: 27 de Junho, 2025 Redação:: Comentários: 0

Nas últimas décadas, a engenharia – tradicionalmente um domínio masculino – tem vindo a transformar–se de forma profunda. Hoje, as mulheres têm vindo a ocupar, com determinação, o seu espaço, demonstrando talento, competência e criatividade para revolucionar uma área que, até recentemente, parecia reservada exclusivamente aos homens. Apesar dos progressos notáveis, persistem desafios que exigem uma revisão das mentalidades e a desconstrução de estruturas enraizadas há várias décadas.

Em Portugal, à semelhança de outros países, o número de mulheres que ingressam em cursos de Engenharia tem vindo a aumentar. Contudo, a tão almejada paridade ainda se revela distante: dados da Ordem dos Engenheiros indicam que apenas 22% dos profissionais, são mulheres. Apesar do crescimento do contingente feminino nos cursos, a sua representação em cargos de liderança e em áreas técnicas especializadas permanece limitada, reflexo de um legado cultural que historicamente associou a engenharia a traços masculinos. Por vezes, as engenheiras veem-se na obrigação de provar repetidamente o seu valor, o que, paradoxalmente, acaba por reforçar a sua competência, credibilidade e resiliência.

Desde tenra idade, o sistema educativo molda as meninas para assumirem papéis tradicionalmente ligados ao cuidado e à educação, perpetuando a ideia de que o apoio familiar é uma responsabilidade exclusivamente feminina. A ausência de modelos inspiradores na área técnica, desencoraja muitas futuras profissionais a explorar esta carreira na Engenharia. Felizmente, iniciativas como o projeto “Engenheiras por um Dia”, desenvolvido em escolas do ensino básico e secundário, têm vindo a romper estes estereótipos. A Ordem dos Engenheiros, através de diversas ações e programas de mentoria, reforça o incentivo às jovens, mostrando que a engenharia é uma vocação legítima e indispensável para a sociedade.

A diversidade de perspetivas que resulta da inclusão de mulheres nas equipas de trabalho, não só contribui para a justiça social, como também é um motor de inovação. Vários estudos demonstram que grupos heterogéneos enfrentam desafios com maior eficácia, enriquecendo o processo criativo e produzindo soluções mais abrangentes.

Em Portugal, o legado de grandes engenheiras inspira. Pioneiras como Maria Amélia Chaves, referência na Engenharia Civil com os cálculos antissísmicos e Maria de Lourdes Pintasilgo, que uniu uma sólida formação em Engenharia Químico-Industrial à liderança política, permanecem como exemplos de determinação. Hoje, profissionais como Maria da Graça Carvalho e Elvira Fortunato, entre muitas outras, mostram que a excelência feminina na engenharia é fruto de talento e perseverança.

Para o futuro, é imperativo que empresas e instituições académicas reforcem as políticas de inclusão, promovam a igualdade salarial e garantam ambientes de trabalho livres de discriminação – pois a engenharia constrói o futuro, e esse futuro deve ser partilhado por todos, independentemente do género.

Dina Dimas, Vice-Presidente Nacional da Ordem dos Engenheiros