: 24 de Outubro, 2025 Redação:: Comentários: 0

Ao longo dos últimos 35 anos, temos assistido em Portugal a uma transformação da Ferrovia Portuguesa, por vezes lenta e sem regularidade, com resultados que não são totalmente evidentes para o cidadão comum.

Quem, como nós, teve o privilégio de participar activamente nesta aventura desde o seu início, facilmente encontra um paralelo curioso entre esta transformação da Infraestrutura Ferroviária Portuguesa (e da ferrovia em geral) e a teoria da Hierarquia das Necessidades, introduzida por Maslow em 1943. Assim, no início desta transformação, entre 1990 e os primeiros anos do século XXI, revolucionou-se o controlo da circulação ferroviária com a introdução de novas tecnologias electrónicas, dando-se ênfase à segurança da exploração, introduzindo-se já alguns serviços orientados ao passageiro. Era a fase da satisfação das necessidades básicas do transporte ferroviário. Nos anos que se seguiram, aproximadamente entre 2005 e 2018, e apesar da crise financeira que se verificou em Portugal, a transformação continuou ainda que a ritmo mais lento, iniciando-se uma nova fase.

Esta segunda fase, patamar das necessidades de segurança, traduziu-se na ferrovia, pela expansão e reforço dos serviços de segurança e conforto dedicados ao passageiro, da informação e da segurança física. Ao mesmo tempo, procedia-se a uma reorganização da estrutura e conceitos de gestão da rede com a introdução dos Centros de Controlo Operacional (CCOs) com foco na eficiência e segurança.

Na terceira fase, das necessidades de relacionamento, de 2019 aos dias de hoje, deu-se a introdução do standard europeu de interoperabilidade, ERTMS/ETCS – European Rail Traffic Management System/European Train Control System. Nasceu assim a possibilidade de haver relações com as redes vizinhas, circulações ferroviárias transfronteiriças e a coexistência dos novos sistemas interoperáveis com os antigos sistemas em fase de substituição, pela introdução dos módulos de interoperabilidade designados STM. Foi ainda nesta fase que se começou a substituir alguns dos equipamentos instalados na década de 90, para acompanhar a evolução tecnológica e os novos standards ferroviários.

Os patamares superiores da pirâmide de Maslow aplicada à ferrovia estão em vias de acontecer e desde já destacamos o há tanto tempo esperado projecto da Linha de Alta Velocidade. Outros exemplos do futuro que se aproxima passam pela introdução da cibersegurança em todos os novos sistemas, por novos conceitos de gestão inteligente de circulação nos Centros de Comando Operacionais, CCOs, pela gestão de circulação com foco na eficiência energética, pela monitorização em tempo real e pela análise preditiva do comportamento dos equipamentos de terreno, pelo uso intensivo de drones na monitorização da infraestrutura e pela não menos importante digitalização de processos. Adicionalmente, a utilização crescente da Internet das Coisas (IoT) e das ferramentas de Inteligência Artificial (IA) e Big Data fornecerão uma visão mais profunda e elaborada de todo o sistema de transportes, permitindo que as equipas dediquem as capacidades únicas do ser humano, a explorar estas tecnologias para analisar, optimizar e criar novos serviços para os passageiros e novos conceitos de mobilidade.

Ao longo desta épica viagem, a actual equipa da Hitachi Rail Portugal, tem tido sempre o papel do pioneiro em cada uma das fases de desenvolvimento da Ferrovia Nacional. Mas além de ser pioneira em todos os domínios tecnológicos apresentados, a Hitachi também foi única na constituição em Portugal, desde o início desta aventura, de equipas locais de engenharia, para as quais assegurou a transferência de know-how. Desde o início desta aventura que tem sido nosso foco a criação de valor e competências locais, mais do que a simples transação de tecnologias. Com essas competências alargámos horizontes, partimos para a exportação e contribuímos para a economia nacional.

No entanto, nós e toda a fileira ferroviária nacional, poderíamos contribuir ainda mais para o crescimento económico do País se o primado do preço mais baixo não continuasse a ser um travão que não serve os Clientes, não serve as Empresas e sobretudo, atrasa o desenvolvimento do País. Não serve os Clientes porque admitir que o preço mais baixo e sem limites é a melhor opção de escolha, é “tapar o sol com a peneira”. Mais cedo ou mais tarde, de uma maneira ou de outra, paga-se, quer na fase de investimento, quer na fase de exploração e manutenção.

Quem é mal pago, trabalha mal.

Fará algum sentido admitir que para um Preço Base definido e calculado de modo sério e profissional pelos técnicos e administrações das entidades contratantes, apareça uma entidade com “superpoderes” a propor 50% deste valor ou, por absurdo, candidatar-se a ter a pontuação máxima com um preço zero? Seguramente não faz.

Não serve as empresas, porque não lhes permite libertar meios para investir no seu desenvolvimento tecnológico local, na inovação, na retenção de talentos ou na criação de condições equilibradas de contratação. Promove-se assim a incerteza e a precariedade do emprego e de toda a cadeia de fornecedores e subfornecedores, esmagados pela pressão do preço. Torna-se evidente que esta lógica, trava o crescimento de todo o sector e limita os benefícios para o País, que de outro modo poderiam ser obtidos em duas frentes: pela modernidade das novas infraestruturas criadas e respectivos serviços para os utentes e pelo impacto positivo na saúde das empresas envolvidas, com reflexo directo na economia do país.

Convidaríamos a que se olhe para os modelos de contratação e avaliação do preço que outros países aplicam nos investimentos Ferroviários. Apesar destas condicionantes e porque é nosso propósito manter o papel de liderança na transformação da Rede Ferroviária Portuguesa, vemos a recente integração num grande Grupo industrial como é a Hitachi, como uma alavanca para melhor servir a ferrovia, tirando partido do alargado portfolio do Grupo, que, desta forma nos coloca numa posição de destaque único no cenário ferroviário global. Contribuir para a sociedade através do desenvolvimento de tecnologia e produtos superiores e originais é a missão que o fundador, Namihei Odaira, originalmente estabeleceu para a Hitachi, e que tem sido cuidadosamente transmitida e alimentada ao longo da história da empresa. Na Hitachi Rail, os nossos produtos são concebidos para tornar a mobilidade sustentável uma realidade em todas as áreas do setor ferroviário global. Temos, em Portugal, um campo de oportunidades para a concretização desta missão, tirando partido das capacidades industriais que a Hitachi Rail nos aporta para continuar a participar na evolução da rede nacional.

Agora, integrados no Grupo Hitachi, mas tal como anteriormente, continuaremos a agir com integridade e transparência em tudo o que dizemos e fazemos, demonstração da nossa sinceridade e dos valores que afirmamos. Mantemos a justiça em todas as nossas relações.

A nossa reputação consolida-se pela forma como conduzimos os nossos negócios.