A consolidação e contínuo reconhecimento do ensino superior politécnico resultam de um trabalho louvável das instituições ao longo dos anos, reforçando o seu papel como vetor de desenvolvimento dos territórios, através do ensino, da investigação e da transferência do conhecimento. A criação de instituições de ensino superior, em especial do subsistema politécnico, permitiu que Portugal se aproximasse da média europeia de pessoas com qualificação superior. A criação e a sua disseminação pelo território possibilitaram ainda o cumprimento de dois desideratos essenciais para o país, o da promoção da coesão territorial e o do alargamento e democratização do acesso ao ensino superior e, assim dar um contributo fundamental para a democracia e cumprimento dos preceitos saídos do 25 de abril de 1974. A outorga do grau de doutor e a alteração da denominação para Universidades Politécnicas representam árduas conquistas e refletem a crescente importância do ensino politécnico no sistema de ensino superior em Portugal e dos seus contributos para a afirmação do país no espaço europeu e mundial do ensino superior. Tais conquistas não afastam o ensino politécnico da sua matriz originária, ou seja, formação com maior pendor vocacional e profissionalizante, uma investigação aplicada, pelo que acreditamos que a manutenção deste sistema é o que melhor responde às necessidades do país e a jovens e adultos com perfis e interesses vocacionais distintos.
Aqui chegados, importa sublinhar um conjunto de desafios a que temos a responsabilidade de responder. Nos últimos anos, as instituições de ensino superior têm assumido e liderado projetos em domínios como a promoção do sucesso académico e o combate ao abandono escolar, a inovação pedagógica, a promoção da saúde e da saúde mental. Uma das principais medidas para combater o abandono escolar, reconhecidamente, é o aumento do número de camas para estudantes deslocados, problema agudizado pelo aumento considerável de preço dos alojamentos nos últimos anos. O Plano Nacional de Alojamento do Ensino Superior (PNAES), lançado pelo anterior Governo, prevê o reforço da oferta com mais 18 mil camas até 2026, uma meta importante. Os Politécnicos estão a apostar na construção de novos alojamentos, na requalificação e alargamento da oferta já existentes, mas estamos igualmente a trabalhar com o atual Executivo para encontrar mais soluções para o curto prazo, sublinhando a importância de aceleração na execução do PNAES. É imperioso, também, integrar mais e melhor os estudantes com necessidades específicas e criar todas as condições para que mais estudantes ingressem no ensino superior, esbatendo os fatores de desigualdade, uma vez que as condições socioeconómicas estão intrinsecamente ligadas às condições de acesso ao Ensino Superior e à instituição em que os estudantes ficam colocados. Temos de privilegiar e potenciar medidas que equilibrem os pratos da balança e possibilitem termos um Ensino Superior mais robusto e dotado de meios humanos, materiais e financeiros para cumprir e aprofundar o que tem já feito e contribuído para o progresso e coesão social e territorial, para o desenvolvimento económico, cultural e científico e para a afirmação de Portugal no contexto europeu e mundial do ensino superior.
Maria José Fernandes, Presidente do CCISP