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A cozinha italiana é um das mais apaixonantes e saborosas de todo o mundo. Foi precisamente com o objetivo de trazer os sabores de Itália ao paladar dos portugueses que há nove anos, Stefania Raiola e Giuseppe Godono abriram o La Pasta Fresca no coração de Lisboa, tal como contam em entrevista à Mais Magazine.

Giuseppe Gordono e Stefania Raiola, Proprietários do La Pasta Fresca

De que forma é que surge a paixão pela restauração?

Mais do que paixão pela restauração, falaria de desejo de voltar à comida de qualidade, aos sabores verdadeiros e tradicionais. Se por um lado a produção industrial e massiva teve a grande vantagem de reduzir os preços e torná-los acessíveis a todos, pelo outro determinou a homologação e a estandardização dos sabores, além do afastamento da natureza e da qualidade. Não tenho dúvida que um jovem possa acreditar que uma mozzarella nasce já dentro de um saco de plástico numa prateleira de supermercado. O mundo precisa de reconquistar a genuinidade que se foi perdendo ao longo dos anos. O mundo precisa de voltar a cheirar, saborear, degustar e não só alimentar-se.

Como nasceu a ideia de abrir um restaurante dedicado à cozinha italiana em Lisboa, o primeiro pastifício da cidade?

A ideia da criação do primeiro pastifício em Lisboa nasceu de uma combinação de três fatores marcantes da nossa vida, relacionados com o amor e a vertente do business. O primeiro foi o nosso amor. A nossa vida dividia-se entre Turim e Siracusa, 1600 km de distância que estavam a tornar a nossa relação muito complicada e cansativa. Queríamos ficar juntos e viver finalmente uma vida completa de casal.

O segundo foi o amor por Lisboa. Quando decidimos iniciar finalmente o nosso negócio, não tivemos nenhuma dúvida acerca do lugar. A nossa cidade de eleição era Lisboa, onde a Stefania tinha vivido já quatro anos, enquanto trabalhava para a Fiat e tinha simplesmente adorado.

O terceiro fator foi um estudo de mercado aprofundado e um plano bem estruturado. Não esquecemos que ambos somos engenheiros mecânicos e trabalhávamos em duas multinacionais. Deixar dois lugares de trabalho desta responsabilidade e importância não podia acontecer de uma forma superficial. Foi por isso que fomos direitos ao que faltava em Lisboa, a rainha das mesas italianas, a mais tradicional, genuína e verdadeira expressão da nossa cultura culinária: a massa fresca.

Quais os principais pratos que podemos encontrar no La Pasta Fresca?

Além de um pastifício, o nosso é um restaurante italiano autêntico, adjetivo este de não pouca importância. O mundo está cheio de restaurantes italianos que oferecem a cozinha italiana internacional, cozinha que um italiano não conhece ou na qual não se reconhece. Não é este o nosso caso e não é um acaso que o nosso restaurante seja frequentado também por italianos.

Como em Itália não existe o prato único, a nossa ementa consta de entradas, pasta (que em Itália é chamado Primo Piatto), algumas carnes, parmigiana de melanzane, mozzarella (que em Itália é chamado Secondo Piatto), acompanhamentos e pastelaria caseira tradicional italiana (que é muito mais ampla do que só tiramisu e pannacotta).

Como é óbvio, num restaurante que se chama “La Pasta Fresca”, a protagonista é a massa, que se pode encontrar recheada em formas e temperos diferentes, e nas receitas mais tradicionais. Uma coisa é certa: se encontrar um restaurante que vos deixa escolher a massa e o tempero de forma matricial, não é italiano. É claro que uma Amatriciana se pode preparar com rigatoni ou spaghetti, mas em Itália cada prato tem um nome e faz-se de uma forma específica. Não há invenções, nem combinações fora deste esquema.

Qual o balanço que fazem destes anos de atividade e da recetividade dos portugueses às iguarias italianas?

Inicialmente foi mais difícil do que estávamos à espera. O público português não estava tão preparado para receber a verdadeira comida italiana. Associava a comida italiana a pizza, algumas pastas confecionadas de forma impensável em Itália e alguns pratos inventados (como, por exemplo, o pão de alho).

Demoramos algum tempo para fazer perceber aos nossos clientes como era possível ter um restaurante italiano que não tivesse pizza, que a nossa carbonara não levasse nata ou ainda que em Itália não se comesse só pizza e pasta.

Nos anos sucessivos começaram a vir mais italianos e abrir mais restaurantes autênticos. Nunca vimos esta popularização da cozinha italiana em Portugal como um entrave ao nosso negócio. Aliás, sempre entendemos que isso só nos podia ajudar a difundir a cultura culinária italiana pelos portugueses, tornando, desta forma, a nossa vida mais fácil. E assim foi. Felizmente o público reconhece o que é genuíno, bom e verdadeiro. Estas são as nossas marcas e é por isso que nos escolhem e continuam a fazê-lo há nove anos.

Qual a importância de serem um dos principais responsáveis por dar a conhecer aos portugueses a comida italiana? Consideram esta uma grande responsabilidade?

Quando abrimos, o nosso objetivo era mesmo isso: dar a conhecer aos portugueses a comida italiana e, mesmo tendo enfrentado as muitas dificuldades que encontrámos, o facto de agora sermos um dos principais responsáveis para que isso aconteça, só nos enche de orgulho.

Mas é importante salientar que não somos só isso. Em Lisboa não existia, e talvez ainda não exista, um lugar onde se pudesse comprar massa fresca para cozinhar em casa, juntamente com todos os ingredientes que as nossas receitas requerem, ou um jantar completo para saborear em casa com os amigos (lasagne, cannelloni, parmigiana di melanzane, torte, entre muito mais). No nosso pastifício encontra todas estas iguarias e presenciar a verdadeira expressão da nossa italianidade.

Quais as metas para o futuro do seu restaurante?

Sempre tivemos dois sonhos: um era replicar o nosso conceito em várias zonas da cidade e o outro era desenvolver a área de negócio da venda da massa. A pandemia travou-nos bastante, mas podemos afirmar com bastante certeza de que a venda de massa para clientes, mas, sobretudo, para outros restaurantes, está a chegar a níveis recorde. Relativamente a abrir mais restaurantes, vamos aguardar pelo futuro.