já demonstrou que é possível conciliar crescimento económico com proteção ambiental, alcançando uma redução significativa da pegada de carbono e melhorando a qualidade de vida dos cidadãos. Além disso, a implementação de sistemas de compostagem e a promoção de eventos de limpeza de espaços públicos têm envolvido a comunidade, criando uma maior consciência sobre a importância da preservação do meio ambiente.
Educação e Inovação
O município investe, igualmente, em educação ambiental através do Laboratório da Paisagem e do programa PEGADAS, que visam sensibilizar a população para questões ambientais e fomentar comportamentos mais sustentáveis. Este tipo de iniciativas não só educa os jovens sobre a importância da sustentabilidade, mas também envolve as escolas na execução de projetos práticos que promovem a educação ambiental de forma lúdica e interativa. Além disso, Guimarães participa ativamente em várias missões europeias, como as dos Oceanos, Solos e Alterações Climáticas, o que demonstra o seu empenho em colaborar com outras cidades e regiões nestas áreas e permite, ainda, o acesso a financiamento e a troca de experiências e de boas práticas, ampliando a capacidade de Guimarães na implementação de mudanças significativas.
Reconhecimento Internacional na última década
A cidade vimaranense tem vindo a apresentar um trabalho sólido, desenvolvido nos últimos dez anos. Ao longo deste período, Guimarães tem sido ativa na implementação do “European Green Deal”, é signatária do “Green City Accord” e recebeu o “Mission Label” da Comissão Europeia no âmbito da EU Mission: Climate-Neutral and Smart Cities. Este reconhecimento internacional é um reflexo do compromisso contínuo da cidade na adoção de soluções inovadoras e práticas sustentáveis. Através de uma abordagem colaborativa, o município tem procurado não só cumprir as exigências legais e normativas, mas também ir mais além, criando um ambiente onde a inovação é incentivada e a sustentabilidade é tratada como um valor fundamental.
Visão de futuro
A autarquia tem a firme intenção de continuar este caminho, consolidando os progressos e assegurando um futuro sustentável para as próximas gerações. Para Sofia Ferreira, a visão é clara: “Queremos que Guimarães se torne uma cidade ainda mais verde, justa e resiliente. O envolvimento de todos é essencial para que possamos continuar a implementar políticas que beneficiem a nossa comunidade e o nosso planeta”.
Em suma, Guimarães está a liderar o caminho para a sustentabilidade através de iniciativas concretas e da mobilização da sua comunidade. Exemplos como o Pacto Climático e o Bairro C demonstram um modelo de desenvolvimento urbano que coloca a proteção ambiental no centro da sua estratégia. O compromisso da cidade com a neutralidade climática é um exemplo a ser seguido, evidenciando que o futuro urbano pode ser moldado de forma responsável e sustentável. A jornada de Guimarães não é apenas uma resposta às exigências climáticas contemporâneas, mas também um legado para as futuras gerações, provando que a mudança é possível quando há vontade, colaboração e visão.
Recorde-se que com todos estes esforços, Guimarães encontra-se na shortlist para o título de Capital Verde Europeia 2026, o que não só reconhece o trabalho árduo realizado nos últimos anos, mas também representa uma oportunidade de inspirar outras cidades na luta contra as alterações climáticas e na construção de um futuro mais sustentável para todos.